O Brasil cresceu muito a participação no contexto mundial, mas a logística, principalmente nos portos, não foi preparada para esses volumes.
O mercado global de açúcar, que tem lidado com safras ruins em vários países enquanto o Brasil produz volume recorde, enfrenta déficits de oferta e de logística, já que o maior supridor mundial lida com gargalos portuários para escoar sua grande produção, disse Dimitri Varsano, co-diretor da área de açúcar da trading Sucden.
“Tem uma safra muito grande no Brasil, mas há outras safras ruins em outros lugares, Índia tem sido muito ruim, Tailândia muito ruim, México muito ruim, Estados Unidos muito ruim, então qualquer que seja a produção do Brasil, ainda teremos um déficit mundial”, disse ele à Reuters, antes do Sugar Dinner na noite de quinta-feira (26) em São Paulo.
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“E se não for um déficit de produção, tem um déficit logístico, o Brasil não pode exportar toda sua produção, vai ser o caso deste ano, e o caso para o próximo ano”, ressaltou Varsano, também integrante de uma das famílias fundadoras da trading.
Ele afirmou que os problemas logísticos no Brasil, cujos portos lotados também com exportações recordes de soja e milho resultam em esperas de vários dias para embarques em navios, são altistas para o mercado, que já precificou a situação.
Mas alertou que chuvas nos portos do Sul/Sudeste, comuns nesta época, podem interromper embarques, agravando o problema logístico.
“Com certeza são altistas (os problemas logísticos), temos falado sobre isso há algum tempo, mas agora isso está acontecendo, 35 dias de espera em Santos, e vai continuar dessa forma por algum tempo”, comentou, em referência ao principal porto de embarque do produto no Brasil.
Muitos participantes do mercado têm apontado as dificuldades logísticas do Brasil, maior produtor e exportador global de açúcar, e seu impacto nos preços globais, que atingiram máximas de 12 anos recentemente na bolsa de ICE. Contudo, alguns players acreditam que os operadores portuários vão conseguir elevar os embarques para além dos volumes estimados, dependendo das condições climáticas.
“Mas isso pode sempre ficar ruim, muito pior, se tiver chuva por algumas semanas, pode ficar pior”, acrescentou Varsano.
Preocupação geral
A questão logística foi citada por vários outros participantes do Sugar Dinner, tradicionalmente um evento bianual em São Paulo, que reuniu na última noite cerca de 800 pessoas na capital paulista, entre tradings, usineiros, representantes de bancos e corretoras.
A preocupação contrastou com avaliações positivas sobre o momento pelo qual passa o setor de açúcar no Brasil, que está se beneficiando de cotações em máximas em mais de uma década enquanto colhe uma safra recorde, algo incomum.
“A única coisa que está faltando é a logística, tudo isso que temos visto é realidade que nunca sonhamos, de ter uma safra excelente com recorde de produção de cana e de açúcar… Estamos com uma previsão de moagem na safra de 15% a 20% maior, de maneira geral, com preços excelentes, algo inédito”, disse o diretor-presidente da Alcoeste Bioenergia, Luis Antonio Arakaki.
Segundo ele, o Brasil cresceu muito a participação no contexto mundial, mas a logística, principalmente nos portos, não foi preparada para esses volumes.
“Logo mais vão entrar os grãos, que competem pelos mesmos terminais nos portos, o açúcar está atrasado, tem problema das chuvas, os portos param de operar, a única coisa que falta é infraestrutura para escoar a mega produção”, disse ele, considerando que no curto prazo pouco pode ser feito, enquanto a situação começa a melhorar somente em 2025.
Para José Sergio Ferrari Júnior, sócio da Usina Ferrari, em Pirassununga (SP), o setor precisa “entender como vai ser a logística quando começar a próxima safra de grãos”, nos primeiros meses de 2024, quando os volumes exportados de soja costumam ser maiores que os de milho, produto este embarcado mais fortemente no segundo semestre.
“Vai competir o grão com o açúcar desta e da outra safra, infelizmente no país temos essas dificuldades estruturais, um país agro que não tem uma infraestrutura para compensar o crescimento da produção” (Reuters, 27/10/23).
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