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Ao infinito e além | Assovale - Associação Rural Vale do Rio Pardo

Ao infinito e além

Nada parece interromper o mercado futuro de açúcar em NY em sua exuberante trajetória de alta.

Por: Arnaldo Luiz Corrêa

As conversas e o clima predominante na Conferência de Dubai, encerrada na quinta-feira, segundo respeitáveis analistas, era de incontida euforia. Já estão até traçando os possíveis novos patamares de negociação do açúcar para os próximos anos. 24 centavos? 28 centavos? O céu parece ser o limite. Se isso acontecer -- sem o acompanhamento de alguma incontestável mudança no cenário fundamentalista, que não parece ser o caso no momento -- este escriba ficará com cara de tacho, como diria minha falecida avó. Nunca soube exatamente o que é "ficar com cara de tacho", mas pode ser que eu descubra isso brevemente.

A entrega física de março não teve nenhum sobressalto. Foram 586,000 toneladas enquanto o spread março/maio se despedia com 201 pontos, ou seja, o março/23 valendo 44 dólares por tonelada a mais do que o maio/23. O contrato com vencimento para maio/23 -- agora o primeiro mês de negociação -- encerrou a semana negociando a 20.93 centavos de dólar por libra-peso, uma valorização de 126 pontos comparativamente à semana anterior. Os demais vencimentos subiram em média 83 pontos (nos açúcares da safra 23/24 do Centro-Sul), caindo pela metade na safra seguinte. Na média, pelo fechamento, a safra 23/24 vale 220 pontos mais do que a 24/25, dessa diferença 85-100 pontos correspondem à curva do dólar, via NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, oferecido pelos bancos.

Olhando o mercado de açúcar desapaixonadamente, se pegarmos a cotação de fechamento do primeiro mês negociado na bolsa de NY, observamos que o preço mais alto transacionado (em centavos de dólar por libra-peso) ocorreu em fevereiro de 2011: 36.08 centavos de dólar por libra-peso. Vale registrar que o dólar naquele momento estava cotado a R$ 1.6881 -- menos de 1/3 do valor de hoje. Por outro lado, a mais alta cotação que o açúcar de NY negociou convertida em reais por tonelada e devidamente corrigida pela inflação foi de R$ 3.354,40 e ocorreu cinco anos antes, em fevereiro de 2006 quando NY bateu 19.73 centavos de dólar por libra-peso. A relevância para a usina, percebe-se, está na cotação traduzida em reais por tonelada, pois uma parcela significativa do custo de produção do açúcar é em reais.

Agora, analisemos as circunstâncias de ambos os eventos: um em 2006 e o outro em 2011. Em fevereiro de 2006, o Brasil acabara de produzir (safra 2005/2006) pouco mais de 22 milhões de toneladas de açúcar, a cotação de 19.73 (vencimento março/06) foi a maior vista em 25 anos já que a maior alta anterior ocorrera em 18 de março de 1981: 21.10 centavos de dólar por libra-peso. Um quarto de século depois, o mercado estava radiante quando quase bateu 20 centavos naquele fevereiro de 2006. Sete meses depois, no entanto, NY negociava a inacreditáveis 9.70 centavos de dólar por libra-peso, uma queda acima de 50%. Subiu muito fácil, caiu muito rápido. Pode-se culpar a safra brasileira seguinte (2006/2007) que produzia quase 20% a mais de açúcar do que a anterior além de um melhor rendimento.

Em fevereiro de 2011 (final da safra 2010/2011) a perspectiva da nova safra que se aproximava era bem ruim, o que acabou se concretizando com uma produção de cana 11% menor e uma redução em 2.5% na produtividade. O mercado se antecipou a essa visão e se cobriu o quanto podia. A Índia também teve uma safra (2009/2010) decepcionante. Os consumidores industriais, como agora, foram pegos de surpresa e o mercado saiu do controle e se manteve acima dos 20 centavos de dólar por libra-peso até maio/2012 com a entrada da safra 2012/2013 produzindo 7% mais cana e 9% mais açúcar.

Em commodities preços altos levam ao aumento da produção que acabam provocando preços baixos. O ciclo é esse. Ainda em 2011, o petróleo Brent negociava acima de 104 dólares por barril, 39% acima do nível negociado um ano antes. Embora nessa época não havia sido instituída a paridade de preços internacionais pela Petrobras, a demanda por etanol na exportação fez o preço negociar a 700 dólares por metro cúbico se aproximando de 940 dólares por metro cúbico um ano depois.

Em 2006 não era assim. O petróleo negociava a 60 dólares por barril. E embora o açúcar negociasse perto de 20 centavos de dólar por libra-peso, o desconto no mercado de exportação era de 80 pontos. Puro castelo de areia. 2011 era muito consistente. E hoje?

Bem, hoje, o mercado se ampara no fato de que há sim a percepção que vai faltar açúcar, mas quando chegamos ao volume de um improvável déficit, é factível que o Brasil sozinho seja capaz de prover açúcar para zerar esse déficit. Também reforça o argumento dos altistas de plantão que os consumidores finais perderam o timing, aguardaram os preços caírem convencidos de que a boa safra de açúcar proveniente do Centro-Sul (pelo menos 37 milhões de toneladas) colocaria alguma pressão no mercado. Só que -- como me disse um executivo -- o estoque dessa gente estava acabando mais depressa do que a capacidade deles de reposição.

Junte a isso os fundos cavaleiros com uma posição comprada exitosa, cujo volume ainda não se sabe graças aos problemas de hacker em uma plataforma de comercialização e as usinas que estão fixadas até o topo, pronto! Os altistas se divertem. Vamos ver no que isso vai dar. Mas lembre-se o petróleo está com viés de baixa.

Após a alta de 2006, o desempenho do mercado foi desastroso. Demorou 42 meses para se recuperar da queda que se seguiu. 2011 foi mais consistente e os preços permaneceram remuneradores por mais de 24 meses. Em 2010 o preço médio mensal mais alto ocorreu em dezembro e o preço mais alto do ano seguinte ocorreu em janeiro. 2023 está com cara de 2022. A conferir.

A incompetência de Lula está mais rapidamente visível do que nos seus governos anteriores. Essa "petezada" é vanguardista no quesito ignorância e atraso. Reclamam do presidente Banco Central do Brasil (único no mundo a se antecipar e segurar a inflação), reclamam do lucro da Petrobras, reclamam do PIB de 2.9%. E essa presidente do Partidos dos Trabalhadores, fantoche do Lula, dona de uma arrogância e insolência pestilenta que só os verdadeiramente idiotas possuem. Essa caterva tem instrumentos para quebrar qualquer setor. Melhor se precaver.

Arnaldo Luiz Corrêa

Gerente de Riscos do mercado de commodities agrícolas, diretor da Archer Consulting e graduado em Administração com MBA em Gestão Empresarial pela FGV.

Fonte: Archer Consulting

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