A reoneração dos combustíveis, ainda que não se dê da mesma forma como era antes das mudanças definidas no governo Bolsonaro, já deve oferecer algum benefício para o etanol hidratado em sua competição com a gasolina. Em compensação, a vantagem pode ficar sob risco se a Petrobras, cujo conselho se reúne hoje, baixar a gasolina A.
"Com certeza [a reoneração] tende a ser boa para o etanol. Com o retorno da desoneração, esperamos que volte a ter um incentivo econômico paro consumidor abastecer com etanol", disse Nicolle Monteiro de Castro, especialista sênior da S&P Global.
Desde que o governo Bolsonaro decidiu eliminar a cobrança de PIS/Cofins e Cide sobre os combustíveis do ciclo Otto (etanol e gasolina automotiva), o etanol perdeu a vantagem que tinha, já que suas alíquotas sempre foram menores. Na prática, isso se traduziu em redução de participação de mercado e aumento das emissões de gases-estufa.
As vendas de etanol hidratado realizadas pelas distribuidoras caíram 7,5% em 2022 no país (para 15,5 bilhões de litros), enquanto as vendas de gasolina C, nas bombas, subiram 9,5% (para 43 bilhões de litros), conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Como o governo Lula decidiu manter a desoneração neste primeiro bimestre, a divergência se manteve. Dados da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) mostram que as usinas do Centro-Sul elevaram mais suas vendas de etanol anidro (aditivo a gasolina) do que as de hidratado no país. De 1 de janeiro a 16 de fevereiro, a comercialização do anidro subiu 18% (para 1,5 bilhão de litros), enquanto a do hidratado cresceu 5% (a 1,6 bilhão de litros).
O setor ainda espera uma definição da nova alíquota para se posicionar sobre reoneração.
No ano anterior, foi a quebra na safra de cana que dificultou a competitividade do etanol. Como resultado, em dois anos seguidos de dificuldades, o renovável perdeu 6 pontos percentuais de participação no ciclo Otto, caindo de 45% para 39%, observou o BTG.
Neste período, os motoristas trocaram 4,2 bilhões de litros de etanol por 3,1 bilhões de litros de gasolina, o que resultou em uma emissão de adicional de 3,7 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente, segundo o banco.
Para 2023, o clima deve favorecer a oferta de etanol. A Datagro estima que a produção do Centro-Sul cresça 1,5 bilhão de litros na safra 2023/24, para 31 bilhões de litros. Segundo Plinio Nastari, presidente da consultoria, essa alta atenderia ao avanço de 3,2% do consumo do ciclo Otto esperado para 2023. "Como esse crescimento vai se distribuir entre a gasolina C e o hidratado, depende da competitividade."
Seu receio é que a Petrobras atue para "compensar" o efeito tributário. Isso já poderia ser feito sem mudar a política de paridade internacional, já que a gasolina A já está 5,1% acima da paridade, alertou Nastari. Como a Petrobras vem praticando desconto em média de 8% sobre a paridade internacional, haveria espaço para baixar em 13,1% o preço da gasolina A. Enquanto o fim da desoneração aproximaria o preço do etanol na bomba dos 70% de paridade ante a gasolina, eventual ajuste da Petrobras retornaria a correlação para perto dos 74%, vistos atualmente em São Paulo.
Fonte: Valor Econômico
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