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CLIMA VAI LIMITAR A RECUPERAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CANA | Assovale - Associação Rural Vale do Rio Pardo

CLIMA VAI LIMITAR A RECUPERAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CANA

Previsões são de chuvas novamente abaixo da média nos próximos três meses, justamente o período mais crítico de desenvolvimento dos canaviais


O Centro-Sul está prestes a começar a moagem de uma safra de cana com grandes incertezas sobre os mercados de commodities, energia e fertilizantes, mas já com a garantia de que o clima será menos amigável que o esperado. Isso deve dificultar o trabalho de recuperação das perdas da safra que termina neste mês.

O mercado já tinha a percepção de que a moagem de cana do novo ciclo seria ainda de alguma forma impactada pelos eventos climáticos extremos (seca histórica, geadas consecutivas e incêndios) de 2021/22. Agora, somam-se previsões de chuvas novamente abaixo da média nos próximos três meses, justamente o período mais crítico de desenvolvimento dos canaviais.

A previsão da consultoria Datagro, divulgada hoje (9/3), indica que a moagem do Centro-Sul deverá ser de 562 milhões de toneladas, um aumento de 7%. Mas a consultoria já deixou a porta aberta para revisões para baixo na projeção, dada a incerteza com o clima. Em outra estimativa, também de ontem, a StoneX previu moagem um pouco maior, de 565,3 milhões de toneladas.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indica que várias regiões produtoras do Centro-Sul deverão ter chuvas abaixo da média, sobretudo em áreas de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais em abril e maio. Mesmo em junho e julho, quando as chuvas costumam diminuir, as previsões indicam nível de precipitações bem menor que as médias em algumas regiões.

Nas últimas semanas, algumas microrregiões, como os arredores de Piracicaba e São José do Rio Preto, já estão recebendo menos precipitações que o usual.

E os efeitos das intempéries de 2021 seguem refletindo no desenvolvimento dos canaviais. "Temos uma situação bastante heterogênea, mas muito impactada por atraso no desenvolvimento fisiológico, falhas de brotação e infestação de mato e praga, principalmente broca e cigarrinha. Não é uma situação fácil", disse Plinio Nastari, presidente da Datagro em evento de abertura da safra de cana promovido ontem pela consultoria em Ribeirão Preto.

Outro fator negativo é a redução de área de colheita. A Datagro ainda considera uma diminuição de 1,2% na área, que deverá ser perdida para os cereais, sobretudo soja. Há ainda o fator de reforma dos canaviais, que neste ano deverá ser maior para recuperar áreas afetadas pelas intempéries do ano passado. A consultoria estima que 15,7% da área de cultivo deverá ser dedicada ao replantio de cana, contra 15,1% na safra atual.

A previsão ainda é de aumento da produção de açúcar e etanol em comparação com o ciclo 2021/22, mas com a limitação da oferta de matéria-prima e também do rendimento nas usinas. O teor de sacarose na cana deve cair 3,4%, para 138 quilos por tonelada processada, de acordo com a Datagro.

Com isso, a consultoria estima que a produção de açúcar do Centro-Sul deverá aumentar 2,8%, para 33 milhões de toneladas --- o mesmo volume esperado para a Índia na safra atual. A projeção da StoneX para o Brasil é de 34 milhões de toneladas.

A produção de etanol, por sua vez, deverá aumentar, mas por causa do processamento de milho. A Datagro prevê 29,8 bilhões de litro do biocombustível no Centro-Sul, quase o mesmo volume estimado pela StoneX.

Mas as incertezas também rondam o cenário para o mix de produção. Hoje o açúcar oferece às usinas uma remuneração maior que o etanol hidratado, equivalente a uma diferença de 2,41 centavos de dólar por libra-peso. O quadro poderia se inverter se a Petrobras repassasse a alta do petróleo aos preços da gasolina, mas não é essa a sinalização do governo.

Segundo Nastari, se a Petrobras zerasse a defasagem em relação aos preços externos, o etanol hidratado subiria a um preço equivalente 22 centavos de dólar a libra-peso em açúcar --- acima dos 18,92 centavos de dólar de fechamento do açúcar ontem na bolsa de Nova York.

Já no cenário para os preços do açúcar, os traders veem mais garantia de suporte, dados os fundamentos do mercado. Para Mauricio Sacramento, diretor da trading chinesa Cofco, como o mundo está no terceiro ano de déficit de oferta, os consumidores estão recorrendo aos estoques, que agora estão em níveis baixos. Mesmo a Índia, que terá um excedente exportável maior, só deverá embarcar quando os preços ficarem acima de 19 centavos de dólar a libra-peso, disse Jeremy Austin, diretor da trading francesa Sucden.


Fonte: Valor Econômico

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