A ocorrência de incêndios em canaviais paulistas disparou nos primeiros dias de setembro, o que ligou o alerta entre as usinas para os danos que podem afetar a próxima safra (2022/23), além dos prejuízos que já vão se refletir nesta temporada (2021/22). Nos primeiros nove dias deste mês, ocorreram 920 focos em lavouras de cana no Estado, número 47% maior que os 624 do mesmo intervalo de setembro de 2020, conforme levantamento da consultoria Datagro com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Em agosto, a situação estava mais controlada: foram 1.111 focos em canaviais no Estado, metade dos 2.277 registrados em agosto do ano passado. Naquele mês, queimadas atingiram 1.034 hectares de cana em São Paulo, de acordo com dados da Polícia Militar Ambiental. O número de agosto deste ano ainda não foi consolidado.
Em geral, esses incêndios não foram causados pelos produtores, já que, em São Paulo, quase todas as usinas fazem a colheita com máquinas, sem necessidade do uso do fogo. Os incêndios estão se espalhando mais facilmente por causa da seca, afirma Plinio Nastari, presidente da Datagro. Ele suspeita ainda de casos criminosos.
As geadas ocorridas no inverno também ajudaram a fragilizar o canavial, afirmou Bernardo Biagi, dono das usinas Batatais e Cevasa. No último dia 9, a Cevasa registrou um incêndio de grandes proporções, com chamas de 80 metros de altura que se aproximaram da indústria e da área urbana de Patrocínio Paulista (SP). "Aqui foram cinco dias de geada. Já estava tudo queimado: cana, mato, várzea, pasto. Não tem onde o fogo parar. O fogo até pulou rio", disse.
O incêndio na Cevasa não deixou vítimas na usina nem afetou a indústria. Já os danos à área agrícola estão sendo calculados. Segundo Biagi, o fogo atingiu uma parcela dos canaviais que ainda seriam colhidos (havia 20% para colher nesta safra) e áreas já colhidas que estavam rebrotando, além de áreas de renovação de plantio.
A situação da Cevasa é a de muitas outras usinas atingidas pelo fogo. Para a safra atual, o impacto é a desorganização do cronograma de colheita, já que a cana queimada precisa ter a colheita antecipada para até quatro dias, mesmo que ainda esteja se desenvolvendo, segundo Biagi.
A geada em canaviais também tem esse efeito, e muitas usinas já vinham enfrentando o problema depois que foram afetadas pelas massas de ar frio em julho e agosto. No caso da Cevasa, Biagi diz que há "muita cana" queimada agora pelo fogo e que não conseguirá colher tudo a tempo.
Danos para a próxima safra também são tidos como certos. Segundo Nastari, o fogo em lavouras já colhidas "gera falha de brotação e atrasa o desenvolvimento fisiológico" para a safra seguinte, e em alguns casos pode comprometer o desenvolvimento que já tinha ocorrido. Também há incêndios em áreas de plantio de cana por meiosi - em que se planta uma linha-mãe, replicada para as linhas paralelas, e que deveriam garantir colheita por ao menos seis safras.
O fogo e a seca inviabilizam o plantio da cana que ocorreria nos próximos meses, para colheita daqui um ano. "Sem umidade no solo, não dá", disse Nastari.
Também há registros de incêndios em canaviais de fora de São Paulo, mas os dados do levantamento da Datagro até o momento mostram menos ocorrências do que em 2020. No total de Centro-Sul, houve 7% menos incêndios em agosto deste ano e 52% menos ocorrências nos primeiros nove dias de setembro.
Fonte: Valor Econômico
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