O futuro do etanol, enquanto provedor mais robusto da oferta, baseada em produtividade da matéria-prima, está associado à cana energia. Aliás, não só biocombustível, mas a cogeração de energia também.
E poderá alterar de vez o balanço da matriz energética brasileira, com implicações na economia sustentável, daí que o cientista Gonçalo Pereira, da Unicamp, usa a expressão “o petróleo da bioeconomia”.
Ao contrário da cana-de-açúcar convencional, a cana energia possui mais fibra, cresce mais – pode alcançar até seis metros -, portanto oferece mais biomassa para processamento do etanol, contra a maior dose de sacarose da outra, mais propensa à produção de açúcar.
É dessa cana que o etanol de segunda geração, o 2G, vai alavancar sob maior produtividade, menores custos, aumento da oferta no mercado mesmo nas entressafras e, por indução, preços mais baixos e ganho exponencial de consumo.
Essa matéria-prima já existe, é a Vertix, da GranBio, que também foi pioneira na produção do 2G na sua unidade alagoana. Mas os desafios ainda são muitos, tanto quanto a cana convencional igualmente desafia a ciência no conhecimento de sua estrutura molecular, apesar de sua longeva exploração.
Da equipe do Laboratório de Genômica e Bioenergia (LGE), da Unicamp, agora se descobriu que a cana energia cresce mais porque “trabalha” a noite também, enquanto a velha cana-de-açúcar prefere o dia.
Esta é a base do trabalho publicado na Science Direct, produzido por várias cabeças do LGE, mas sob a liderança do doutorando Luís Guilherme Furlan de Abreu.
De acordo com mensuração do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), do qual Gonçalo Pereira foi diretor, essa planta gigante poder alcançar 170 toneladas por hectare – enquanto a chamada cana-de-açúcar de três dígitos é muito pontual no Centro-Sul -, e oferecer a moagem de 27% em fibras (15 a 17% da outra).
Para tudo isso, o pessoal da Unicamp do LGE, coordenado por Pereira, registrou que após 10 dias do plantio, a cana energia alcança a brotação acima de 14 cm, mais de três vezes que a cana comum, além do desenvolvimento radicular, após 50 dias, bem acima, embora seu pegamento fisiológico começa pelas partes aéreas.
Os paradigmas levantados pelo pesquisador Furlan de Abreu, sob orientação de Camila Cunha e coorientação de Carolina Grassi, igualmente contaram com as parcerias acadêmicas de Lucas Miguel (bioinformática) e Jovanderson Jackson (medição das curvas de crescimento noturno).
Além da participação extra-academia de José Bressiani, o diretor técnico da GranBio, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da Vertix, empresa que Gonçalo Pereira ajudou a fundar e por lá ficou alguns anos como CSO (chief scientific officer).
Fonte: Money Times
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