Canaviais com ataque de geada representam riscos de perdas consideráveis, que precisam ser administradas devidamente para se minimizar os prejuízos
A cana-de-açúcar cultivada entre a latitude 35°N e a 35°S, com uma larga escala de adaptação, sofre a influência das variáveis climáticas ao longo de todo o ciclo vegetativo, e as explorações agrícolas destinadas à produção de açúcar, etanol e bioenergia são muito mais exigentes em termos da distribuição de chuva e temperatura do ar.
O desenvolvimento da cana-de-açúcar está intimamente ligado à temperatura ambiente. Tauconnier e Bassereau (1975) citam que em temperatura abaixo de 25°C o crescimento da cana é lento, mas acima de 35°C este crescimento também é prejudicado, tornando-se praticamente nulo em temperaturas superiores a 38°C. Contudo, esta cultura não é muito tolerante ao frio.
Segundo Fauconier & Basserau (1970), as folhas jovens e as gemas são as partes mais sensíveis ao frio na planta de cana-de-açúcar, sofrendo efeitos danosos sempre que a temperatura cai abaixo de 0°C, por um curto período de tempo.
A extensão do dano, porém, é função:
- do tempo em que a folha fica exposta ao frio;
- da temperatura mínima atingida;
- da variedade da cultura;
- e da fase da cultura (estádio fenológico).
A morte da gema apical ocorre quando a temperatura atinge níveis entre -1ºC a -3,3ºC, enquanto as laterais morrem em torno de -6ºC, condições em que as temperaturas letais às folhas da cana-de-açúcar acham-se em torno de -2,5ºC a -5ºC (BACCHI & SOUZA, 1978; BRINHOLI, 1978).
Uma situação prática importante é que pesquisadores observaram que há uma diferença de temperatura, de 3º a 4ºC, entre o abrigo meteorológico situado a 1,5m da superfície e a relva, ao nível do solo (GRODZKI et al., 1996; Silva e Sentelhas, 2001; Sentelhas et al., 1995). Assim, quando se registra temperatura mínima, no abrigo, em torno dos 2ºC, no nível da relva os valores se aproximam de -1ºC, capazes de causar danos à cana-de-açúcar, não sendo necessário que ocorra o congelamento da água para que haja dano às partes vegetais. Como curiosidade, os solos úmidos diminuem o efeito das geadas por perderem menos calor, ocorrendo o contrário com os solos com baixo potencial de água.
No caso de geadas de forte intensidade, há morte das gemas do caule, sendo o dano mais intenso quanto maior for o número de gemas atingidas, já que a morte das gemas pode resultar em invasão por patógenos, com queda na sacarose e em sua pureza, além do aumento da acidez.
Na prática, não existem ações preventivas eficazes contra a geada em larga escala, restando apenas a análise correta após a ocorrência do fenômeno para a tomada de decisão econômica do que deve ser feito.
CONSEQUÊNCIAS
Após a geada, como a ocorrida recentemente [ao longo do mês de junho], quando é possível antecipa-se o corte com o intuito de minimizar as perdas, em termos de concentração de sacarose no colmo. Enquanto os canaviais mais jovens são deixados no campo para que novas brotações se desenvolvam em substituição aos colmos atingidos pelo frio intenso. Há situações em que a roçagem é recomendada.
Segundo o professor João Domingos Rodrigues, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), fisiologicamente a geada causa danos que são devidos à formação de gelos nos espaços intercelulares. Isto ocorre pela contração do protoplasma, o que causa a saída de parte da água para estes espaços – momento em que há o congelamento. Com isto, ocorre dessecação da célula, a qual pode morrer por forças mecânicas que atuam sobre o protoplasma e a membrana plasmática e pela precipitação de proteínas.
A parte da planta mais suscetível é a superior. Devido à intensidade do frio, os danos caminham para a parte mediana e inferior do colmo, em função de ser a superfície do solo mais quente. O primeiro ponto de injúria situa-se aproximadamente a 2,5 cm da gema apical.
Dependendo da intensidade da geada, pode ocorrer o apodrecimento das folhas centrais do “palmito”, fazendo com que este se destaque facilmente. Em consequência da morte da gema apical, ocorrem brotações das gemas laterais e a diminuição das características tecnológicas do colmo. O produtor deve utilizar o mais rápido possível a cana que sofreu geada.
MAPEAMENTO DO PROBLEMA
Segundo o engenheiro agrônomo Dib Nunes Jr., as partes afetadas adquirem, de início, uma aparência aquosa e, em pouco tempo, tornam-se focos de infecções por fungos e bactérias. Quando morre somente a gema apical, as gemas que não foram danificadas brotam e ocasionam uma cana com pontas múltiplas ou “envassouradas”. Após a geada (ao redor de 7 dias), deve-se realizar um levantamento dos danos e mapeamento do problema.
Não se deve tomar decisão de cortar os canaviais sem um preciso levantamento da situação das áreas atingidas na unidade ou na fazenda.
Como amostragem, recomenda-se:
seleção de áreas para amostragem: as áreas a serem amostradas deverão ser definidas no escritório, elegendo-se as que tenham características semelhantes (topografia, variedades, idade e época de colheita ou plantio);
pontos de amostra: deverão ser definidos de 3 a 5 pontos de amostra (de 10 canas) em cada bloco;
amostragem:
entre, pelo menos, 50 metros no talhão;
coletar aleatoriamente 10 colmos representativos do canavial (evitar brotões), cortando-os na base, mas sem despontar;
avaliar dano (morte) à gema apical (Sim ou Não) de cada colmo, amostrado conforme imagem;
avaliar dano (morte) às gemas laterais (Sim ou Não) de cada colmo amostrado; não confundir com os efeitos de pragas e florescimento;
avaliar ocorrência de brotação lateral (Sim ou Não) de cada colmo amostrado. Nas primeiras avaliações pode ser difícil visualizar ocorrência de brotação lateral em função da geada; não confundir com brotação lateral causada por ataque de pragas (broca, por exemplo) ou causada pelo florescimento;
registro das informações: anote na planilha de registros as informações referentes ao levantamento realizado. Em todos os casos deverá ser registrada a presença (SIM) ou ausência de danos (Não);
tomada de decisão:
separar as áreas sem geada, com geada leve e geada forte;
quantificar os canaviais atingidos e suas respectivas tonelagens;
monitorar as áreas atingidas, por meio de análises tecnológicas (pol, brix, açúcares redutores etc), para se iniciar a administração da cana que sofreu com a geada;
O procedimento de colheita e de operações de rebaixamento deve ser de acordo com o volume de cana mais afetado e de acordo com os levantamentos de campo.
Nas áreas com danos leves, dependendo das condições climáticas, a decisão de corte do canavial adulto pode ocorrer em 40 dias, mas nos locais onde os danos são severos, a deterioração dos colmos pode começar a ocorrer em menos de 10 dias.
As maiores preocupações estão com a cana-de-ano e com a cana-soca com menos de 12 meses (cortadas a partir de setembro). Outra preocupação é em relação à muda para o próximo ano. Estas áreas também devem ser monitoradas.
Em canaviais sem entrenós formados não há necessidade de intervenção. Nos canaviais em que a maioria dos perfilhos apresenta entrenós formados, deve-se proceder ao rebaixamento.
Os canaviais com ataque de geada representam riscos de perdas consideráveis, que precisam ser administradas para minimizar os prejuízos. Entretanto, na maioria das vezes, não se consegue evitá-los completamente.
Fonte: CanaOnline
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