Após perder espaço para o etanol no "mix" da cana nas últimas três safras do Brasil, o açúcar será importante para equilibrar a indústria sucroenergética do país em tempos de coronavírus, disse à Reuters o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Guilherme Soria Bastos Filho.
Com preços em reais fortalecidos por um dólar em máximas históricas, acima de 5,70 reais nesta sexta-feira, o adoçante ganha competitividade no exterior, e poderá amenizar os prejuízos decorrentes da acentuada queda na demanda e valores do etanol devido a medidas de isolamento implementadas para combater o Covid-19.
Soma-se a questão do câmbio o fato de as usinas estarem avançadas nas vendas antecipadas de grande parte das exportações de açúcar projetadas para safra 2020/21 em condições vantajosas, de olho em um déficit no mercado global da commodity.
"A ampliação da produção de açúcar exercerá importante papel para o equilíbrio do setor sucroalcooleiro, reduzindo os impactos da crise de consumo do etanol sobre a cadeia produtiva", afirmou Bastos Filho, ao responder perguntas da Reuters, por email.
Ele lembrou que o açúcar poderia retomar um protagonismo perdido nas últimas safras, quando foi crescente o "mix" a favor do etanol.
A produção brasileira do açúcar chegou a se enfraquecer nos últimos anos ao ponto de o país ter perdido sua condição de maior produtor global para a Índia.
"A expectativa é de que a safra seja colhida, mas com a estimativa de ampliação da produção de açúcar em detrimento do etanol", destacou o presidente da Conab, ponderando que os riscos de mercado aumentarão inevitavelmente com os impactos da pandemia do Covid-19 sobre a economia e o consumo de combustíveis.
O primeiro contrato do petróleo Brent está oscilando perto dos menores níveis desde 2002, o que tem pressionado a Petrobras a reduzir preço da gasolina, que já perdeu mais da metade do valor nas refinarias da empresa neste ano.
"Destaca-se que houve uma mudança brusca de expectativa de mercado para a temporada 2020/21, projetada inicialmente com um elevado patamar de consumo de etanol, a exemplo do que ocorreu na safra anterior, mas, desde março deste ano, se desenha um cenário com maiores limitações sobre o consumo e a rentabilidade das usinas, com a consequente redução dos investimentos no setor."
Enquanto o primeiro contrato do açúcar bruto na bolsa de Nova York oscila perto dos menores valores em 12 anos, a saca de 50 kg do açúcar cristal no porto de Santos (sem impostos) está em torno de 77 reais, cerca de 13% acima da cotação vista nesta mesma época no ano passado, segundo indicador Cepea.
O presidente da Conab citou as estimativas que indicam que a maior parte do açúcar a ser exportado pelo Brasil na temporada atual já foi negociado no mercado futuro, aproveitando os bons preços dos meses anteriores.
"Outro fator que favorece a ampliação mix do açúcar é o câmbio, já que o maior volume da produção brasileira vai para o mercado externo (ao contrário do etanol) e o atual patamar do dólar favorece as exportações", completou.
Questionado sobre os riscos para a safra do centro-sul, que se espera grande, Bastos Filho disse que "o aumento da quantidade de cana-de-açúcar a ser processada nesta temporada, em condições normais, é uma possibilidade e dependerá das condições climáticas e do nível de investimentos do setor".
Mas ele ponderou que esses investimentos tendem a recuar em épocas em que o mercado se torna difícil.
As empresas brasileiras de açúcar e etanol estão entrando em modo de sobrevivência, reduzindo as operações de colheita e buscando linhas de crédito para resistir à queda na demanda de combustível, reportou a Reuters recentemente.
A situação ocorre enquanto o setor espera a definição sobre um solicitado pacote de ajuda governamental, que inclui redução de tributos para o etanol, aumento da Cide para a gasolina, além de recursos para financiar a estocagem do produto.
Fonte: Reuters
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