O Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário deverá aumentar 1,4% em 2019, conforme estimativa divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A projeção mostra uma aceleração ante a estimativa de agosto, que apontou um avanço de 0,5%.
O horizonte para 2020 também melhorou. O Ipea avaliou dois cenários. Com base no prognóstico para a safra de grãos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a estimativa é de crescimento de 3,2%. Quando considerada a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que prevê uma nova colheita recorde, a previsão de alta chega a 3,7%.
Carlos von Doellinger, presidente do Ipea, realçou que o estudo do instituto mostra que, apesar da conjuntura desfavorável às cotações das commodities no mercado internacional, o agronegócio brasileiro resistirá bem, já que, como corroborou José Ronaldo Souza Jr., diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, o PIB do campo deverá crescer mais que o geral tanto neste ano quanto em 2020.
Segundo o Ipea, o resultado positivo de 2019 será puxado pela pecuária, que deverá crescer 1,8%. As cadeias de bovinos, aves e ovos impulsionam o crescimento, com altas de 2,1%, 2,1% e 3,4%, respectivamente. Já para a agricultura, a previsão é de aumento de 1% no valor adicionado das lavouras. Cana e café pressionam negativamente a projeção, com quedas de 1,1% e 16,5%, respectivamente. Do lado positivo, os destaques são milho e algodão, com aumentos previstos em 23,2% e 39,7%.
Para 2020, a pecuária deve ser protagonista, com previsão de avanço de 4,3%, puxado principalmente pela produção de bovinos (5,8%). O Ipea espera um recorde de produção de carne bovina, determinada pela maior demanda da China, de Hong Kong e dos Emirados Árabes Unidos.
Já a soja deverá crescer, no mínimo 4,7%, e o milho poderá sofrer queda de 1,7%. Mas, segundo a pesquisadora Nicole Rennó, do Cepea/USP, os custos de produção tendem a subir – no caso da soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, poderão ser os maiores dos últimos dez anos. A alta se deve, principalmente, ao aumento dos preços de fertilizantes e defensivos, que tiveram índices mais elevados para o primeiro semestre em nove anos.
Até setembro, 70% desses insumos já haviam sido comprados pelos produtores de soja para o plantio desta safra 2019/20. Assim, a renda poderá cair. “É um fator de pressão na renda do produtor para o ano que vem, e pode comprimir a rentabilidade do sojicultor”, acrescentou.
De janeiro a outubro de 2019, o Ipea destacou, nas exportações, avanço do milho, cujos embarques tendem a bater recorde no ano, e também do algodão e da carne suína. Em contrapartida, como já informou o Valor, as vendas externas de soja caíram em virtude da menor demanda da China.
O Ipea também realçou a terceira redução consecutiva nas taxas médias praticadas nas operações de crédito rural. O juro médio ficou em 7,1% ao ano em setembro, decréscimos de 0,07 ponto percentual ante agosto e de 0,31 ponto percentual em relação a setembro de 2018. A queda foi mais acentuada para as pessoas jurídicas, cuja taxa média em setembro foi de 6,8% ao ano.
O estudo do Ipea aponta, ainda, uma evolução da inadimplência média do crédito rural, reflexo do processo de saneamento da carteira de pessoas jurídicas – o processo de recuperação judicial da Atvos, do Grupo Odebrecht, teve impacto direto no aumento. Em setembro, o atraso médio na carteira de crédito rural foi de 2,8%, 0,06 ponto percentual a mais que em agosto de 2019. Para pessoas jurídicas, chegou a 5%.
Fonte: Valor Econômico
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