Apesar das diferentes estratégias de comercialização de etanol adotadas até agora pelas empresas sucroalcooleiras listadas na B3 nesta safra (2019/20), todas acreditam que os preços do biocombustível, que já vêm registrado valores historicamente elevados em pleno período de safra, não deverão registrar a volatilidade inesperada observada na última entressafra, mas sim subir de forma sazonal nos próximos meses.
No ciclo passado (2018/19), os preços do etanol recuaram nos primeiros meses após encerrado o período de moagem de cana, algo fora da tendência sazonal. O movimento de então refletiu o efeito da queda do petróleo sobre os preços da gasolina no Brasil e o consequente desespero de alguns players do segmento, que preferiram desovar o biocombustível que haviam carregado em seus estoques, o que gerou forte volatilidade de preços no período.
Em teleconferência sobre os resultados da Cosan, Phillipe Casale, gerente de executivo de relações com investidores da companhia - que é dona de 50% da Raízen -, observou que os preços do etanol "reagem de forma melhor" depois do fim da safra e ressaltou que a demanda doméstica pelo hidratado "está bastante alta". "Teremos resultados melhores até o fim da safra", afirmou.
A Raízen Energia alocou menos etanol produzido até agora para vender nos últimos dois trimestres da safra: no fim do segundo trimestre, havia em seus estoques 1,2 bilhão de litros, queda de 8,4% ante o mesmo período da temporada passada. Porém, a companhia só havia moído 47,4 milhões de tonelada de cana nos dois primeiros trimestres, enquanto a estimativa é de que o volume a ser processado até o fim da temporada alcance 61 milhões de toneladas, como indicou Casale, o que deverá aumentar a produção nos próximos meses.
A percepção de que os preços podem aumentar mais é compartilhada pelo Grupo São Martinho, embora a percepção da companhia é de que há limitações. Também em teleconferência com analistas, Felipe Vicchiato, diretor financeiro e de relações com investidores, disse que o preço do hidratado ainda está abaixo do patamar de paridade ante a gasolina no país e, por isso, tende a subir na entressafra.
Porém, Vicchiato avaliou que o espaço para essa elevação não é muito grande porque, embora o consumo esteja forte, "os estoques hoje estão 5% acima do que um ano atrás". "Não esperamos que o preço continue subindo de maneira muito expressiva nos próximos meses, nem na entressafra", afirmou ele. "Tem bastante estoque para absorver", acrescentou. A São Martinho detinha em estoque R$ 1,5 bilhão em produtos (açúcar e etanol) no fim do segundo trimestre da safra, que deverão ser convertidos em caixa nos dois próximos trimestres.
A Biosev também aposta em um aumento dos preços de etanol mais ordenado nesta entressafra. "Estamos altistas e com estoque alto, igual ao ano passado", mesmo sem a produção das duas usinas do Nordeste que foram vendidas, observou Dorothea Soule, diretora comercial da companhia, em entrevista ao Valor.
Para a executiva, o risco para os preços do etanol nesta entressafra vem da combinação entre petróleo e câmbio. "Mas, em paridade, temos a expectativa de que o aumento de preço vai continuar nos próximos meses, como nas últimas semanas", afirmou.
A Biosev, controlada pela Louis Dreyfus mantinha em seus estoques no fim do segundo trimestre 420 milhões de litros, 8,4% menos que um ano antes. Porém, mais produção deve vir pela frente, já que a moagem de cana havia alcançado 22,7 milhões de toneladas - na safra passada, a companhia encerrou a moagem em 29 milhões de toneladas, embora contabilizadas as duas usinas do Nordeste que foram vendidas.
Por Camila Souza Ramos
Fonte: Valor Econômico
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