Puxada pela extração de minério e petróleo, a produção industrial brasileira interrompeu três meses de queda e registrou alta de 0,8% em agosto, na comparação com o mês anterior. O resultado, porém, foi concentrado e mostra desaceleração da atividade ao longo dos últimos meses.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a indústria brasileira acumula queda de 1,7% no ano. Em 12 meses, a perda acumulada também é de 1,7%, superior aos 1,3% registrados no mês anterior.
"Apesar da melhora na comparação com o mês anterior, quando a gente compara com 2018, fica evidente o tamanho da perda", diz o gerente da Pesquisa Industrial Mensal, André Macedo. "E essa melhora se dá em cima de uma base de comparação mais baixa e com característica muito concentrada.
"Segundo o IBGE, o crescimento em agosto foi o mais intenso desde junho de 2018, mas ficou concentrado em uma das quatro atividades econômicas pesquisadas pelo instituto: a produção de bens intermediários, com alta de 1,4%.
Apenas 10 dos 26 ramos pesquisados pelo instituto apresentaram alta no mês, em comparação com julho. É o pior desempenho desde maio, quando oito ramos mostraram resultado positivo.
A influência mais importante para o resultado de agosto veio da indústria extrativa, que avançou 6,6%. Foi a quarta taxa positiva após os tombos registrados no início do ano com a suspensão de atividades mineradoras após a tragédia de Brumadinho (MG).
A melhora reflete a retomada das operações em minas da Vale e a redução no número de paradas para manutenção de plataformas de produção de petróleo. Ainda assim, a indústria extrativa está 5% abaixo do patamar de janeiro, antes da tragédia.
Com o impulso da extrativa, a produção de bens intermediários, que representa 55% da indústria brasileira, subiu 1,4% no mês, em comparação com o mês anterior.
Também contribuíram para o desempenho o setor de produção de combustíveis e a indústria alimentícia — nos dois casos, com grande influência de bens intermediários, como a produção de açúcar, disse Macedo.
Já a produção de bens de capital caiu 0,8% e a de bens de consumo, 0,7% —com destaque negativo para os bens de consumo duráveis (-1,4%), puxados pela queda na produção de automóveis (-3%), que reverteu a expansão registrada no mês anterior.
"Há um movimento errático na produção de automóveis. Ora com crescimento, ora com queda, em tentativa de adequar a produção à demanda", diz o gerente da pesquisa.Também influenciaram negativamente os ramos de confecção de artigos de vestuário (-7,4%), máquinas e equipamentos (-2,7%) e produtos farmoquímicos (-2,7%)."Mesmo avançando em relação a julho, esse resultado está longe de significar uma reversão das perdas do passado", avalia Macedo. Nos oito meses de 2019, em cinco a indústria teve resultado negativo.
No ano, a perda acumulada é de 1,7%, também com forte impacto dos os efeitos de Brumadinho —a indústria extrativa acumula queda de 10,7%, puxando o setor de bens intermediários a queda de 2,6%. As demais categorias ficaram próximas da estabilidade.
Para Macedo, o ambiente de incerteza das famílias e no comércio exterior continua impactando o desempenho da indústria brasileira. "São 12 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, a qualidade do trabalho também é menor. E isso não contribuiu para o aumento da demanda doméstica", afirma.
Em relação a agosto de 2018, a produção industrial brasileira recuou 2,3%, informou o IBGE. Nesta base de comparação, houve queda em todas as grandes atividades pesquisadas.
Em 12 meses, a indústria registra queda de 1,7%, o que indica perda de ritmo da atividade, de acordo com Macedo. Em julho, o recuo era de 1,3%. Nessa base de comparação, 16 dos 26 setores estão no terreno negativo, o pior espalhamento desde abril de 2017.
"A entrada de agosto nos dá uma ideia de aumento da intensidade de perda da indústria", disse o gerente da pesquisa. "É uma produção industrial que opera abaixo de 2018, acentuando as perdas do início do ano."
Fonte: Folha de S. Paulo
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