A Agricef, empresa-filha da Unicamp que atua no desenvolvimento e na produção de equipamentos agrícolas, é uma das empresas no ecossistema de Campinas que aposta na conexão com a universidade para agregar inovação a seus produtos. A relação data da criação da empresa, que foi incubada na Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp). Mas, além do apoio à estruturação do negócio por meio do processo de incubação, a interação com a academia também resulta no desenvolvimento e licenciamento de novos produtos, especialmente criados para responder a demandas tecnológicas de um mercado em constante transformação.
O mais recente licenciamento da Unicamp para a Agricef foi o da patente de um dispositivo para medida de fluxo mássico de produtos agrícolas: uma balança, voltada para a cultura da cana-de-açúcar. O dispositivo foi item essencial para a constituição de um sistema em colaboração com a empresa Enalta, parceira da Agricef no desenvolvimento e comercialização de produtos.
Como resultado, as empresas lançaram o sistema chamado SIMPROCANA, que pode ser acoplado a qualquer colhedora de cana-de-açúcar comercial, tornando-a mais completa e focada na Agricultura de Precisão, pois é capaz de medir, em tempo real, a quantidade de cana colhida em uma determinada área da plantação. Tais dados proporcionam a elaboração de mapas de produtividade que permitem visualizar a variabilidade da produção dentro do talhão, mostrando os diferentes rendimentos (toneladas por hectare) obtidos.
“A variação de produtividade, em um mesmo canavial, pode ser enorme. Enquanto algumas áreas chegam a produzir até 150 toneladas, outras produzem 20 toneladas. O Mapa de Produtividade permite enxergar onde se produziu mais e menos e entender o porquê”, afirma Guilherme Cerri, um dos sócios da Agricef e também um dos pesquisadores envolvidos no desenvolvimento dos novos produtos da empresa. Cerri fez seu doutorado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, sob a orientação do professor Paulo Graziano, responsável na Universidade pelo desenvolvimento da tecnologia.
De acordo com o empreendedor, além da especialidade na cultura canavieira, o grande diferencial do SIMPROCANA é a maior acurácia, obtida por meio de células de carga menores e mais precisas, que se tornaram possíveis graças aos mecanismos de proteção desenvolvidos pela empresa, além da resiliência frente às condições adversas que a colhedora pode encontrar no canavial.
O SIMPROCANA é atualmente comercializado pela empresa Enalta e já está sendo utilizado por produtores de cana da América Latina, em países como a Colômbia e a Guatemala, que precisam dar um boom na produção de seus canaviais, mas carecem de espaço para expansão de área para cultivo de cana.
De olho no Brasil
Com a tecnologia já implantada no exterior, a Agricef volta seu olhar para o mercado interno. A importância do setor sucroalcoeiro na economia brasileira é um grande estímulo para o desenvolvimento de tecnologias voltadas para o gerenciamento mais detalhado do sistema de cana-de-açúcar. De acordo com dados divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção global de açúcar na safra 2017/2018 deve alcançar a casa de 184,949 milhões de toneladas. Maior produtor mundial, o Brasil é responsável por 40,2 milhões de toneladas, no mesmo período.
“A cana-de-açúcar é a terceira cultura cultivada em área no Brasil, são mais de 9 milhões de hectares. Essa área deve ser expandida nos próximos anos para atender ao crescente mercado de etanol e eletricidade. Já a Agricultura de Precisão é uma maneira moderna e consciente de gerenciar as áreas de produção agrícola, levando em consideração a variabilidade espacial do terreno, e aplicando insumos apenas na quantidade necessária, para garantir o desenvolvimento da planta”, defende o professor Paulo Graziano.
A Agricef e a empresa Enalta também apostam na intensificação da busca por inovação tecnológica pelas grandes empresas com vistas a aumentar a produção por hectare e continuam a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. O desenvolvimento do SIMPROCANA contou com o suporte do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que visa apoiar projetos de pesquisa para o desenvolvimento, por microempresas, empresas de pequeno porte e pequenas empresas paulistas, de produtos, processos e serviços inovadores. “As grandes empresas são mais estruturadas e buscam tecnologias inovadoras que possibilitam um aumento de produtividade. Para 2019, esperamos que as usinas invistam ainda mais em equipamentos que utilizam a Agricultura de Precisão”, finaliza Cerri.
Por Carolina Octaviano e Vanessa Sensato
Fonte: Unicamp
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