A intervenção do presidente Jair Bolsonaro no mercado de combustíveis, na semana passada, amedrontou o setor sucroenergético. Voltou à cena o fantasma das mãos do governo a ditar preços artificialmente no setor.
O programa do etanol brasileiro viveu momentos de euforia nos anos 2000. No governo Lula, a moagem de cana foi de 300 milhões para 500 milhões de toneladas de 2003 a 2008.
E esperava-se crescimento contínuo até os 900 milhões de toneladas. Foram criados 120 novos projetos no setor, principalmente porque o país seria um grande fornecedor desse combustível ao mundo.
Com a descoberta do pré-sal e o fim da correção do preço da gasolina e do diesel com base nos preços internacionais, o setor encolheu. Na safra que terminou, a moagem de cana foi de 573 milhões de toneladas na região centro-sul.
Sem a interferência governamental nos preços da gasolina, o setor estaria moendo pelo menos 700 milhões de toneladas de cana. Os preços médios da gasolina variaram de R$ 2,58 a R$ 2,98 entre 2010 e 2014.
A competitividade do álcool perante a gasolina diminuiu, e as vendas do combustível derivado de cana recuaram, abalando as finanças das empresas do setor.
Aquele cenário fez as empresas optarem pela produção de açúcar, e o mundo viveu por vários anos um superávit do produto, derrubando os preços internacionais.
Com preços baixos, as usinas brasileiras deixaram de produzir 10 milhões de toneladas de açúcar e elevaram a produção de etanol para o recorde de 31 bilhões de litros na safra passada.
O Brasil exporta, em média, 28 milhões de toneladas de açúcar por ano. Em 2018, foram 10 milhões a menos.
O etanol fez, no ano passado, o que não vinha mais fazendo em anos recentes. O consumo interno foi de 29,4 bilhões de litros. Desse total, 19,4 bilhões foram do tipo hidratado, que permitiram ao país substituir 20,3 bilhões de litros de gasolina A.
Se tivesse de ser importado, esse produto teria custado US$ 9,8 bilhões para o país.
Ganhou também o consumidor. Os que optaram pelo etanol pagaram, em média, R$ 2,90 por litro do combustível em 2018. A gasolina esteve a R$ 4,40.
Dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) indicam que, enquanto o preço da gasolina teve uma evolução média de 6,5% no ano passado, o do etanol registrou queda de 4,1%.Mas a história de 2018 não deverá se repetir em 2019.
As usinas devem produzir pelo menos 2 milhões a mais de toneladas de açúcar nesta safra, deixando menos cana para o álcool. E isso ocorre num momento em que não há elevação na oferta de cana.
Um alívio, porém, poderá vir do etanol feito a partir do milho. A produção deste ano subirá para 1,2 bilhão de litros, e esse produto tem grande importância para abastecer áreas onde o etanol de cana não é competitivo.
Por Mauro Zafalon
Fonte: Folha de S. Paulo
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