“O melhor evento sobre variedades de cana-de-açúcar já realizado em território nacional.” É dessa forma que o diretor do Grupo IDEA, Dib Nunes Jr., descreve o 12º Grande Encontro sobre Variedades de Cana-de-Açúcar, ocorrido nos dias 17 e 18 de outubro, no Centro de Convenções de Ribeirão Preto/SP. O evento reuniu produtores de cana, profissionais de usinas, pesquisadores, consultores e executivos de empresas ligadas ao segmento. Ao todo, foram mais de 450 participantes, vindos de 15 estados brasileiros e também de países da América Latina.
Além de discussões sobre manejo varietal adotado por unidades sucroenergéticas e produtores de cana, o evento foi palco para a apresentação de futuras liberações dos programas de melhoramento genético e para o lançamento de novos produtos, como maturadores, fungicidas e estimulantes.
Mas o evento começou com o alerta do fitopatologista Álvaro Sanguino sobre os perigos do Colletotrichum falcatum, fungo responsável pela podridão vermelha e que tem se alastrado rapidamente pelos canaviais do Centro-Sul. Atualmente, há relatos de infestações no Triângulo Mineiro, Mato Grosso do Sul, e também no interior paulista, mais especificamente nas regiões de Araçatuba e Sertãozinho. “É uma doença sistêmica, que acompanha a planta desde a ponta da raiz até a folha, podendo matar a brotação da soqueira e ocasionar falhas de plantio. Os danos podem levar à redução de 35% na produtividade e 35% em teor de açúcar”, disse Sanguino.
Outra duas importantes palestras que integraram a programação do evento foram as do engenheiro agrônomo Leandro Lance, gerente de desenvolvimento de mercado e inovação da NaanDanJain Brasil e consultor do Dr.Cana, que detalhou como a época de colheita do canavial impacta na escolha do sistema de irrigação; e do professor e pesquisador da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", campus de Botucatu, Carlos Alexandre Costa Crusciol, que falou sobre adubação foliar na cana-de-açúcar na fase vegetativa e para tolerância a seca.
Programas de melhoramento apresentam novas variedades de cana-de-açúcar
A seção reservada aos programas de melhoramento genético apresentou variedades recém-lançadas e as que estão em pré-fase de lançamento. A GranBio abriu os trabalhos dessa seção com a apresentação da Vertix 3, sua “super variedade” de cana-de-açúcar. O material apresenta elevada produtividade em toneladas de cana por hectare e proporciona maior longevidade ao canavial, além de índices expressivos de sacarose e de fibra.
Em seguida, o diretor do Centro de Cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Marcos Landell, apresentou resultados de campo de diversas variedades IAC já consagradas no Centro-Sul e detalhou as características de algumas das futuras liberações que devem integrar o portfólio de materiais do Instituto nos próximos anos: IACSP04-6007, IACSP04-7004, IACSP04-7060, IACSP04-3158, IACCTC05-2562, IACCTC05-5579, IACCTC05-5580, IACCTC05-9561 e IACCTC06-2505.
Já o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), mostrou os resultados de campo das variedades CTC9005HP e CTC9002 e apresentou dois clones promissores que se destacam por sua rusticidade e alta produtividade. “A CT049005 atende a necessidade da colheita para começo de safra em ambientes favoráveis, enquanto que a CT022278 atende a colheita no meio da safra em ambientes C e D”, explica o gerente de negócio e marketing do CTC, Luiz Antônio Dias Paes.
No Encontro, o CTC também abordou os resultados da primeira cana geneticamente modificada do mundo (CTC20BT), com a apresentação de Alan Pavani, líder de produto de biotecnologia da empresa. “A principal característica da CTC20BT é a resistência à broca da cana-de-açúcar, praga mais relevante e que gera perdas de R$ 5 bilhões ao ano para usinas e produtores de cana.”
Até o momento, mais de 80 empresas, entre usinas e fornecedores, já possuem áreas com a variedade. Os testes registram que a CTC20BT apresenta inúmeros benefícios, que geram até R$ 2 mil por hectare de margem agroindustrial, ao reduzir o custo de controle, oferecer mais toneladas por hectare, mais açúcar por tonelada de cana e menor uso de insumos industriais.
O Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar da Universidade Federal de São Carlos (PMGCA/UFSCar), instituição pertencente à Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA), divulgou suas próximas liberações: RB975375, RB005014, RB005983 e RB015935.
O resultado de seu Censo Varietal 2018 foi mais uma tração da RIDESA. Os dados mostrados pelo pesquisador Lungas Menezes apontam que a variedade mais plantada nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul é a RB966928, seguida pela RB867515. No caso de variedades mais cultivadas, as posições se invertem. A mais cultivada é a RB867515, em segundo vem a RB966928.
A partir de 2015, a RB966928 assumiu o posto de mais plantada, e conquistou a preferência dos produtores por suas qualidades: elevado teor de sacarose no início de safra, é indicada para o cultivo em ambientes de médio a alto potencial e apresenta como restrição afinamento de colmos em soqueira nos ambientes de produção mais restritivos. Além disso, a RB966928 se destaca por seu desempenho tanto em plantio mecanizado como em colheita mecanizada.
Usinas apresentam detalhes sobre o manejo varietal que realizam
Ao longo dos dois dias de evento, usinas apresentaram seus casos de sucesso relacionados ao manejo varietal. Na Usina Santa Fé, de Nova Europa/SP, a RB966928 é a mais cultivada (18%), seguida de perto pela RB867515 (15%). Em relação ao plantio, o material mais utilizado é o CTC4 (23%). Em segundo aparece a IACSP95-5094 (14%). Até 2020, a empresa pretende aumentar participação de sete variedades em seu plantel. São elas: RB975201, RB975952, CTC 9001, CTC 9003, CTC 9005-H e IACSP95-5094.
A Santa Fé aposta na formação de viveiros primários e secundários com Plene PB, produzido pela Syngenta, para turbinar sua produtividade. O engenheiro agrônomo da empresa, João Paulo Rogante, observou que para a formação desses viveiros é preciso adquirir uma muda de qualidade, fazer uma irrigação eficiente pós-plantio e controlar plantas daninhas e pragas.
O ganho de produtividade de cinco toneladas em TCH, obtido por meio de um trabalho que integra mecanização no canavial, agricultura digital e o manejo de variedades, foi o tema abordado na palestra do gerente corporativo de desenvolvimento e tecnologia agrícola da Tereos, José Olavo Bueno Vendramini. “O investimento neste trabalho permite uma inteligência analítica e garante tomada de decisão de forma mais ágil e assertiva no canavial e, por meio do bom aproveitamento da variedade, é possível extrair todo potencial genético de produtividade”.
Atualmente, a Tereos trabalha com mais de 25 variedades comerciais, desenvolvidas em parceria com o CTC, Ridesa, IAC e eRcane. O grupo conta também com um laboratório de meristema que permite acelerar os processos de multiplicação varietal com eficiência.
O manejo varietal da Raízen foi abordado pelo especialista em desenvolvimento agronômico do grupo, Hamilton Jordão. Segundo ele, uma das ferramentas que integram esse manejo é o Programa Renovar, que extrai informações de desempenho de variedades em canavial comercial. “A escolha de variedades adequadas de cana-de-açúcar visando a obtenção de resultados satisfatórios não é tarefa das mais fáceis. Para isso, a Raízen utiliza o programa Renovar, que tem o objetivo de identificar uma lista de variedades comerciais ou potenciais por região de produção, indicando para cada material a melhor época de plantio, colheita e ambiente de produção.”
Para definir essa lista, a Raízen conta com uma equipe de experimentação agrícola e de estatísticos, que analisa o banco de dados por meio de ferramentas de data mining. “Com essa tecnologia, é possível extrair informações de desempenho de variedades em canavial comercial, tais como Tonelada de Cana por Hectare (TCH), Açúcar Total Recuperável (ATR), fibra, perdas na colheita, doenças, florescimento, época de plantio e colheita, entre outros”, revela. A análise minuciosa desses dados possibilita estabelecer um ranking de performance por região.
O 12º Grande Encontro sobre Variedades de Cana-de-Açúcar foi finalizado com um debate entre representantes de três usinas (Coruripe, Biosev e Guaíra), que falaram sobre o manejo varietal em suas unidades, além de temas como o terceiro eixo e blocos de colheita. O parecer desses profissionais confirmou o que foi apresentado no transcorrer do evento: a escolha das variedades adequadas e o respeito às suas características visando a aproveitar o máximo de seu potencial, são fundamentais para o sucesso do investimento.
Também foi exaltada a importância das pesquisas e da adoção de novas variedades mais produtivas e adaptadas à colheita mecanizada. “Todos os ganhos de produtividade e maturação obtidos nos últimos 40 anos se devem quase que exclusivamente às variedades”, salientou Dib.
Fonte: CanaOnline
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