O derretimento dos contratos futuros do açúcar bruto neste ano chegou a um nível nesta segunda-feira em que o primeiro vencimento na bolsa nova-iorquina ICE foi negociado abaixo dos simbólicos 10 centavos de dólar por libra-peso, uma mínima em uma década.
O contrato para outubro, o mais líquido, ainda se recuperou e fechou o dia a 10,09 centavos de dólar por libra-peso, queda de 0,9 por cento, após tocar 9,98 centavos de dólar mais cedo, com pressão do dólar forte no Brasil, que estimula vendas do maior exportador global do adoçante.
O açúcar branco para outubro cedeu 1,2 por cento, para 303,70 dólares por tonelada.
As cotações do açúcar bruto acumulam queda de quase 35 por cento apenas em 2018, resultado da ampla oferta global, em especial por parte da Índia, e da apreciação do dólar ante o real.
Nesta segunda-feira, o dólar encostou nos 3,95 reais, diante de preocupações eleitorais.
“O real está fraco. Há muita oferta, então devemos nos manter em baixa”, disse um operador norte-americano.
“E o cenário macro não ajuda, porque o que aconteceu com a Turquia afetou o mercado... As (commodities) softs acabaram pisoteadas. Esse momento é perfeito para formação de pânico”, acrescentou o diretor da consultoria especializada Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa, relembrando a perturbação recentemente provocada pela crise da lira turca.
Mas ele ponderou que, em reais, as cotações ainda estão acima de mínimas recentes.
“A quebra dos 10 centavos de dólar é só simbólica. A situação em reais por tonelada ainda não chegou ao ponto mais baixo que vimos recentemente. Dias difíceis, não vejo reversão no curto prazo”, acrescentou.
Pelos cálculos da Archer, o açúcar comercializado pelo Brasil está hoje acima de 900 reais por tonelada, ante uma mínima de 870 reais observada em abril.
AMPLA OFERTA
A queda do açúcar nesta segunda-feira na ICE “é uma fotografia do momento, onde se têm algumas indefinições importantes, como se a Índia exportará ou não açúcar”, afirmou o diretor da consultoria Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho.
A Índia se tornou neste ano o maior produtor mundial de açúcar, superando o Brasil, com algumas previsões apontando produção de até 35 milhões de toneladas.
Carvalho, também presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, ponderou que esse incremento se dá graças aos subsídios oferecidos pelo governo indiano, o que requer uma ação de outros países produtores na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Mesmo assim, ele disse esperar que ao longo do segundo semestre os preços do açúcar se recuperem.
“O mercado ainda não apercebeu que teremos uma morte súbita (de safra de cana)... Acredito que haverá falta de demerara físico no segundo semestre, e daí podemos ter uma melhora de preço”, disse, acrescentando que as usinas do Brasil já estão no limite de produção de etanol, o qual tem dado melhores retornos.
Fonte: Reuters
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