Já deixou de ser razoável supor que a safra 19/20 de cana e açúcar será menor que a atual para se tornar quase uma certeza. Todos os indicadores apontam nessa direção, olhando apenas o mercado e sua conjuntura, sem serem consideradas as condições climáticas. Preços baixos internacionais já estão sinalizados para mais um ciclo e o envelhecimento da cana aumentará no Centro-Sul.
E parece que os analistas começam a enxergar essa perspectiva a partir das revisões menores sobre a safra 18/19 e da situação de muitas empresas. Em entrevista ao Notícias Agrícolas na sexta (4), Andy Duff, estrategista global de açúcar do Rabobank, levantou a questão diante de mais um ciclo de excedente mundial de açúcar, como no atual, que já foi desenhado por Índia e Tailândia.
Ricardo Pinto, da RPA Consultoria, não tem dúvidas quanto a uma safra futura menor, considerando que se chegará a uma média de canaviais com sete cortes e menores gastos com tratos culturais. “Além de se repetir no mínimo uma renovação de 10 a 13% das lavouras, aumentará a densidade de canaviais no limite”, disse.
O complicador é que a adubação, por exemplo, deverá ser reduzida, com certeza nos canaviais mais velhos – de 50/60 t/ha -, mas também podendo alcançar lavouras mais jovens. No máximo, vão ser usados herbicidas. “A partir dde setembro e outubro, o financeiro das usinas terão mais poder decisão e a ordem é gastar menos possível”.
A RPA apontou em 10 de abril, para o Notícias Agrícolas, a safra atual em 580 milhões de toneladas de Goiás ao Paraná – agora já está cortando mais, faltando mais uns dias para vir com uma revisão oficial. Mas ao olhar que a as primeiras canas cortadas já apresentam quebra – de 10% no Norte de São Paulo e no Oeste -, mais os levantamentos da empresa que mostram “nove unidades sendo paralisadas este ano”, Pinto acredita que o cenário será carregado para a próxima temporada.
Na INTL FC Stone, João Paulo Botelho diz que “não me surpreenderia” mais uma quebra. Nesta terça (8), a consultoria lança sua mais recente estimativa de safra 18/19 (a última foi dada em 590,7 milhões de cana e 31,5 milhões de toneladas de açúcar, no Centro-Sul), mas Botelho lembra a renovação está comprometida desde 2014. “O último grande evento climático que influenciou decisivamente o setor foi em 2014 e desde então, salvo problemas pontuais, não houve nada significativo, mesmo assim a cana só envelheceu”, completou ele, concordando também com a RPA a respeito da contenção de gastos em tratos culturais.
O analista da FC Stone também aponta que em áreas de expansão, como no Centro-Oeste, se esperava a entrada de produtores para suprir as indústrias, o que não aconteceu e continuará não acontecendo.
A diminuição do Brasil no mercado mundial de açúcar para 19/20 e também o volume de matéria-prima deverão ser menores, mas a Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) trabalha com a expectativa de as atuais baixas internacionais não deverão se sustentar por muito tempo, hoje na casa dos 11 c/lp em Nova York. Jeferson Degaspari, diretor executivo da empresa, defende a ideia de que mais um ciclo de baixa no Brasil vai acabar puxando os preços para cima.
Outra pergunta em aberto é quanto ao etanol. Hoje ele está pagando a usina melhor que o açúcar, mas deverá cair no pico de safra. E etanol, com maior liquidez, ajuda a segurar o caixa de muita “usinas fragilizadas”, mas ninguém pode apostar nesse produto em prazo mais longo, mesmo com a política de previsibilidade que a Petrobras hoje impõe ao petróleo e que favorece o biocombustível.
E nem o RenovaBio pode dar alguma resposta antes de 2021, pelo menos.
Por isso o açúcar continua sendo o fiel da balança quanto ao tamanho das próximas safras, exatamente assim, no plural.
Por Giovanni Lorenzon
Fonte: Notícias Agrícolas
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