As perspectivas de que haja novo excedente global de açúcar na safra 2018/19, após o superávit já observado em 2017/18, derrubaram as cotações da commodity ao mais baixo patamar em praticamente uma década na bolsa de Nova York.
Cálculos do Valor Data baseados nos valores médios mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega indicam que a commodity encerra abril com queda de 7,73% em relação a março (o balanço foi fechado no dia 27), no menor nível desde agosto de 2015. Mas o resultado daquele mês, pontual, foi o mesmo de dezembro de 2008, quando os preços estavam deprimidos sob a influência da crise financeira global desencadeada pela debacle do banco Lehman Brothers.
Com a oscilação deste mês, os contratos registram quedas de 16,24% em relação à média de dezembro e de 26,82% na comparação com abril de 2017. O mergulho tem estimulado as usinas do Brasil a ampliar as apostas no etanol, mais rentável no momento, o que deverá levar o país a perder a liderança na produção mundial para a Índia.
Conforme estimativa da consultoria FG/A, de Ribeirão Preto (SP), a migração para o etanol e o clima seco que atualmente afeta a moagem de cana no Centro-Sul farão que a produção brasileira de açúcar caia 7 milhões de toneladas nesta temporada 2018/19, que começou em abril, para 31,5 milhões.
Projeções como essa já colaboram para a redução das apostas dos fundos de investimentos em novas baixas expressivas das cotações nos próximos meses, ainda que não sejam suficientes para abrir espaço para grandes reações.
Isso porque na Índia e na Tailândia a oferta está em expansão, o que mantém vivos os cálculos de excedente. A consultoria Datagro, que prevê superávit de 10,8 milhões para esta safra internacional 2017/18, que terminará em setembro, já projeta superávit de 7,6 milhões de toneladas em 2018/19
E é a Índia, onde as monções estão dentro da média, que poderá roubar a liderança do Brasil. Conforme a FG/A, a produção indiana deverá registrar leve expansão em 2018/19 e alcançar 33 milhões de toneladas.
Se confirmadas essas previsões – a FCStone, por exemplo, projeta 31 milhões de toneladas para a Índia na próxima safra -, será a primeira vez que o Brasil perderá o posto de maior produtor global de açúcar desde 2001. Naquele ano, a Índia produziu 24,5 milhões de toneladas, ante 24,4 milhões no Brasil.
Nas exportações, a liderança brasileira deverá ser preservada em 2018/19, mesmo que o volume a ser embarcado tenda a diminuir, em linha com a produção. De acordo com a FG/A, as exportações do Brasil ficarão entre 10 milhões e 11 milhões de toneladas no ciclo.
Willian Hernandes, sócio da consultoria de Ribeirão Preto, lembra que o volume exportável da Índia será menor porque o consumo doméstico do país registrou expressivo crescimento.
Entre as principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil, o açúcar é a que registra retração mais expressiva em abril no mercado internacional.
Segundo o Valor Data, o café também cai em relação a março, mas menos – 1,35%. Em contrapartida, o suco de laranja recupera parte das perdas recentes e sobe 2,90%, enquanto o algodão fica estável.
Os principais grãos que pesam positivamente na balança comercial do país também registram pequenas variações. Na bolsa de Chicago, os contratos de segunda posição de entrega do milho encerram o mês com valorização de 0,34%, e a soja também variou pouco.
Nesses mercados, o comportamento das cotações nos próximos meses será definido pelo desenrolar da disputa comercial entre EUA e China, pelos problemas causados pela quebras das safras na Argentina e pelo andamento do plantio americano.
Por Cleyton Vilarino, Fernanda Pressinott e Fernando Lopes
Fonte: Valor Econômico
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