Mudanças socioeconômicas e espaciais na agricultura; intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção; mudança do clima; riscos; agregação de valor nas cadeias produtivas; protagonismo dos consumidores; e convergência tecnológica e de conhecimentos.
Foi em torno desses sete eixos principais que a Embrapa preparou o documento "Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira", lançado ontem em Brasília como parte das comemorações de seu 45º aniversário. Realizado ao longo de 18 meses, o trabalho foi costurado com a participação de cerca de 370 colaboradores da estatal e de instituições parceiras.
Considerada fundamental para o avanço do agronegócio brasileiro nas últimas décadas, sobretudo por ter ajudado a tornar viável e competitiva a produção de grãos no Cerrado, a Embrapa vive um período de transformações para tentar manter sua relevância em meio à crescente necessidade de capital para desenvolver suas pesquisas.
Daí porque o documento lançado ontem teve um significado especial para a empresa. Presidida pelo engenheiro agrônomo Maurício Antônio Lopes desde outubro de 2012, a Embrapa vive desde então um processo de mudança que inclui racionalização de gastos e ações capazes de ampliar as receitas – incluindo a criação de um braço privado, de capital fechado, para comercializar tecnologias e estabelecer parcerias com empresas privadas, cujo projeto se encontra parado no Congresso. A estatal prevê que 86% de seu orçamento de R$ 3,4 bilhões de 2018 será gasto com pessoal.
Para Lopes, a Embrapa precisa se reestruturar e se conectar cada vez mais rapidamente às mudanças globais. E esse processo envolve novas demandas como o desenvolvimento da indústria da gastronomia, transformações digitais, novos padrões de consumo de alimentos, aumento da produtividade em áreas já abertas e preocupação com o bem-estar animal.
"Se as instituições permanecerem com o mesmo modelo de operação de 15 anos atrás, não vão sobreviver. E as mudanças da Embrapa vêm no sentido de reinventar a empresa nessa linha", disse Lopes ao Valor. "Esse é um movimento natural de uma instituição de ciência que está olhando para o futuro com a necessidade de seguir se reinventando".
Para encarar esses desafios, o presidente da empresa pública defende novas parcerias "mais ágeis" com empresas e o setor produtivo. "Estamos buscando aproximação com muitos financiadores do Brasil e internacionais interessados em investir na produção de alimentos no país", acrescentou.
No horizonte da estatal estão as projeções de aumento do consumo global de água (50%), energia (40%) e alimentos (35%) até 2030, derivadas das tendências de expansão da população, aumento da idade média, avanço da urbanização e incremento do poder aquisitivo, principalmente na Ásia, na África e na América Latina.
Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que, segundo projeções da FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, a produção global de alimentos deverá crescer 20% na próxima década, e que, para que isso se torne realidade, a oferta brasileira terá de aumentar 40%. "Ou seja, o protagonismo do país nessa terá de ser ainda maior do que já é", afirmou o ex-ministro.
"Nesse contexto, a agricultura brasileira passa por profundas transformações econômicas, culturais, sociais, tecnológicas, ambientais e mercadológicas, que ocorrem em alta velocidade e em direções distintas, impactando de forma substancial o mundo rural", afirma o estudo da Embrapa.
No que tange às mudanças socioambientais e espaciais na agricultura, o trabalho destaca, por exemplo, que a tendência é que a produção de grãos do país se concentre ainda mais no Cerrado, mas identifica forte potencial de expansão na região Norte, onde a logística de escoamento de commodities como soja e milho tem recebido investimentos bilionários.
Em tempos de queda de disponibilidade de mão de obra no campo, realça que a abertura de postos de trabalho com maior nível de qualificação continuará crescente, ao mesmo tempo que a pobreza continuará sendo uma mazela a ser combatida.
Diante da maior limitação de recursos naturais e das crescentes restrições ambientais, a Embrapa alerta que será necessário acelerar os esforços no sentido de intensificar a produção preservando a sustentabilidade das cadeias. Para isso, prevê a expansão de sistemas como integração lavoura-pecuária-floresta, agricultura orgânica, recuperação de pastagens degradadas e otimização de irrigação.
"A intensificação, viabilizando de dois a três cultivos por ano em um mesmo local, será incrementada ainda mais pela inovação tecnológica, gerando maiores benefícios sociais, econômicos e ambientais. A demanda crescente por energia impulsionará ainda mais a produção de agroenergia – biocombustíveis e biogás – e das energias eólica e solar no ambiente rural. Em substituição às fontes fósseis, essas energias renováveis estarão vinculadas à intensificação agrícola e deverão amplificar as oportunidades regionais de emprego e renda".
Por Fernando Lopes e Cristiano Zaia
Fonte: Valor Econômico
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