A inclusão do etanol na lista dos produtos americanos que a China sobretaxará como represália às taxas sobre o aço está deixando o mercado brasileiro do biocombustível desnorteado. Se por um lado os importadores chineses terão que buscar o etanol em outra origem, o que poderia estimular as exportações brasileiras, os EUA terão excedente. Isso significa que as importações do Brasil podem aumentar.
A China já taxa as importações de etanol em 30%, e ainda assim vinha aumentando os volumes adquiridos nos primeiros meses do ano. E, mesmo que a alíquota seja maior em 15%, o etanol americano ainda poderia ter espaço, segundo Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro.
Ele calcula que o biocombustível dos EUA chegue hoje nos postos chineses a US$ 730 o metro cúbico, ante um preço interno de US$ 680 o metro cúbico. "Esse impedimento temporário do etanol americano vai fazer com que o preço interno na China suba. Isso já viabiliza a importação", afirmou.
Na visão de Nastari, para que o Brasil aproveite janelas de exportação é preciso que a produção abasteça a demanda interna – em alta nos últimos meses – e ainda gere excedente. "Não dá para imaginar que o Brasil vai abraçar mercados, faz quase dez anos que a produção de sacarose está estagnada." Ele disse que há outros países que podem exportar etanol à China, como o Paquistão e a Austrália, que têm excedentes.
Um trader que preferiu não se identificar disse que o Brasil pode exportar à China desde que os importadores do país paguem mais que o mercado brasileiro, e se o etanol nacional for competitivo ante o americano.
Em contrapartida, ao "perder" a China como cliente – ao menos no curto prazo -, o excedente americano deve pressionar os preços nos EUA. Assim, haverá poucas opções para o produto além do Brasil. "É onde tem demanda e é um mercado grande", afirmou o trader.
Um aumento das importações de etanol americano derrubaria os preços do produto no Brasil e teria consequências negativas sobre a situação financeira das usinas, já que nesta safra o plano do setor é priorizar a produção do biocombustível, ressaltou João Paulo Botelho, analista da INTL FCStone.
Ainda que os dois movimentos ocorram, os embarques à China aconteceriam durante a safra brasileira e as importações, na entressafra, disse. "As usinas reduziriam as vendas no período de maiores preços e aumentariam no de preços mais baixos. Dificilmente haveria um ganho líquido ao setor", avaliou.
Por Camila Souza Ramos
Fonte: Valor Econômico
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