O agronegócio brasileiro está se aproximando de uma revolução digital. Empresas de todos os segmentos – da produção de sementes à colheita, passando pela gestão e comercialização dos produtos – estão mirando projetos para conectar equipamentos, adotar softwares, além de coletar e analisar dados. O movimento tenta aumentar a eficiência do setor, que hoje responde por um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) e quase metade das exportações do País.
É o caso da São Martinho, a maior usina de cana-de-açúcar do Brasil, localizada em Pradópolis, no interior de São Paulo. Ela está construindo uma rede de banda larga móvel (4G) privada, prevista para ficar pronta até o fim de 2018. A rede vai permitir a conexão de 700 veículos e máquinas – que incluem colhedoras, caminhões e tratores – à internet. O esforço foi necessário, já que a qualidade das redes 4G na região é baixa e não atende à demanda do projeto da companhia.
De acordo com o vice-presidente da São Martinho, Agenor Pavan, cada máquina está sendo equipada com um terminal que transmitirá dados por meio da internet para uma central, onde gestores poderão analisá-los e tomarão decisões sobre como melhorar a gestão do plantio, pulverização e logística de insumos e produtos.
Trata-se de um grande passo para a São Martinho que, além da usina de Pradópolis, controla outras três usinas. Hoje, em todas as unidades, as informações das máquinas são gravadas por funcionários em pen drives ou anotadas em papel. Quando todos os equipamentos estiverem conectados, os gestores poderão identificar quais máquinas estão trabalhando em temperatura acima do normal e pará-las antes das falhas.
“Com o monitoramento em tempo real, nossa operação será mais preventiva do que corretiva”, diz Pavan.O projeto completo, que inclui a conexão de 2,2 mil máquinas usadas nas quatro usinas até abril de 2022, vai custar R$ 45 milhões. Depois que o projeto estiver pronto, Pavan estima que vai economizar R$ 65 milhões por ano considerando as quatro usinas.
Evolução. A demanda por tecnologias digitais pensadas para o agronegócio tem aumentado nos últimos anos. Prova disso é o número de startups focadas no setor, que chegou a 500 no País em 2017, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). “Esse segmento nunca cresceu tanto como no ano passado”, diz Maikon Schiessl, líder da área de “agtech” da associação. “Em 2018, o número de empresas deve se estabilizar.”
A paulistana BovControl, é uma das startups que decolaram nos últimos anos, após criar um aplicativo para coletar informações sobre gado. Em fevereiro, a empresa fundada em 2013 foi eleita uma das dez mais inovadoras da América Latina pela revista americana Fast Company.
A empresa é fruto da ideia do empreendedor Danilo Leão, que cresceu vendo seu pai enfrentar problemas para gerenciar suas fazendas. Ele só descobria se os animais estavam doentes ou tinham se alimentado mal aos fins de semana.
Leão teve a ideia de criar um aplicativo para acessar os principais indicadores em tempo real. “A ideia é saber o que acontece na fazenda sem estar fisicamente lá”, explica Marcelo Murachovsky, líder de design da startup. Os empregados da fazenda inserem dados por meio de um app para smartphones.
Outro exemplo é o da SciCrop, liderada por José Damico: a startup criou uma estação meteorológica de baixo custo para pequenos agricultores. “Muitas vezes o que falta é informação”, diz Damico. “Com esse monitoramento, o produtor recebe uma previsão personalizada.” Atualmente, a SciCrop tem 1,5 mil clientes entre produtores, cooperativas e produtores.
Para Francisco Jardim, proprietário do principal fundo de capital de risco voltado para o agronegócio, o SP Ventures, o Brasil tem potencial para produzir tecnologias revolucionárias nessa área. “Nossa agricultura é sofisticada, temos muitos empreendedores, além de um mercado consumidor forte”, afirma. No total, o fundo já investiu R$ 60 milhões em startups do setor desde 2013.
Piracicaba. Um grupo de pesquisadores e startups trabalha para transformar Piracicaba, no interior de São Paulo, no principal polo de startups focadas em agronegócio (agtechs) do Brasil. Até o momento, mais de 100 empresas em estágio inicial fazem parte do grupo, chamado AgTech Valley.
Na cidade, está localizada a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, a Esalq/USP. Trata-se de uma das cinco maiores universidades agrícolas do mundo.
Segundo o professor Mateus Mondin, um dos idealizadores do AgTech Valley, Piracicaba sempre foi um polo de tecnologia, mas há pouco investimento. “Falta apoio para criarmos mais startups competitivas globalmente”, diz.
Fonte: Estadão Conteúdo
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