Diante da atual capacidade produtiva de cana-de-açúcar e de setores intensivos em florestas plantadas para obtenção de madeira, como a indústria de papel e celulose, o Brasil tem alto potencial de se destacar em bioenergia.
Vantagens competitivas como clima propício e disponibilidade de terra se somam à expectativa de regulações para cortes de emissões de carbono, estimulando o setor. De acordo com estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a biomassa já corresponde a 30,9% de toda a geração energética brasileira e a 8,2% da matriz energética, com crescimento médio de 13% ao ano desde 2006.
“A tendência é aumentar em maiores proporções, com a retomada do crescimento da economia e a promoção de novos leilões de energia renovável pelo governo”, diz Jeferson Soares, superintendente da EPE, ao lembrar que parte da atual expansão se deve ao declínio do mercado de aço, que forçou a indústria de ferro-gusa a queimar carvão vegetal para vender energia à rede do Sistema Integrado Nacional.
A estimativa, considerando todos os setores, é que a participação da biomassa na produção de eletricidade aumente 50% até 2026.
O ritmo tem sido puxado pela indústria sucroalcooleira, que começou a exportar os excedentes de energia do bagaço e da palha de cana para a rede elétrica há 30 anos. Hoje 80 usinas injetam no sistema 21 TWh, 5% do consumo total brasileiro, evitando a emissão de 9 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
“Temos muito que avançar: em 2010 chegamos a acrescentar no sistema o equivalente a uma hidrelétrica de Itaipu, mas em 2017 será quatro vezes menos”, aponta Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única). A expectativa de retomada está no programa RenovaBio, criado pelo Ministério de Minas e Energia para fomentar biocombustíveis.
A cana responde por quase 77% da capacidade instalada de geração de biomassa para energia, abrangendo resíduos de floresta, biocombustíveis líquidos e biogás do lixo urbano e de dejetos animais. Os avanços na mecanização da lavoura, com o fim das queimadas a partir de protocolo ambiental encerrado neste ano no Estado de São Paulo, possibilitaram o aproveitamento também da palha – correspondente a um terço do potencial energético da planta.
“Mesmo assim, estamos usando menos de 20% dessa capacidade”, enfatiza Souza, reivindicando mais clareza e ousadia para a política voltada à bioenergia: “Chegar a 2026 com geração de 400 MW por biomassa, conforme prevê o Plano Decenal de Expansão de Energia, é um objetivo tímido”.
“A biomassa pode desempenhar papel fundamental na descarbonização do sistema elétrico diante de um ambiente restritivo a emissões de gases de efeito estufa que o mundo está desenhando”, projeta Suzana Khan, professora de engenharia de transportes da Coppe/UFRJ, onde estuda a viabilidade das tecnlogias de Carbon Capture and Storage (CCS) para se capturar e enterrar o carbono emitido por atividades econômicas.
O método teria a função de potencializar os benefícios do uso energético da biomassa, ao remover as emissões atmosféricas da queima. “E isso tende a se tornar economicamente viável no mercado que incorpora novos padrões em resposta às mudanças climáticas, como a precificação de carbono”, afirma.
O cenário pode impulsionar setores como o da produção florestal, que hoje representa 21% das fontes de biomassa usadas para gerar energia no Brasil. Destaca-se ainda a geração de biogás em aterros sanitários, que tende a ser alavancado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, na busca por soluções adequadas para o lixo.
“O negócio é atrativo e tende a se expandir como alternativa financeira à atual inadimplência dos municípios nos contratos para destinação dos resíduos aos aterros”, revela Carlos Silva, diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Estudo da entidade indica: os aterros sanitários existentes no país têm capacidade de gerar em três décadas 500 MWh – suficientes para abastecer cerca de 3,2 milhões de pessoas. De acordo com a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás), o Brasil tem condições de gerar 115 mil GWh de energia por ano com o aproveitamento dos rejeitos urbanos, da pecuária e da agroindústria. O potencial de geração de todo o lixo abasteceria 30% da demanda de energia elétrica atual do Brasil.
Fonte: Valor Econômico
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