Os Estados Unidos ameaçam retaliar o Brasil caso seja aprovada qualquer taxação sobre a importação de etanol, conforme apurou o Valor. Washington definiu essa posição num momento em que, por um lado, as indústrias americanas buscam ampliar mercados e, por outro, o setor produtivo brasileiro tenta se proteger contra a disparada recente das importações. Segundo uma fonte a par do assunto, o governo americano enviou uma carta à Câmara de Comércio Exterior (Camex) após a União das Indústrias de Cana¬de¬Açúcar (Unica) pedir, em março, um imposto de 16% sobre o produto importado. Procurada, contudo, a Camex informou que "não tem conhecimento" sobre a ameaça americana. Praticamente todo o etanol importado pelo país vem dos Estados Unidos. Semanas antes do pedido da Unica, grupos regionais de usinas, lideradas pelas do Nordeste, haviam demandado o retorno de uma taxa de 20%. O etanol está na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum do Mercosul (Letec) desde 2010. Atualmente, os dois países estão trocando comunicações sobre o assunto, afirmou ao Valor Ernest Carter, economista sênior de biocombustíveis do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que participou ontem de um evento da consultoria F.O. Licht's sobre o segmento.
Do lado brasileiro, há forte pressão da indústria produtora, especialmente do Nordeste, para desestimular as importações. Além de o etanol americano chegar mais barato que o brasileiro na época da entressafra do Centro¬Sul, o biocombustível tem facilidade para entrar pelo Porto de Itaqui (MA), já que o Estado não cobra ICMS no desembarque do produto. O argumento da Unica, que representa as usinas da região Centro¬Sul do Brasil, é ambiental. A entidade sustenta que a tributação é necessária porque o etanol americano, produzido a partir do milho, emite mais gás carbônico que o brasileiro, feito a partir da cana.
Do lado americano, a possibilidade do Brasil voltar a taxar o bicombustível aumenta a pressão sobre as indústrias do país, já que esta não foi a única ameaça recente para o comércio americano de etanol. Em janeiro, a China elevou seu imposto de importação sobre o biocombustível de 5% para 30%, o que pegou os EUA de surpresa, de acordo com Carter. Brasil e China aumentaram suas participações em os destinos para as exportações do etanol americano nos últimos anos. Em 2016, foram o primeiro e o terceiro principais destinos, respectivamente. Essas duas ameaças surgiram em um momento em que a indústria dos EUA quer ampliar sua presença no mercado internacional. "Atualmente, o consumo americano de etanol tem caído, então a expansão tem que ser via mercado externo", argumentou Carter.
Como o USDA considera que o comércio global ficará estável na próxima década, a ideia é ganhar participação tomando espaço do Brasil. Para Carter, o etanol americano tem potencial para crescer por causa do menor custo de produção em relação ao etanol brasileiro e também porque há perspectiva de incremento da demanda doméstica no Brasil. Carter afirmou, ainda, que a pegada de carbono do etanol americano tem diminuído nos últimos anos, embora na média ainda seja maior que o etanol brasileiro.
Fonte: Valor Econômico
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