Os preços do etanol vêm caindo nos postos de combustível de São Paulo, maior polo consumidor do país, desde o início do ano, mas a um ritmo mais lento do que nas usinas do Estado, em decorrência do aumento das margens de comercialização das distribuidoras e postos.
Desde a primeira semana do ano, o indicador Cepea/Esalq para o etanol hidratado nas usinas paulistas já recuou 17,8%, enquanto o preço médio do biocombustível nas bombas do Estado recuou 5,9%, conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Cálculos feitos pelo Valor e por analistas indicam que a diferença entre o que os intermediários pagam e o que recebem pelo etanol está sensivelmente maior nesta safra, o que vem gerando incômodo entre as usinas produtoras.
As margens dos postos paulistas, segundo a ANP, ficaram em R$ 0,401 o litro no período entre 12 e 18 de março. Em quatro semanas, a margem média foi de R$ 0,360 o litro, um aumento de 7,5% sobre as quatro semanas anteriores.
No caso das distribuidoras, as margens calculadas pelo Valor a partir dos preços nas usinas e nos postos, acrescido da incidência de PIS/Cofins, indica que, em quatro semanas, a margem média ficou em R$ 0,562 o litro, alta de 4,2% sobre o período imediatamente anterior.
É comum que os intermediários adotem margens diferentes ao longo do ano. Durante a entressafra, as margens das distribuidoras costumam ser menores, porque é o período em que os preços do etanol nas usinas costumam subir por causa da oferta reduzida, explica Willian Hernandes, sócio da FG/A.
Nesta entressafra, porém, os valores do etanol vêm recuando nas usinas, em parte porque a queda do consumo em 2016 foi forte o suficiente para permitir a redução dos preços. E também porque houve uma importação acima do esperado no período, de mais de 800 milhões de litros, segundo Hernandes.
Entretanto, analistas notam que as margens dos intermediários têm se mantido mais altas que a média histórica ao longo da safra 2016/17, iniciada oficialmente em abril passado.
De acordo com a FG/A, a margem média das distribuidoras nesta safra 2016/17 até 18 de março está em R$ 0,624 o litro, um aumento de 14,5% na comparação com a temporada anterior. Apenas nas últimas quatro semanas, a diferença na comparação com o mesmo período da safra passada é de 74%.
Outro cálculo, feito por uma companhia do setor, indicou que a margem média apenas das distribuidoras nesta safra até 18 de março está em R$ 0,180 o litro, 34% maior que na safra passada.
O movimento incomoda as usinas, principalmente as que seguraram etanol para vender na entressafra e viram a queda dos preços recebidos enquanto o consumo ainda não reage, já que a correlação com os preços da gasolina nos postos ainda não é vantajosa.
Procurado, o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) replicou o posicionamento que adota em relação a questionamentos sobre preços, afirmando que "não tem conhecimento das políticas de preços das suas associadas, até por força das disposições legais a que estão sujeitas as associações".
De acordo com o sindicato, "os preços são livres e determinados pelo mercado, e portanto podem mudar diariamente, para cima ou para baixo, independentemente de ocorrerem ou não reajustes no produtor".
Ao mesmo tempo produtora e distribuidora de etanol, a Raízen (joint venture entre Cosan e Shell) preferiu não responder sobre o represamento do repasse dos preços. A companhia detém 19,5% do mercado de distribuição de etanol no país. Procuradas, BR Distribuidora e Ipiranga (com 20,4% e 19,3% de participação, respectivamente) disseram que não comentam sobre suas políticas comerciais.
Um concorrente da Raízen Energia avaliava uma semana atrás que, se os intermediários estivessem adotando a margem média para esta época, o etanol já estaria sendo comercializado nos postos abaixo de 70% do valor da gasolina, patamar que torna o etanol atrativo para os motoristas.
Fonte: Valor Econômico
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