A trading Wilmar International, com sede em Cingapura, vem comprando volumes inéditos de açúcar na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), criando confusão em um dos mercados mais voláteis de commodities. A Wilmar, que tem entre seus principais acionistas a família do bilionário Robert Kuok, da Malásia, e a trading Archer Daniels Midland (ADM), foi fundada há 26 anos. A companhia é uma das maiores produtoras mundiais de óleo de palma, mas relativamente nova no comércio de açúcar.
Na semana passada, a Wilmar concordou em comprar US$ 512 milhões em açúcar demerara no vencimento do contrato março na Bolsa de Nova York. A trading vem optando pela liquidação física de dezenas de milhares de contratos futuros, recebendo a commodity em portos da América do Sul e de outras localidades. Desde 2015, a Wilmar já comprou mais de 6 milhões de toneladas de açúcar dessa maneira, ao custo de US$ 2,3 bilhões.
Os efeitos desses movimentos da Wilmar são assunto para discussão entre traders. Em determinado momento de 2015, quando os preços estavam em níveis muito baixos por causa do excesso de oferta, a Wilmar comprou tanto açúcar que, na prática, absorveu o excedente global daquele ano, segundo traders. No rali que se seguiu, os preços de açúcar mais do que dobraram. Em setembro do ano passado, quando os preços atingiram um pico, a Wilmar fez uma entrega física na Bolsa. Nos meses seguintes, os preços de açúcar caíram 24%.
“Todos estão olhando para eles”, disse Bruno Lima, diretor de açúcar e etanol na corretora INTL FCStone no Brasil. Na semana passada, traders e analistas estavam estudando a compra mais recente da Wilmar e tentando decidir se isso era um sinal positivo de demanda.
A Wilmar, que entrou no negócio de açúcar em 2010, possui plantações de cana-de-açúcar, usinas e refinarias, principalmente na Ásia. A trading também comercializa a commodity, comprando açúcar demerara e vendendo o produto para refinarias em todo o mundo. No ano passado, a companhia movimentou 13,5 milhões de toneladas de açúcar, ou cerca de 8% da produção mundial. Alguns analistas dizem que a Wilmar é possivelmente a maior trading de açúcar do mundo.
No entanto, o tamanho e a escala da companhia estão levantando temores entre alguns traders de que ela poderia controlar grande parte do açúcar comercializável no mundo e, assim, influenciar os preços. “Eles mexem com o mercado”, disse o trader Nick Gentile, da Nickjen Capital, referindo-se à Wilmar. Cerca de dois terços da produção mundial são consumidos nos países produtores, e o restante é comercializado internacionalmente.
Influência
Jean-Luc Bohbot, francês de 48 anos que comanda o negócio de açúcar da Wilmar, disse não haver evidência de que os movimentos da companhia afetem os preços. Isso é “uma visão muito incorreta”, disse em entrevista recente. “O açúcar é uma commodity muito fragmentada, com um número muito grande de players em todo o mundo.” Bohbot disse também que não há uma correlação clara entre as compras e vendas realizadas pela Wilmar e as altas e quedas dos preços. Segundo ele, nas últimas décadas os preços se movimentaram em ambas as direções quando houve grandes entregas físicas.
Liquidações físicas de negociações com contratos futuros são algo raro. De acordo com a Intercontinental Exchange, operadora da ICE Futures US, menos de 0,5% das negociações resultam em entrega física das commodities. No caso do açúcar, compradores só ficam sabendo em que lugar do mundo terão de receber o produto após o vencimento do contrato.
Segundo Bohbot, a Wilmar acha econômico comprar grandes quantidades de açúcar usando contratos futuros, porque as regras da Bolsa exigem que os vendedores entreguem o açúcar nos navios do comprador, o que facilita a comercialização internacional. O executivo disse que a Wilmar vende e entrega a maior parte do açúcar que compra para refinarias na Ásia e no Oriente Médio, onde o consumo está crescendo. Esse tipo de comércio, no entanto, é pouco rentável quando frete e outros custos são incluídos na conta, disse. “A margem é muito pequena, e às vezes não há margem.”
Em 2016, a receita da divisão de açúcar da Wilmar cresceu 33%, para US$ 5,9 bilhões, em parte por causa dos preços mais altos de açúcar. O lucro da divisão foi de US$ 125 milhões, e a margem ficou em 2,1%.
A Wilmar entrou no mercado de açúcar ao comprar, por US$ 1,5 bilhão, a maior produtora australiana da commodity. Depois, contratou Bohbot para que ele expandisse o negócio internacionalmente. A trading fez várias aquisições e entrou em joint ventures com produtores de açúcar e refinarias em países como Indonésia, Mianmar, Índia e Marrocos. No ano passado, formou uma joint venture com a brasileira Raízen, o que deve aumentar o volume de açúcar que movimenta.
Frank Jenkins, presidente da trading Jenkins Sugar Group, disse que as compras em grande escala da Wilmar no mercado futuro são um sintoma do crescimento do negócio de açúcar da companhia. Fonte: Dow Jones Newswires.
Fonte: Estadão Conteúdo
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