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Diversificação no uso do bagaço de cana abre novas perspectivas de mercado para o setor | Assovale - Associação Rural Vale do Rio Pardo

Diversificação no uso do bagaço de cana abre novas perspectivas de mercado para o setor

Abundante no Brasil, o bagaço de cana, já consolidado como fonte para a produção de energia elétrica renovável e etanol de segunda-geração (2G), vislumbra novas oportunidades comerciais: ser a matéria-prima mais sustentável na fabricação de carvão ativo, material utilizado principalmente para descontaminação ambiental.

Após estudo de dois anos realizado pelo Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), ligado ao Centro Nacional de Pesquisas em Energias e Materiais (CNPEM), pesquisadores chegaram à conclusão de que o produto a base de cana pode ser uma alternativa até 20% mais barata em relação aos concorrentes importados, e com a mesma eficiência nas aplicações domésticas e industriais.

O consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc, destaca o leque de opções que a biomassa sucroenergética oferece para diferentes segmentos da economia brasileira e mundial. “Esta inovação reafirma, no mercado de baixo carbono, as qualidades técnicas e ambientais dos produtos obtidos a partir da cana. Biocombustíveis, bioeletricidade e bioplásticos são hoje realidade nos transportes, setor elétrico e na indústria química”, observa.

O projeto de desenvolvimento do primeiro carvão ativo de origem nacional e sustentável nasceu em 2013, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e a partir de 2015 seguiu financiado pelo Centro Brasil-China de Pesquisa e Inovação em Nanotecnologia (CBC-Nano), uma parceria que se estenderá até 2019.

No momento, cientistas dos dois países têm conduzido testes laboratoriais no Centro Chinês de Pesquisas em Nanotecnologia (NERCN), em Shanghai, para aferir o potencial de descontaminação do novo produto, processo já validado no Brasil. A instituição vem buscando novas tecnologias para tratamento de água, esgoto e também do ar em túneis que compõem a rede viária chinesa, cujas cidades estão entre as mais poluídas do mundo.

Menos é mais

Segundo o pesquisador Mathias Strauss, ensaios realizados no LNNano, em Campinas (SP), demonstraram que 1 quilo de bagaço de cana pode ser convertido em até 250 gramas de carvão ativado. “Métodos de preparo que levam a rendimentos menores resultam também em materiais de alta área superficial e capacidade elevadíssima de absorção. Nossos estudos mostram uma capacidade até duas vezes e meia melhor em comparação com carvões ativos comercializados atualmente”, explica.

Além do benefício ambiental, o cientista brasileiro destaca a vantagem econômica em se fabricar um produto de origem renovável no Brasil e com matéria-prima nacional. “O grande problema é que existe uma dependência do País do mercado exterior para a obtenção desse produto. Se pensarmos na questão cambial, nosso sistema comercial fica muito fragilizado. O bagaço possui valor inferior às fontes de biomassa comumente utilizadas para a produção de carvão ativo, como casca de coco, ossos, bambu e madeira”, conclui.

Resposável por absorver substâncias tóxicas em geladeiras, filtros de ar, água, cigarros e aquários, o carvão ativo também tem outras aplicações, tais como purificar óleos e clarificar açúcar, gelatinas, vinhos e sucos. Estimativa do CNPEM indica que para um município com 1 milhão de habitantes, seja utilizada 1 tonelada do produto ativado por dia para o tratamento de água. Presume-se também, como vantagem ambiental indireta, que o carvão ativo do bagaço de cana evitará o uso e queima de madeira decorrente do desmatamento.

Inovação

Além de dar mais um destino sustentável e rentável para o bagaço de cana, a pesquisa do LNNano também inovou ao estudar a possibilidade de utilizar nanopartículas de prata associadas ao novo material. Conhecidas por promover atividades antimicrobianas, as nanopartículas podem aumentar a capacidade de absorção de contaminantes dos carvões ativos. De acordo com o laboratório brasileiro, estudos sobre o tema ainda estão em andamento.


Fonte: UNICA

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