Surpreendendo o Brasil, a China sinalizou que pretende visitar o País para fazer uma verificação in loco da produção e exportação de açúcar em meio ao processo de abertura de salvaguarda, alegando um surto (disparada) de importações do produto pelo país. Além do Brasil, há também a intenção de visitas à Austrália. "É uma coisa um pouco estanha essa verificação, não é uma coisa normal", considerou nesta sexta-feira, 2, o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão de Sousa. "Esse processo de salvaguarda também está complicado porque costuma ser feito em processos de antidumping. Estamos querendo entender um pouco melhor o que os chineses devem fazer", acrescentou durante a Conference on Advanced Biofuels and Bioeconomy, que ocorre na capital britânica.
A China é o maior importador do produto brasileiro e há o temor de que o país queira sobretaxar as compras domésticas. Atualmente, já há uma taxa de 50% sobre as importações que ultrapassem as cotas do país. Na próxima semana, o Global Sugar Aliance, um grupo ligado à indústria do açúcar formado por representantes de países como Brasil, Austrália, Tailândia, África do Sul, Índia, Guatemala e Canadá, deve soltar uma nota sobre o assunto. O grupo esteve reunido nesta quinta-feira, 1, para conversas variadas sobre o setor, num encontro que ocorre todos os anos, mas o assunto que dominou as conversas, de acordo com Leão de Sousa, foi a abertura de salvaguarda chinesa. "A associação mostra que está alinhada e deve divulgar uma nota como resultado da reunião, questionando essa salvaguarda na semana que vem", informou. Para o grupo, segundo o executivo, esse movimento chinês soa mais como uma questão política. A província que solicitou essa verificação, de acordo com ele, é uma das mais pobres da China. "Pode ser um gesto para essa província", deduziram os participantes do grupo internacional, que deve voltar a se reunir no ano que vem, novamente em Londres.
Tailândia
O Brasil e a Austrália devem aguardar ainda um mês antes de abrir painel na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a Tailândia por causa do setor de açúcar, disse Leão de Sousa. "O prazo final deveria ser dezembro, mas entendemos que a gente deve esperar mais o mês de dezembro porque há sinais de que eles realmente estão fazendo alterações", disse o executivo durante a Conference on Advanced Biofuels and Bioeconomy. Na quinta-feira, durante reunião anual do Global Sugar Aliance, um grupo ligado à indústria do açúcar formado por representantes de países como Brasil, Austrália, Tailândia, África do Sul, Índia, Guatemala e Canadá, foi realizada uma reunião "trilateral" sobre o tema. "Estamos questionando umas políticas que adotam (Tailândia), o sistema de cotas para consumo doméstico e exportação, com os preços domésticos acima dos do mercado internacional, e subsídios aos produtores de cana", enumerou o executivo. Leão de Sousa lembrou que o Brasil e a Austrália já entraram com um processo formal na OMC e que houve duas reuniões de consulta, uma em Genebra e outra em Brasília. "O resultado é que eles conseguiram se conscientizar de que precisam mudar essa forma e propuseram para que nós segurássemos o painel", disse.
O representante da Unica salientou que os tailandeses já aprovaram a eliminação de subsídio aos produtores de cana e agora estão revendo o sistema de cotas e o preço mínimo de açúcar no mercado doméstico. "Estamos em negociação. Nosso governo está discutindo com o governo deles, em Genebra, a assinatura de um memorando de entendimento que reflita essas condições , um cronograma claro de alterações e, mais do que isso, que a gente entenda claramente o que e se eles vão colocar alguma coisa no lugar", disse.
Etanol
O Brasil não deve olhar apenas para a produção de etanol de segunda geração, mas também para o de primeira, feito a partir do caldo da cana, em sua estratégia de reduzir as emissões acordada durante a COP 21, disse Leão de Sousa. "Queremos trazer mensagem neste evento que o Brasil deve olhar não necessariamente só o de segunda geração. Temos já o etanol tradicional, que é o de caldo de cana, considerado como avançado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, que é capaz de reduzir em mais de 60% as emissões. Então, ele é um etanol de primeira geração, mas com desempenho semelhante ao de segunda geração. Temos que levar isso em consideração", argumentou. Leão de Sousa salientou que o setor sucroalcooleiro é um dos que mais podem contribuir para a redução das metas, o Brasil tem de diminuir as emissões em 43% em relação a 2005. "Tem se dado muita ênfase à segunda geração, principalmente na Europa, mas temos que avaliar sob a ótica de redução de emissões, com base no resultado efetivo. Esse é o ponto que temos de levar em consideração", alegou.
No caso brasileiro, de acordo com o executivo, não existe etanol de segunda geração sem o de primeira, até porque são necessários o bagaço e a palha da cana para a produção do biocombustível celulósico. "Temos no Brasil a vantagem de que a nossa biomassa está do lado da indústria, então não temos custo com logística, que é superimportante nesse processo", considerou.
Fonte: Estadão Conteúdo
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