O mercado de etanol hidratado, que concorre com a gasolina nos postos, está menor neste ano devido à redução da oferta por parte das usinas e ao desaquecimento da demanda pelo biocombustível, que está menos competitivo que o rival fóssil. Desde o início da safra, em abril, até julho, as vendas de etanol hidratado das usinas às distribuidoras e das distribuidoras ao varejo estão cerca de 15% menores que no mesmo período de 2015.
No acumulado da safra, as usinas entregaram 5,217 bilhões de litros de hidratado às distribuidoras, ante mais de 6 bilhões em igual intervalo do ano passado, conforme a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). Aos consumidores, chegaram desde abril 3,74 bilhões de litros do biocombustível, enquanto no mesmo período do ano passado as vendas no varejo ficaram em 4,424 bilhões de litros, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A disponibilidade menor de etanol por parte das usinas está relacionada a sua menor rentabilidade ante os demais produtos oriundos da cana (açúcar e etanol anidro, que é misturado à gasolina), segundo Martinho Ono, presidente da SCA Trading. Para ele, a quebra da safra de cana que começa a se confirmar no Centro-Sul após algumas adversidades climáticas está sendo descontada na produção de etanol hidratado.
“A quebra de eventuais 15 milhões de toneladas a 20 milhões de toneladas de cana [ante o projetado inicialmente] praticamente preserva o volume de açúcar que o setor fará por conta de compromisso assumidos com exportação, e a produção de anidro também será preservada”, avalia Ono.
Na segunda quinzena de julho, quando a moagem de cana registrou uma leve queda, a produção de etanol hidratado recuou 12% na comparação anual, para 1,146 bilhão de litros. A redução tem sido menos acentuada desde o início da safra, com uma variação de 1,3%, para 7,629 bilhões de litros.
O reflexo da quebra da safra de cana apenas na produção de etanol hidratado se reflete na evolução da produção de açúcar e etanol anidro. As usinas do Centro-Sul já fabricaram 26% mais açúcar e 22% mais etanol anidro desde o início da safra até o fim de julho, somando 16,9 milhões de toneladas e 5,2 bilhões de litros, respectivamente.
Essa oferta mais apertada do hidratado vem sustentando os preços e impondo um ritmo mais comedido ao consumo, segundo Ono. O indicador Cepea/Esalq que mede os preços recebidos pelas usinas paulistas pela venda do biocombustível está mais de 30% acima do valor da mesma época do ano passado, em R$ 1,5688 por litro. Para os motoristas de São Paulo, o hidratado está cerca de 10% mais caro que na mesma época de 2015 e ficou em média por R$ 2,292 o litro na semana passada.
Nesses patamares, o etanol só tem sido mais vantajoso do que a gasolina em três Estados nas últimas semanas: São Paulo, Minas Gerais e Paraná, onde os valores do biocombustível aos motoristas tem se mantido abaixo de 70% dos preços da gasolina. Segundo Vitor Andrioli, analista da consultoria FCStone, a correlação de preços desfavorável ao etanol tem transferido os consumidores do biocombustível ao combustível fóssil. “Mas também tem redução do consumo de combustíveis do ciclo Otto em função da recessão”, diz.
Esse ajuste nos preços do etanol deve manter a oferta compatível com a demanda, mesmo na entressafra, que deve começar por volta de dezembro, avalia o presidente da SCA Trading. Para Ono, as vendas mensais de etanol hidratado pelas usinas devem continuar em média em 1,3 bilhão de litros até a entressafra, quando o volume deve cair para cerca de 1,1 bilhão de litros mensais, estima Ono.
O mercado teme ainda que o hidratado perca mais competitividade em 2017 com a retomada da cobrança de PIS/Cofins de R$ 120 por metro cúbico (mil litros). Segundo executivos e analistas, se o governo não alterar o preço da gasolina até lá, essa cobrança será em parte repassada ao consumidor.
Fonte: Valor Econômico
16 3626-0029 / 98185-4639 / contato@assovale.com.br
Criação de sites GS3