O dólar, que fez a alegria dos produtores nos primeiros meses deste ano, começa a preocupar o setor. Quando superou os R$ 3, a moeda norte-americana dava sustentação aos preços internos das commodities, inibindo os efeitos da queda de preços de Chicago -principal Bolsa de commodities do mundo.
Agora, com o dólar abaixo de R$ 3, os preços internos começam a ceder. O efeito é uma retração do ritmo de comercialização da safra.
A AgRural, consultoria que acompanha o preço da soja em 31 das principais praças de comercialização no país, constatou que a oleaginosa já recuou 7% desde o fim de março até esta terça (28).
Nesse período, os produtores que deixaram de vender no final de março estão recebendo R$ 4,40 a menos em relação aos preços atuais.
Primavera do Leste, uma das regiões produtoras de grãos de Mato Grosso, por exemplo, comercializava a saca de soja a R$ 59 em 31 de março. O preço atual já recuou para R$ 54, uma queda de R$ 5 por saca.
Em Paranaguá, a saca de soja está cotada em R$ 65,50, o menor valor atingido no porto desde 23 de fevereiro deste ano. No final de março, estava em R$ 70.
Com esse novo cenário, toda a animação do produtor em fevereiro e março começa a si dissipar. A moeda norte-americana, que estava em R$ 3,19 em 31 de março, recuou para R$ 2,94 nesta terça.
Sem preços firmes, a comercialização não anda. A AgRural estimou que a comercialização da safra 2014/15 de soja estava em 40% no final de fevereiro, atingindo 53% em março.
A agência divulga nos próximos dias a evolução dessas vendas, mas os primeiros resultados apontam que não deverá grande evolução.
O milho também tem queda no mercado interno. O valor médio da saca caiu para R$ 24,20 neste mês, 2% no mês e 6% em relação a abril de 2014, conforme dados da consultoria Clarivi.
Na análise da consultoria, a queda de preços do cereal ocorre devido à maior oferta. A colheita de verão já atinge 80% da área cultivada na região centro-sul.
Já as exportações, tanto as de soja como as de milho, vão ficar bem distantes, neste mês, em relação às de abril de 2014. As de soja devem cair 21%, enquanto as de milho recuam 79% no mesmo período, conforme apontam os dados da Secex.
Mas a preocupação dos produtores com o dólar não se restringe apenas ao efeito sobre os preços dos grãos. Também pesam os custos que vão ter pela frente com a compra de insumos.
Algumas empresas já definiram o valor desses insumos com base no dólar mais elevado e, qualquer descasamento na hora da venda traz prejuízo certo.
Cenário de queda As duas principais Bolsas de commodities deverão terminar o mês com queda em todos os principais contratos negociados. E todas as quedas vão superar os 20% ante igual período do ano anterior, à exceção do cacau, cujo recuo é pequeno.
Grãos Na Bolsa de Chicago, na qual são negociados os principais grãos, milho poderá ter a menor queda. Ao ser negociado a US$ 3,61 por bushel, o primeiro contrato deverá recuar 29% em relação a abril de 2014. Já a soja cai 35%, e o trigo, 33%.
Açúcar Em Nova York, a maior queda poderá ser atingida pelo café, até então com boa evolução de preços. Se mantidos os preços próximos aos atuais de US$ 1,38 por libra-peso, a queda será de 31% na comparação com abril do ano passado. Suco de laranja e algodão têm recuo de 27%; e o açúcar, de 22%.
*Texto publicado na coluna Vaivém das Commodities.
Mauro Zafalon
Fonte: Folha de S. Paulo
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