Por outro lado, as empresas familiares — que até 2012 representavam 25% do market share — perdem cada vez mais espaço, caminhando progressivamente para a extinção. "Cerca de 98% dos pequenos grupos familiares estão estrangulados pelo alto nível de endividamento e pela reduzida capacidade de contrair crédito, que prejudicam suas possibilidades de investimento", afirma Maurício Muruci, analista da consultoria Safras & Mercados.
De acordo com o especialista, as empresas do setor vivem esse dilema de boas perspectivas no longo prazo, mas um retrato contraditório no curto prazo, já que a porta de saída da crise depende da diversificação nos negócios e dos investimentos em novas tecnologias e inovação que demandam capital intensivo. "Quem detém condições de investir na geração de energia por biomassa, etanol de segunda geração e em tecnologias agrícolas que permitem produzir mais gastando menos, são os grupos de maior porte como a Bunge, Cargill e Louis Dreyfuss, que são altamente capitalizados e têm poder de fogo para destinar recursos para novo negócios que vão dar retorno no longo prazo", diz.
Para Muruci, a crise financeira mundial atuou como uma espécie de seleção natural entre as usinas e destilarias brasileiras. "Até 2007, a atividade era altamente rentável o que permitia que os grupos familiares conseguissem manter os seus lucros, a despeito da falta de profissionalização na gestão. Contudo, na safra 2007/2008 veio a crise do subprime , que provocou a queda geral dos preços das commodities, secando o fluxo de caixa dessas empresas. A partir daí, os investimentos em produtividade despencaram, porque o crédito ficou mais caro. Se essas empresas tivessem partido para a profissionalização da gestão, teriam sentido o impacto da crise, mas não nessa proporção catastrófica — mais de 60 usinas fecharam as portas de 2007 para cá", diz.
De fato, os grandes investimentos que vêm sendo realizados na diversificação de negócios no setor sucroalcooleiro foram empreendidos pelos grupos mais capitalizados. A produção de etanol de segunda geração, a partir do bagaço e palha da cana-de-açúcar, vem sendo desenvolvido por empresas como a Raízen (fruto de uma parceria entre a Shell e a Cosan) e pela GranBio (que conta com participação societária de 85% da família Gradin e mais 15% do BNDESPar). "Gigantes como Louis Dreyfuss, Cargill e Bunge também estão investindo nessa área, com tecnologias desenvolvidas nos EUA e Europa", frisa Muruci.
Mas a geração de energia por biomassa se tornou um excelente filão desde o ano passado. Por causa da seca e da consequente queda de capacidade de geração de energia das hidrelétricas, a cogeração de energia por biomassa de cana-de-açúcar ganhou força graças aos preços atrativos para as empresas do setor. O preço da energia no mercado livre atingiu R$ 822,83 por megawatt-hora (MWh), teto estabelecido pela Aneel. No mercado regulado as perspectivas também são positivas porque o governo federal realizou mudanças nos leilões de energia, adotando preços diferentes de acordo com as fontes de geração. As termoelétricas (gás, biomassa e carvão) tiveram preços de referência de R$ 209 por MWh, enquanto as fontes solar e eólica tiveram R$ 137 por MWh, estimulando a contratação de seis projetos pelo setor sucroalcooleiro.
"Das 389 usinas do setor, 170 fornecem energia para o sistema elétrico brasileiro, algo em torno de 40% do total. As outras empresas que estão fora precisariam fazer um retrofit em seus parques industriais — o que exige um grande investimento", afirma Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da Unica. Segundo ele, a geração de energia é uma realidade entre todas as grandes empresas do setor, com capacidade de moagem acima das 3 milhões de toneladas de cana.
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