Sete anos depois de embarcarem no projeto de construir a maior produtora de etanol do mundo, os fundos de investimento Ashmore e Tarpon, praticamente saíram do negócio de cana-de-açúcar que culminou, após muitos percalços, na empresa atualmente chamada Odebrecht Agroindustrial.
A controladora Odebrecht ficou sozinha no aumento de capital da subsidiária sucroalcooleira feito em novembro e, com isso, elevou de 56% para 99,98% sua participação.
Os outros acionistas, entre os quais a BNDESPar e os dois fundos, tiveram sua fatia diluída a 0,02%, ante os cerca de 44% detidos anteriormente.
A Odebrecht Agroindustrial é hoje uma empresa que tem capacidade para processar mais de 35 milhões de toneladas e que neste ciclo 2014/15 deve moer em torno de 25 milhões.
É o resultado da fusão do negócio sucroalcooleiro da Odebrecht com a Brenco (Companhia Brasileira de Energia Renovável), empresa criada pelo ex-presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, e que, no afã do boom do etanol, atraiu recursos de dezenas de investidores estrangeiros, entre os quais a Ashmore e a Tarpon.
No mercado, já era esperado que os fundos - que já haviam contabilizado perdas resultante do investimento - não acompanhariam a chamada de capital, que poderia chegar a R$ 1,460 bilhão - mas como apenas a Odebrecht participou, se limitou a R$ 836 milhões.
O negócio de cana-de-açúcar do grupo é dono de uma dívida líquida de R$ 10,8 bilhões, equivalente a mais de quatro vezes sua receita líquida de R$ 2,6 bilhões no exercício encerrado em 31 de março deste ano.
Até o aumento de capital, o quadro acionário da companhia tinha a BNDESPar com 14,4% e os fundos Ashmore e Tarpon com 13,1% e 2,4%, respectivamente. Mais de uma dezena de micro investidores ficavam com o restante.
No entanto, apesar de parecer, o grupo Odebrecht não está agora sozinho nessa empreitada. A despeito da inércia que transformou em pó sua fatia acionária na subsidiária sucroalcooleira, a BNDESPar subscreveu em novembro R$ 2 bilhões em debêntures variáveis emitidas pela Odebrecht Energia que, por sua vez, subscreveu as debêntures emitidas também em novembro pela Odebrecht Agroindustrial.
No pano de fundo dessa triangulação está a venda concluída neste ano, por R$ 3,7 bilhões, dos ativos de cogeração de energia da sucroalcooleira para a subsidiária de energia do grupo.
Todas essas medidas - aumento de capital, venda da cogeração e emissão debênture - integram a estratégia adotada pela Odebrecht Agroindustrial para reforçar o caixa e investir sem aumentar a alavancagem.
Do total vindo do aumento de capital, R$ 620 milhões já entraram no caixa e os R$ 216 milhões restantes serão aportados até março do ano que vem.
Dos R$ 3,7 bilhões da venda das nove unidades de cogeração, R$ 1,1 bilhão já foram pagos, sendo R$ 478 milhões via transferência de dívida para a compradora e R$ 628 milhões com entrada de recursos no caixa. Os R$ 2 bilhões resultantes da emissão de debêntures também já estão dentro da companhia.
"Olhando no longo prazo, nada impede que, no futuro, em sendo retomado o interesse pelo setor de etanol, possamos ter parceiros de longo prazo ou abrir capital", afirmou o presidente da Odebrecht Agroindustrial, Luiz de Mendonça.
As operações feitas pela companhia vão compor a demanda de capital para realizar os investimentos de R$ 2,3 bilhões já aprovados pelo conselho da empresa para o triênio que começou nesta safra 2014/15.
O orçamento prevê aportes de R$ 900 milhões nesta safra 2014/15 (basicamente no plantio de cana), R$ 700 milhões em 2015/16 e outros R$ 700 milhões no ciclo 2016/17.
Mendonça diz que todo esse planejamento foi feito considerando apenas o aporte da controladora. Assim, disse ele, o fato de os outros acionistas não terem participado do aumento de capital não traz nenhum percalço.
Em nota, a BNDESPar informou que não participação no aumento de capital por uma "decisão de portfólio", como parte da gestão de sua carteira de ações.
O BNDES segue apoiando firmemente o setor sucroenergético e mantém a visão de que este possui elevada importância estratégica para o Brasil.
Esse posicionamento se reflete não apenas na manutenção de elevados desembolsos, mas também pela execução de programas com efeitos estruturais, informou o banco de fomento.
Assim como o BNDES, os dois fundos entraram no começo do negócio, no auge da euforia do etanol. Na época, a Brenco captou R$ 1,3 bilhão, dos quais R$ 1,2 bilhão do BNDESPar e R$ 700 milhões com fundos.
Já no início da construção das usinas - projetadas para moerem juntas 44 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no Centro-Oeste brasileiro - os recursos minaram em meio ao ápice da crise de 2008, e a companhia teve que se valer de empréstimos-ponte para tentar seguir com as obras que já estavam em um ritmo que já não permitiam interrupções.
Os empréstimos de curto-prazo não foram suficientes para sustentar a implementação do projeto e a Brenco foi incorporada em 2010 à então ETH, hoje Odebrecht Agroindustrial.
Pelo acordo, a Brenco precisou fazer nova captação entre seus acionistas R$ 655 milhões, dos quais R$ 275 milhões de dinheiro novo e R$ 380 milhões de dívidas convertidas em ações.
Na época, Reichstul concedeu entrevistas informando que metade desse aporte seria feito pelos três principais acionistas da Brenco, a BNDESPar, a Ashmore e a Tarpon.
A princípio, informava o ex-executivo da Petrobras, a BNDESPar deveria aportar 20% do capital novo prospectado pela Brenco entre seus acionistas e converter R$ 155 milhões de debêntures em ações.
Ainda assim, o BNDESPar teria sua parte diluída no novo negócio de 20,9% - referente ao capital de R$ 140 milhões investidos na Brenco - para 16,6%. A participação estrangeira também deveria ser diluída no novo negócio.
O fundo Ashmore, que tinha 37% - após comprar a parte da Amber Master Fund - passaria a deter 15% da nova empresa. A Tarpon que tinha 12% teria sua fatia diluída para 2,7%. Antes da fusão com a então ETH, a BNDESPar, a Ashmore e a Tarpon detinham quase 70% da Brenco.
Fonte: Valor
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