É provável que, nos próximos meses, poucas notícias influenciem mais os contratos futuros de açúcar em Nova York do que o cenário para o etanol no Brasil. Sem considerar câmbio e notícias de outros países produtores da commodity, as medidas envolvendo o biocombustível após o período eleitoral brasileiro - sobretudo o reajuste do preço da gasolina e o aumento do percentual de mistura de anidro na gasolina - têm potencial para elevar as cotações do açúcar no exterior.
Ainda que ninguém saiba exatamente poderá acontecer, as usinas instaladas no país estão animadas. Afinal, o candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, já declarou inúmeras vezes que dará apoio ao etanol, enquanto o ministro da Fazenda do atual governo Dilma, Guido Mantega, sinalizou recentemente que será preciso reajuste a gasolina. Além disso, são sólidas as perspectivas de que haverá um aumento de 25% para 27,5% do percentual de mistura de anidro no combustível fóssil.
Bruno Lima, especialista em gerenciamento de risco da consultoria FCStone, diz que a safra nos principais países produtores de açúcar no ciclo mundial 2014/15, iniciado em 1º de outubro, ainda não começou efetivamente. Segundo ele, as notícias sobre estiagem também tendem a alterar pouco os rumos desse mercado. "O que não parece ainda 'precificado' são essas medidas para o etanol", avalia. Lima observa, no entanto, que esses anúncios dariam algum suporte aos preços da commodity em Nova York, mas ainda limitado por um mercado que, no momento, continua com superávit.
Se for desconsiderada qualquer outra notícia externa ligada ao açúcar - oferta e demanda mundial ou câmbio -, o reajuste da gasolina e a elevação da mistura de anidro na gasolina teriam potencial para elevar as cotações internacionais do açúcar a patamar entre 17,50 e 18 centavos de dólar, nos cálculos de Lima. Ontem, em Nova York, os contratos para maio fecharam a 16,96 centavos.
No mercado, estima-se que o enxugamento da oferta de açúcar no Centro-Sul do Brasil em 2015 poderá chegar a 3,5 milhões de toneladas caso as duas medidas de apoio ao sejam adotadas. O cálculo considera demandas adicionais de 1,2 bilhão de litros de anidro e de 1 bilhão de litros e hidratado, que ganhará competitividade em caso de reajuste da gasolina.
Enquanto essas medidas continuam indefinidas, as usinas se concentram em tentar estimular o consumo de etanol hidratado. Nas últimas semanas, a Unica, que representa as usinas do Centro-Sul, relançou sua campanha publicitária em defesa do uso do biocombustível. A estimativa é que é preciso ampliar as vendas mensais de hidratado em 100 milhões de litros, para 1,2 bilhão, para que os preços sejam suficientes para cobrir os custos de carregar o biocombustível ATÉ a entressafra, que começará em dezembro.
Dados da Unica mostram que a demanda por hidratado nos postos segue em queda. Em setembro, foram 1,152 bilhão de litros, 1,8% menos que no mesmo mês de 2013. Desde o início da safra atual, em abril, as vendas estão 5% menores, em cerca de 6,4 bilhões de litros. Mas, segundo, Tarcilo Rodrigues, diretor da trading de etanol Bioagência, antes de tudo é preciso que o tamanho da safra de cana no Centro-Sul seja conhecido com precisão.
Ele explica que, neste momento, as previsões já divulgadas variam de uma moagem de 540 milhões a 560 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no Centro-Sul. A estimativa que considera a necessidade de ampliar o consumo mensal de etanol em 100 milhões de litros leva em conta um processamento de 560 milhões de toneladas de cana. "Se a moagem efetiva for de 550 milhões, com um mix de 60% para o biocombustível, a produção seria reduzida em 480 milhões de litros, o que mudaria as projeções de oferta de etanol", diz Rodrigues. Ele acredita que até meados de novembro a safra estará mais clara - e as projeções serão mais consistentes.
Fonte: Cenário MT
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