Bárbara Ladeia
Nos últimos quatro anos, cerca de 400 mil trabalhadores do setor foram desligados – falta de água no Estado deve intensificar as dispensas e esticar a entressafra
Jurandir Pedro de Souza, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas de Itapetininga, cidade do interior paulista, teve uma quarta-feira (10) cheia. Passou o dia em uma longa negociação com a Usina Vista Alegre Bioenergia, produtora de açúcar e álcool. Lá, cercas de 500 funcionários – desde rurais até motoristas – serão desligados da companhia.
O sindicalista tenta evitar o pior, mas a empresa ainda não trouxe nenhuma proposta para a mesa. “Os temporários já foram demitidos e agora eles vão dispensar quase 50% dos fixos”, lamenta. “Na quinta-feira (11) devemos voltar para a mesa à tarde e ver o que dá para fazer.”
No entanto, Jurandir sabe que não há muita saída para a grande crise vivida pelo setor sucroalcooleiro no Brasil – agora agravada pela seca no Estado de São Paulo, que concentra a maior parte da produção do País.
Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), espera uma queda de R$ 6 bilhões no faturamento do setor com essa antecipação e alongamento da entressafra. Serão produzidas 50 milhões de toneladas de cana a menos, o equivalente a uma queda de 8,7% frente ao ano passado.
A menor produção de açúcar e de etanol não deve afetar a oferta interna, tampouco o preço, no prognóstico de Pádua. “Vamos reduzir as exportações para não mexer no mercado interno”, explica. “Agora como vão manter a produção, como vão manter os funcionários, como vão se capitalizar a gente ainda não sabe. Possivelmente teremos baixas no meio do caminho até a próxima safra.”
De fato, é quase uma guerra. Nos últimos quatro anos, o setor encolheu para metade do seu tamanho em número de funcionários. Em toda a cadeia, segundo a Força Sindical, já foram 400 mil desligados, que, em sua maioria, acabou mudando de ramo. As perdas, segundo a Unica, já beiram os US$ 80 bilhões.
Setor enfrenta crise há cerca de quatro anos
Uma série de mudanças estruturais ancorou o setor, a começar pela retirada da Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide). O tributo incidia sobre a comercialização e importação de combustíveis em alíquotas diferenciadas, tornando o etanol mais competitivo. O controle dos preços da gasolina também pesa neste mesmo sentido.
Nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a participação do açúcar e do etanol no Programa Reintegra, por meio do qual as empresas serão ressarcidas em 0,3% sobre as receitas decorrentes de exportação – em 2015, essa parcela deve subir para 3%.
Embora a medida já ofereça certo alívio, Pádua ainda defende a criação de políticas de longo prazo. “É preciso adicionar algum benefício para estimular o consumo de um combustível mais alinhado com a realidade ambiental e econômica”, defende o representante das usinas paulistas. “Em momentos de eleições, nenhuma medida estrutural sai do papel e todos querem conversar e se aprofundar nas demandas do setor.”
“Estamos em um processo difícil nos últimos quatro anos”, lamenta Sérgio Luiz Leite, presidente Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimifar, ligada à Força Sindical). Para o sindicalista, nem tudo é culpa da política econômica ligada ao mercado de combustíveis. “É preciso levar em conta que o setor está se rearranjando. Houve uma consolidação importante, com aquisição de empresas com grandes companhias estrangeiras, o que naturalmente enxuga a estrutura.”
A ponderação vem acompanhada de outra lembrança: a de que cabe também à indústria automotiva o desenvolvimento de melhores tecnologias para a usabilidade do combustível da cana. Apesar da crise, os trabalhadores que permaneceram no setor sucroalcooleiro conseguiram um aumento real que variou entre 1% e 1,5% na última campanha salarial – vantagem que, até o momento, os funcionários da indústria automotiva ainda não conquistaram.
Leite lembra que há um agravante na demissão dos trabalhadores do setor: são pouco qualificados. “Uma parte desse pessoal é do campo e não temos conseguido grandes negociações em termos de qualificação”, diz. O termo de compromisso no corte de cana acabou no ano passado e pouco foi o avanço em termos de qualificação profissional.
Mesmo com paliativos, recuperação ainda é uma realidade distante para Melquíades Araújo, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo (Fetiasp). “Não há recuperação. Há uma tímida melhora com ações como a adoção do Reintegra e a melhora na mistura de etanol na gasolina”, diz. “Mas o preço da gasolina continua a sufocar o etanol.”
No setor de alimentos, por exemplo, o aumento real para os trabalhadores ligados ao açúcar não chegou a 1% e as empresas continuam a fechar. “Os sindicatos locais procuram fazer acordo, mas são 60 empresas no País em recuperação judicial. Não sobra muita escapatória.”
Fonte: Trianon Trade
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