Mais de 650 profissionais participaram do Seminário; a casa cheia é um reflexo da preocupação do setor sucroenergético com as pragas que assolam os canaviais e as perdas de produtividade que ocasionam
Uma década difundindo informações sobre tecnologias de combate e manejo de pragas em cana-de-açúcar. Para comemorar essa data importante na história do INSECTSHOW (Seminário sobre Controle de Pragas da Cana), a programação da décima edição do evento abordou os principais problemas relacionados a pragas e doenças que atingem os canaviais do País.
Promovido pelo Grupo IDEA, o Seminário ocorreu quarta e quinta desta semana, no Centro de Convenções de Ribeirão Preto, reunindo mais de 600 pessoas, entre produtores de cana, profissionais de usinas, pesquisadores, consultores e executivos de empresas de defensivos. Para o engenheiro agrônomo Dib Nunes, presidente do Grupo IDEA, é fundamental a adoção de tecnologias e a atualização de conhecimentos frente a um problema que impacta diretamente a rentabilidade das empresas do setor, que são as pragas. “Sempre há espaço para melhoria do combate e do manejo.”
Os palestrantes enfocaram vários temas importantes para a cultura canavieira nessa área, como a identificação de novas espécies de cigarrinha-das-raízes, combate à broca, à mosca do estábulo e aos namatóides, controle biológico, inovações no manejo. Mas a praga que foi a grande estrela do Seminário foi o Sphenophorus Levis.
PREJUÍZOS CADA VEZ MAIORES - Um bicho microscópico, que tem trazido dor de cabeça cada vez maior aos produtores de cana-de-açúcar do Centro-Sul do País, principalmente no Estado de São Paulo. “Não por acaso que nesta edição do seminário as maiores preocupações dos pesquisadores e produtores se voltaram para o Sphenophorus Levis, uma nova e resistente praga que cresceu assustadoramente depois que a cana passou a ser colhida sem a queima prévia”, explicou Dib. De acordo com ele, esta praga disseminou-se para praticamente todas as regiões produtoras do Centro-Sul do Brasil em menos de 6 anos, desde a constatação da primeira grande infestação na região de Piracicaba. “A falta de cuidados com as mudas e a movimentação das máquinas na colheita disseminaram esta praga com extrema rapidez”, salientou.
Para o consultor Newton Macedo, o Sphenophorus pode ser considerado o “mal do século” para a cana-de-açúcar. Não é à toa que ele fez essa afirmação. Na sua fase larval, a praga aloja-se na base dos colmos, impedindo seu desenvolvimento e multiplicando com extrema facilidade. Ele coloca centenas de ovos na região das raízes. Estes ovos eclodem durante todo o ano. Em menos de um ano, atingem o nível de dano, necessitando do uso de inseticidas nas soqueiras, cujo controle raramente atinge 70%. “Por outro lado, se o produtor não tomar providências de imediato para controlar a praga, o canavial se acaba já no ano seguinte”, frisou Dib.
Segundo Paulo Roberto Artioli, diretor da Tecnocana e produtor de cana na região de Lençóis Paulista, essa praga já chegou a estar presente em 80% dos canaviais da região. "Estou horrorizado com ela, pois o Sphenophorus vem crescendo cada vez mais. Já vi canaviais em que tive que reformar no terceiro corte. Isso é um grande prejuízo". Para o controle, Artioli recomenda o controle mecânico na reforma, rotação de cultura e controle químico no plantio e na cana soca. "Temos, ainda, que lembrar do preparo do solo. O sucesso está intimamente ligado a esse fator".
Maior grupo sucroenergético do país, a Raízen também tem enfrentado grandes problemas com esse pequeno inimigo. Segundo Rodrigo Vinchi, gerente Agrícola Corporativo da companhia, R$ 40 milhões por safra são gastos pela Raízen para conseguir conviver com o complexo de pragas encontradas nos canaviais do Grupo, sendo que dois terços desse montante são gastos no combate do Sphenophorus.
As áreas da Raízen infestadas com a praga saíram de 56 mil hectares em 2005/06 para 195 mil hectares em 2014/15. As unidades que mais sofrem com o problema estão situadas no centro do Estado de São Paulo. "Não podemos bobear, senão perdemos para a praga", disse Vinchi. A empresa tem feito muitos experimentos a fim de aprimorar o entendimento sobre o Sphenophorus, visando conhecer melhor a flutuação das populações da praga. Em São Paulo, somente a usina Junqueira e as unidades da região de Araçatuba estão livres da praga.
"Ainda não estamos conseguindo segurar esse bicho. Não estamos contendo a propagação da praga, temos apenas conseguido conviver com ela. Mas o pior é que não estamos convivendo muito bem, o bicho está tendo vantagem." Diante do problema, a Raízen adotou a política de eliminar radicalmente todas as áreas com infestação da praga, dentre outras estratégias. Inclusive com aplicação de produto químico incorporado ao solo.
Segundo Dib, os danos causados por esta praga podem chegar a 80%, sendo que nas grandes infestações abreviam a vida útil dos canaviais. Já é enorme a quantidade de canaviais que são reformados no segundo ou terceiro cortes, causando enorme prejuízo aos produtores.
Newton Macedo afirmou que o controle desta praga vai exigir muita atenção e maiores investimentos desde o preparo do solo. “Novos produtos e dosagens mais elevadas dos inseticidas tradicionais, bem como novos métodos de controle, foram apresentados neste evento e os resultados são animadores, porém custosos. Se nada for feito, simplesmente perderemos nossos canaviais”, complementou o pesquisador. A praga é muito agressiva e nem mudanças climáticas ou inimigos naturais conseguem detê-la. “O setor tem agora um enorme desafio pela frente.”
NOVAS ESPÉCIES DE CIGARRINHAS – Os participantes do Seminário, além de muitas informações sobre o Sphenophorus, também acompanharam outras importantes discussões ao longo dos dois dias do evento. Uma das questões abordadas foi o impacto do sistema de colheita mecanizada sobre a população de pragas, aumentado a incidência de algumas delas, como a cigarrinha-das-raízes, devido à alteração no microclima.
Uma notícia relacionada a essa praga chamou a atenção dos participantes do evento. Foram identificadas novas espécies de cigarrinha-das-raízes em canaviais do Centro-Sul. Segundo Leila Dinardo, pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas, as suspeitas de novas espécies da cigarrinha surgiram alguns anos atrás após relatos de dificuldade de controle da praga em algumas regiões. O instituto realizou trabalho com as usinas, coletando amostras de 188 unidades.
As novas espécies também podem ser manejadas com o uso do controle biológico e inseticidas químicos, já utilizados pelo setor. “A resposta do controle químico e biológico é a mesma para essas novas espécies, porém, vamos analisar agora se a resposta das variedades é diferente”, relatou Leila. A descoberta resultará em novas pesquisas para identificar se essas duas outras espécies de cigarrinha recém identificadas quebram a resistência das variedades de cana-de-açúcar já disponíveis.
UMA DÉCADA CONTRIBUINDO COM O SETOR - No encerramento do 10º. INSECTSHOW, Dib Nunes destacou que excelentes trabalhos sobre o controle da broca da cana e cigarrinha-das-raízes foram apresentados pelos palestrantes e profissionais das multinacionais do agronegócio. “Não fosse pela ajuda das multinacionais, que desenvolvem produtos específicos para o controle das novas pragas, o setor estaria em situação muito mais difícil”, afirmou Dib Nunes. Ele também agradeceu a presença dos 653 participantes de 14 estados brasileiros, representando 158 empresas sucroenergéticas, além dE inúmeros produtores independentes e outros profissionais do setor.
“O INSECTSHOW chega à sua décima edição com uma extraordinária marca de mais de 5 mil participantes registrados em todas as edições. Este evento, organizado pelo grupo IDEA, se tornou referência para o controle de pragas na cultura da cana-de-açúcar no País. O setor, apesar dos problemas com pragas e preços do etanol, tem estrutura forte e está pronto para voltar a crescer e superar suas dificuldades com os primeiros sinais de melhoria do mercado”, concluiu Dib.
Fonte: CanaOnline
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