Plantio Direto (PD) é a forma de manejo de água e solo mais recomendada por proporcionar satisfatória economia e melhorias sociais e ambientais, conservar e melhorar o solo, a biodiversidade e a disponibilidade e qualidade da água. Nenhuma outra forma de manejo apresenta tantos benefícios. Apesar disso, ao longo da última década, áreas em que o PD é adotado têm apresentado problemas como compactação do solo, erosão hídrica, quebra da estabilidade da produtividade e aumento do custo de produção, como observaram pesquisadores da Embrapa. Grande parte dessas dificuldades pode ser atribuída ao manejo inadequado, por desconhecimento ou simplificação do conjunto de procedimentos.
O pesquisador Luís Carlos Hernani, da Embrapa Solos (Rio de Janeiro,RJ), revela que, dos 32 milhões de hectares que adotam essa prática, em apenas 2,7 milhões de hectares são seguidos corretamente os preceitos preconizados pelos pesquisadores. Entre as recomendações, estão, principalmente, ausência de preparo do solo, rotação de culturas e cobertura permanente do solo.
"Infelizmente, muitos agricultores optaram por uma 'simplificação' das técnicas e estão adotando o cultivo continuado de monoculturas sobre cobertura formada por espécies espontâneas; a semeadura em linha reta e, muitas vezes, morro acima e abaixo; e até a eliminação de terraços", diz o pesquisador. Essas provavelmente são as causas para os problemas que vêm ocorrendo em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Hernani diz ainda que a monocultura de soja/pousio ou sucessões contínuas do tipo soja/milho safrinha ou soja/milheto ocupa a esmagadora maioria da área total com plantio direto. Aqui vale também estabelecer uma distinção entre sucessão e rotação de culturas. Enquanto na sucessão se tem, numa mesma gleba, o cultivo de duas culturas simultaneamente (soja/milho safrinha, por exemplo); a rotação implica, para uma mesma gleba, o cultivo de espécies diversificadas ao longo do tempo, uma após outra (soja/milho safrinha/algodão em sequência).
O professor Ricardo Ralisch, da Universidade Estadual de Londrina (PR), explica que pode não ser fácil a adoção da rotação. "Não há dúvida de que essa prática torna a atividade agrícola mais complexa. Ela exige, em alguns casos, maior investimento, o que dificulta o planejamento da atividade por ausência completa, por exemplo, de programas regionais de oferecimentos de sementes", explica Ralisch, que também é secretário executivo da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha e Irrigação – FEBRAPDP.
Portanto, a adoção correta do PD passa necessariamente por adequada capacitação, por questões de infraestrutura e de disponibilização de insumos e, sobretudo, por motivação econômica.
Hernani explica que deve haver consciência na sociedade de que a atividade agrícola gera serviços que interessam à qualidade de vida de todos e, para ser sustentável deve considerar também os aspectos sociais e ambientais. "Para gerar produtos diversificados e de boa qualidade e ainda conservar e melhorar o ambiente, a agricultura conservacionista baseada no PD deve focar a promoção da gestão da terra, visando maximizar biodiversidade, atividade fotossintética, raízes ativas/efetivas e a cobertura do solo ", define Hernani.
Atualmente, para o agricultor em busca de ajuda sobre a melhor aplicação do PD, a saída é procurar a empresa estadual de extensão rural.
O plantio direto como deve ser
O plantio direto é uma técnica agrícola em uso no Brasil desde os anos 1960. No início, ele era baseado em dois requisitos básicos: não revolvimento do solo e cobertura permanente do solo. Um terceiro item, a rotação de culturas, só começou a ser adotado em meados dos anos 1980. A adoção do PD pelos produtores parecia fácil. De fato, devido principalmente aos impactos conservacionistas e econômicos, a área com essa forma de manejo cresceu rapidamente, atingindo, em 2012, cerca de 32 milhões de hectares no País.
Nas áreas onde o plantio direto tem sido adotado de acordo com os princípios preconizados, percebe-se a melhoria da fertilidade do solo, a eliminação quase total da erosão, a melhoria do uso e da produção de água, boa produtividade das culturas e estabilidade econômica da propriedade.
José Eloir Denardin, pesquisador da Embrapa Trigo (Passo Fundo,RS), lembra que o plantio direto é adequado às regiões de clima temperado. Para regiões de clima tropical e subtropical, deve ser percebido como um sistema, chamado Sistema Plantio Direto, assumindo seis preceitos da agricultura conservacionista: mobilização de solo apenas na linha de semeadura; manutenção dos restos culturais na superfície do solo; diversificação de espécies em modelos de rotação e/ou consorciação de culturas; adoção do processo colher-semear; depósito de resíduos de plantas no solo em quantidade, qualidade e frequência compatíveis com a demanda biológica do solo; cobertura permanente do solo.
Certificação de Plantio Direto
Definir índices para qualificação do manejo em propriedades que adotam o PD pode ser um caminho para manter a eficiência do sistema. Para isso, a rede de pesquisa SoloVivo, composta pela FEBRAPDP, representante dos produtores que praticam PD, a Itaipu Binacional e a Embrapa Solos, está trabalhando no desenvolvimento de ferramentas para a avaliação do PD, tanto em propriedades rurais como nas microbacias hidrográficas.
"Creio que o caminho é esse", diz Ricardo Ralisch. "Seria ótimo estabelecer um sistema de certificação do PD para todo o País e atividades agropecuárias. Isto exigirá ampla discussão e validação científica, nos moldes do que propõe o SoloVivo".
Pelo projeto, serão acompanhadas doze pequenas bacias hidrográficas – nas quais o manejo é realizado predominantemente em PD –, seis com bom manejo e outras seis com manejo inadequado, localizadas em cinco estados (GO, MS, PR, RS e SP), durante quatro anos.
O trabalho vai permitir o desenvolvimento de ferramentas para avaliar o desempenho técnico do manejo do solo e da água em estabelecimentos rurais e microbacias hidrográficas. Também oferecerá recomendações, para cada região, de arranjos de produção agropecuários, que atendam aos preceitos e consolidem o Sistema Plantio Direto. Todas as ações e etapas de desenvolvimento e validação dos produtos do SoloVivo contarão com a participação de agricultores.
O projeto SoloVivo reúne 57 pesquisadores de 21 instituições atuando em rede. Com ele, espera-se orientar políticas de avaliação do desempenho ambiental na utilização agrícola das terras, bem como fomentar iniciativas para que as ferramentas desenvolvidas no âmbito deste projeto sejam usadas como base de programas governamentais. Uma das políticas públicas a serem beneficiadas é o Plano Agricultura de Baixo Carbono - ABC. Seria possível alcançar a adoção de 8 milhões de hectares até 2020 com adoção plena da agricultura conservacionista com base no Sistema Plantio Direto. É o desafio.
Fonte: Embrapa
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