Com preços acessíveis, equipamentos começam a se tornar ferramenta para aumentar a produtividade no campo
Em rasantes sobre as lavouras, veículos aéreos não tripulados (vants), também chamados de drones, começam a se tornar ferramenta para aumentar a produtividade no campo. Hoje no mercado com preços mais acessíveis, sobrevoam o campo e funcionam com se fosse um olhar apurado sobre a propriedade. Com câmeras potentes, permitem, por exemplo, identificar pragas e doenças precocemente.
Desenvolvidos para uso militar, esses equipamentos passaram a ser testados no Brasil nos últimos anos por centros de pesquisa e grandes grupos do agronegócio. Mais recentemente, começaram a despertar a curiosidade de produtores. Concorrendo com imagens de satélite e fotografias aéreas feitas de avião, têm a vantagem do custo menor e mais agilidade no resultado.
Os equipamentos mais modernos conseguem fazer imagens com qualidade superior à de satélites, ajudando a localizar deficiências no plantio a tempo de correção. É o olho do agricultor por cima da lavoura – explica Lúcio Jorge, que coordena as pesquisas com drones na Embrapa Instrumentação, com sede em São Carlos (SP).
Ao captar imagens aéreas, o equipamento ajuda a localizar falhas na plantação, áreas com excesso ou falta de água ou onde é preciso utilizar defensivos agrícolas. As fotografias feitas pelo drones são utilizadas para formar um mapa da lavoura. Há 15 dias, um dos drones da Embrapa sobrevoou, em caráter experimental, 150 hectares de uma plantação de algodão do grupo gaúcho SLC Agrícola, em Cristalina (GO). As mais de 2 mil fotos tiradas serão processadas em formato de mosaico e avaliadas para verificar se há alguma deficiência nutricional nas plantas.
— Estamos avaliando o quanto isso é eficiente para se observar diferentes problemas — ressalta Ronei Sana, coordenador de agricultura de precisão da SLC Agrícola.
Ao mesmo tempo em que centros de pesquisas e empresas testam os drones, produtores curiosos também começam a se aventurar na tecnologia. O agricultor Rogério Ceolin, 38 anos, comprou um equipamento há dois meses, por R$ 5 mil, para fotografar as obras nos silos da propriedade, em Tupanciretã.
— Não tinha muita ideia de como funcionava. Depois, vi que não era tão difícil de operar e já encomendei um software para programar o equipamento — explica o agricultor.
A ideia é usar o drone para monitorar áreas de lavouras e identificar problemas de fertilidade.
– Fazer imagens por satélite é muito caro — justifica Ceolin, que investiu mais R$ 2 mil em um software para o drone.
Senai incentiva projeto de empresa de canoas
Desde março, a gaúcha Creare Sistemas desenvolve projeto em conjunto com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para utilizar drones em lavouras de cana-de-açúcar. Com o equipamento, câmera fotográfica de alta resolução e software de análise de imagens, a ideia é ter informações detalhadas nas diferentes fases de plantio – identificando a sanidade dos canaviais e a presença de ervas daninhas ou pragas no campo.
- É uma ferramenta que poderá aumentar a produtividade das lavouras ao apontar falhas ou imperfeições no plantio que o olho não tem capacidade de enxergar nem mesmo de perto — explica Paulo Renato Jotz, diretor de marketing da Creare, sediada na Ulbratech, em Canoas.
Restrições para uso dificultam o avanço
Embora o Brasil seja um dos países pioneiros no emprego de drones, assim como os Estados Unidos, a falta de regras específicas para esses aparelhos dificulta o avanço da tecnologia. Existem cerca de 15 fabricantes brasileiros desses equipamentos, e a venda é permitida, mas o uso tem restrições por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Para operar um drone, o produtor ou a empresa interessada devem solicitar o Certificado de Autorização de Voo Experimental (Cave), que permite operações de testes, sem fins lucrativos e somente em áreas rurais.
A regulamentação específica para operação de veículo aéreo não tripulado no Brasil ainda está em processo de elaboração pela agência. Enquanto isso, os pedidos para esse tipo de operação são avaliados caso a caso, dependendo do uso pretendido pelo solicitante. Conforme a Anac, somente sete equipamentos estão autorizados a operar no país – nenhum para agricultura, até o momento.
As regras têm como objetivo zelar pela segurança na aviação e evitar, por exemplo, que o equipamento caia na cabeça de alguém ou que cause algum acidente no espaço aéreo, explica Lucas Henrique Farracini, tecnólogo em manutenção aeronáutica e bolsista da Embrapa.
– Mais de 95% dos drones em operação no país não têm autorização – calcula o pesquisador, ressaltando que a Embrapa opera cinco drones com pedidos de uso já encaminhados à Anac.
Fonte: Zero Hora
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