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Os efeitos das mudanças climáticas na agricultura

Abortamento de flores do café , abortamento da gravidez das porcas, morte de frangos, redução da produção de leite são alguns dos efeitos causados pelo aumento da temperatura, que segundo o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas/SP) Eduardo Assad, tem sido uma tendência muito forte nas últimas décadas. “Os dados recentes que nós tivemos acesso nos últimos anos mostram que a região do Cerrado brasileiro, por exemplo, já teve um aumento da temperatura média de quase 2,5º nos últimos 60 anos, isso é muito forte, pode não parecer, mas é muito forte”, comentou.

De acordo com o pesquisador, o alerta para o aumento constante da temperatura e suas consequências não é de agora e teve início no final dos anos 80, quando os cientistas começaram a ter acesso aos primeiros dados sobre o assunto. Na agropecuária, os impactos já estão sendo sentidos. No Estado de São Paulo, por exemplo, parte da área destinada para a plantação de café já foi perdida, e no lugar dele está sendo plantada a seringueira. Para Assad, a maior preocupação é continuar no estado de inação, ou seja, nada ser feito para contornar a situação.

Os cenários apresentados por cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas mostram como a planta reagiria numa situação mais pessimista, em que a temperatura da Terra é elevada a 4°C e numa mais otimista com aumento de 2°C. Em todos os modelos a produtividade da planta é afetada. “O aumento da temperatura interfere no mecanismo fisiológico da planta que chama evapotranspiração, então altera partes da fotossíntese da planta porque a assimilação de água fica complicada. São quatro os fatores que alteram a fotossíntese: a temperatura, o CO2, água e luz. (...) então todos esses fatores alterados provocam uma mudança na produtividade das plantas”, explicou.

A saída, segundo o pesquisador, é investir em pesquisa e se antecipar aos problemas que virão com as mudanças do clima. O melhoramento genético e os sistemas integrados de produção são soluções para enfrentar o problema e são práticas dominadas não só pela Embrapa, mas pelas instituições que fazem parte do Sistema nacional de Pesquisa Agropecuária. “A Embrapa deve lançar brevemente uma soja que tem tolerância à deficiência hídrica. Já foi demonstrado que existe um gene que você coloca na soja e ele tolera mais esses veranicos maiores que estão acontecendo. O Instituto Agronômico do Paraná, o IAPAR, já lançou quatro cultivares de feijão tolerantes a temperaturas um pouco mais elevadas. Não aborta a flor”, exemplificou.
Assad ressaltou também a importância dos sistemas integrados de produção. “Só o Brasil tem isso! É muito interessante porque além de mitigar você está adaptando. Aquela cultura que estava ali sozinha não consegue produzir, mas integrada com esses sistemas, integração lavoura-pecuária, integração lavoura-pecuária-floresta, sistemas agroflorestais, essa cultura pode manter o seu potencial produtivo nesses 60 milhões de hectares que nós temos aí.”


Fonte: Embrapa