Em um dos estudos mais completos já realizados sobre a área sucroenergética (açúcar, etanol e energia), o centro de pesquisa Markestrat identificou que esse segmento cresceu expressivos 44,2% nas últimas cinco safras, mas mostrou também que a elevação dos custos de produção ofuscaram essa robustez. Apontou, ainda, que a crise que afeta usinas não respinga somente nos fornecedores de cana ou nas indústrias que fornecem equipamentos, mas também nas vendas de insumos como fertilizantes e defensivos.
O mapeamento, feito a pedido da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), dos representantes dos fornecedores de cana (Orplana) e da indústria de equipamentos (Ceise-BR), identificou que o Produto Interno Bruto (PIB) do segmento atingiu na última safra, a 2013/14, US$ 43,3 bilhões, ante os US$ 30,1 bilhões calculados na primeira versão do estudo, referente ao ciclo 2008/09. O açúcar foi o item dessa indústria que mais contribuiu para esse resultado, ao gerar na última safra US$ 18,036 bilhões - US$ 6,9 bilhões no mercado interno e US$ 11,109 bilhões no mercado externo.
"Eu diria que o setor sucroalcooleiro ficou maior, mas pior. Os custos cresceram muito", resumiu um dos coordenadores do estudo, o professor titular da USP de Ribeirão Preto, Marcos Fava Neves.
Ele explicou que os preços do etanol e do açúcar - que aumentaram no período 37,5% e 35,9%, respectivamente - e os maiores volumes vendidos foram determinantes no desempenho do PIB. Mas ele observa que o PIB isolado não explica a situação pela qual atravessa o segmento. É preciso contrapor nesse raciocínio os custos de produção agrícola, que subiram 33,5% no período, a US$ 34,3, e os industriais, que tiveram um incremento de 28% na mesma comparação, para US$ 43,4 por tonelada. A condição reflete a queda de 7,7% da produtividade agrícola nos últimos cinco ciclos e do recuo de 6,2% do rendimento industrial - medido por quilos de ATR (Açúcar Total Recuperável) por tonelada de cana.
Apesar da maior área plantada com cana-de-açúcar em 2013/14, na comparação com 2008/09, o gasto com insumos, como fertilizantes e defensivos, diminuiu no segmento. O mapeamento da Markestrat apontou movimentação financeira do segmento de insumos agrícolas de US$ 9,3 bilhões, 6,1% menos que há cinco safras. "Isso indica que está havendo uma deterioração dos índices de qualidade", avaliou Neves, que realizou o estudo por três meses em conjunto com uma equipe de dez pesquisadores também ligados à USP.
Apesar de ser um maior pagador de impostos do que há cinco safras - foram recolhidos ao longo da cadeia em 2013/14 US$ 8,5 bilhões e impostos, 16,4% mais do que em 2008/09 -, o setor sucroalcooleiro, marcado por um forte movimento de mecanização agrícola, apresentou uma expressiva redução da massa salarial. Na safra passada, a soma de todos os salários pagos por esse setor foi de US$ 4,13 bilhões, uma queda de 130% em relação aos US$ 9,5 bilhões pagos em 2008.
Esse quadro reflete a queda no número de trabalhadores formais dessa indústria. Nas usinas de açúcar, foram mais de 64 mil postos de trabalho perdidos, nas destilarias de etanol, foram 20 mil postos fechados, conforme a Markestrat.
Em números de empregados, o setor sucroenergético representou em 2013 1,3% dos empregos formais do Brasil, o que equivale a 613,235 mil postos de trabalho. Considerando os empregos sazonais, gerados no pico da colheita, o número de pessoas que passaram pelo setor na safra 2013/14 sobe para 988,256 mil pessoas.
O estudo, apresentado nesta semana à frente parlamentar do setor sucroenergético, aponta problemas que clamam por políticas públicas, como ausência de uma política energética que incentive a produção de combustíveis renováveis, e as questões que demandam de ações da iniciativa privada, como falta de renovação de canaviais e uso de variedades de cana em "proporções inadequadas". Todos os valores em reais foram convertidos ao dólar comercial (médio) de venda da safra 2013/14 (R$ 2,25)
Fonte: Valor
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