Seria preciso operar com sobra igual a 5% da energia consumida no País; hoje, a margem extra está limitada a aproximadamente 2% do consumo, considerado inseguro.
Pelas normas de segurança, o sistema elétrico brasileiro precisa trabalhar com sobra de energia equivalente a 5% da eletricidade consumida no País. Para alguns especialistas, um piso de 3% ainda é aceitável. O fato é: sempre deve haver uma porção extra à disposição do sistema. Sem ela, um pico repentino de consumo pode criar uma sobrecarga e simplesmente desligar todo o País. Neste momento, porém, essa porção extra estratégica está bem abaixo do recomendável. Na terça-feira, 3, dia do apagão, equivalia a cerca de 2% do consumo.
"Não como justificar esse patamar tão baixo - há algo muito estranho na geração de energia que precisa ser investigado", diz um especialista do setor que prefere não ser citado. Fica mais complicado ainda entender a situação quando se leva em conta que o Brasil tem capacidade instalada de 120 mil megawatts e o pico de consumo foi de pouco mais de 80 mil MW. Ou seja: haveria uma sobre de 40 mil MW. "Deveria ser moleza ter energia extra, mas não está sendo", diz o especialista.
Essa porção extra de energia que fica de sobreaviso é, tecnicamente, chamada de energia girante ou operacional. Quem conhece o setor diz que não é normal que essa reserva se mantenha em níveis tão baixos.
"Quando a energia girante cai, automaticamente o ONS escala geradores para oferecer o volume adequado: não é comum o sistema trabalhar com reservas abaixo do previsto - elas devem ser iguais ou maiores ao recomendado", diz um ex-técnico do ONS que prefere não ser identificado. "Se isso está ocorrendo, é porque o sistema opera apertado, apesar de o governo negar."
A queda da reserva girante aparece nos próprios boletins do Operador Nacional do Sistema (ONS). A oferta foi adequada até meados de janeiro. A partir da segunda quinzena começou a cair (veja gráfico).
Para piorar, essa distorção ocorre em um momento crítico, quando o consumo bate recordes e é importante ter energia de sobreaviso para suportar um inesperado pico de demanda ou uma falha técnica na transmissão ou em alguma subestação.
Para os especialistas, há duas hipóteses para a queda na oferta dessa energia estratégica. A primeira tem relação com a queda no volume de água nas barragens das usinas. "Com um volume menor de água, a potência cai", diz uma especialista.
A segunda hipótese leva em conta a sobrecarga no parque térmico. As térmicas precisam de paradas técnicas, para manutenção, a cada 8 mil horas de funcionamento. Um grande número deles pode estar entrando em manutenção agora.
"Não há clareza sobre o que está ocorrendo", diz outro especialista. Procurados pela reportagem para comentar o problema, as assessorias do ONS e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) comunicaram que seus porta-vozes estavam em reuniões e não poderiam se manifestar até o fechamento desta edição
Fonte: O Estado de S. Paulo
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