Em 18 de outubro, Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da maior trading de açúcar do mundo, a Copersucar, havia tirado folga para acompanhar de perto o dia do filho, que se casaria naquela noite. Mas às 8 horas um telefonema do trabalho lhe deu a notícia de que o terminal de açúcar da companhia em Santos (SP), que quatro meses antes havia sido ampliado e modernizado, estava em chamas. Pouco depois das 9 horas, Pogetti e o presidente da companhia, Paulo Roberto de Souza, já sobrevoavam o local, incrédulos diante do maior incêndio já registrado no segmento.
Em quarenta minutos, o fogo se alastrou aos três armazéns de açúcar bruto da empresa, nos quais estavam estocadas 180 mil toneladas do produto. Esteiras e elevadores foram danificados. As estruturas para exportação de açúcar branco (ensacado), por outro lado, ficaram intactas, bem como as de concreto.
Ao Valor, a companhia informou que suas perdas ficarão em R$ 150 milhões com o incêndio. O valor considera os gastos para limpar e reconstruir o terminal e inclui despesas não indenizadas pelo seguro. Para cobrir parte dessa perda, um aumento de capital de R$ 100 milhões deve ser aprovado pelas usinas sócias em assembleia no próximo dia 17.
Passados 40 dias do desastre, a Copersucar, que deve faturar R$ 25,7 bilhões nesta safra, informou que contratou terminais portuários de terceiros, em Santos e Paranaguá (PR), para exportar todo o açúcar previsto desta e da próxima temporada, o equivalente a um volume próximo de 10 milhões de toneladas da commodity. Já começou também a embarcar o açúcar remanescente do incêndio, e a reconstruir parte de um dos armazéns danificados.
Assim, o plano de exportar 7 milhões de toneladas do produto em 2013/14 está mantido, garante o presidente da companhia. Paulo Roberto de Souza diz que até outubro, 3,8 milhões de toneladas haviam sido embarcadas, e que o plano é exportar as 3,2 milhões de toneladas restantes até março de 2014. A maior parte desse volume (2,5 milhões) seguirá por terminais de terceiros e a diferença, 700 mil toneladas, no próprio terminal da trading.
Antes de serem reconstruídos, os armazéns têm que ser esvaziados. Estão sendo retirados tanto açúcar queimado quanto "água com açúcar" resultante da operação de combate ao incêndio. Todos os dias, 15 caminhões saem carregados do terminal com água açucarada, o que deve continuar ocorrendo até o fim deste mês. O material é usado por usinas para fertiirrigação e por empresas de ração, como ingrediente.
As montanhas de açúcar a granel depositadas no local foram queimadas por cima. Em baixo dessa "crosta" tostada, muito açúcar foi preservado. A companhia estima que 70% das 180 mil toneladas de açúcar estocadas no terminal no dia do sinistro estão em condições de serem exportadas.
Haverá, no entanto, um desconto no preço desse açúcar, explica Souza. O valor da carga, que perdeu qualidade devido à umidade vinda da água usada no combate ao fogo, está sendo renegociada com os clientes, grande parte refinarias no Oriente Médio. A cada mil toneladas embarcadas, é feito um teste para verificar a qualidade do produto. "As refinarias vão pagar pela quantidade de açúcar contida na carga, não pela água", esclarece Souza.
O processo de "salvamento" do açúcar é simples, explica o executivo. A parte derretida é retirada e o açúcar não afetado é carregado diretamente no navio, sem nenhum processo de secagem. Em um dos terminais, a reconstrução já começou. O denominado "Armazém XXI" deve voltar a operar no início de janeiro. Dentro dele havia 76 mil toneladas de açúcar no dia do incêndio. Em torno de 56 mil toneladas foram "salvas" e já exportadas.
O presidente da Copersucar explica que a moega, responsável por receber o açúcar que chega por ferrovia, também não foi danificada. Com isso, a principal demanda para o funcionamento desse armazém é por esteiras e elevadores novos. "A agilidade de nossos fornecedores foi determinante nessa velocidade de recuperação. Três semanas após o incêndio, já estávamos recebendo equipamentos novos", diz Souza. Uma cobertura provisória na estrutura também foi feita.
A partir janeiro, esse primeiro armazém estará operando com metade de sua capacidade original, ou seja, cerca de 250 mil toneladas de açúcar por mês. Anualizada, essa capacidade seria equivalente a 2 milhões de toneladas. A partir de maio, diz Souza, a operação desse armazém é suspensa para sua completa reconstrução. No seu lugar, entram em cena os outros dois armazéns recuperados (o 20/21 e o 11). Juntos, eles terão capacidade conjunta para embarcar 4 milhões de toneladas por ano, praticamente metade da capacidade total do terminal antes do incêndio - entre 8 milhões e 10 milhões de toneladas.
O terminal com todo seu potencial de embarque só estará concluído em fevereiro de 2015. A reconstrução custará à empresa R$ 100 milhões, um quarto do total de R$ 400 milhões investidos desde 1996 para construir a infraestrutura portuária.
A tragédia também estancará no curto prazo o ímpeto de crescimento da trading, que vinha de estratégia agressiva de originação de açúcar de não-sócios. Em 2014/15, a empresa prevê embarcar, a princípio, um pouco menos de açúcar bruto do que na atual safra: em torno de 6,5 milhões de toneladas.
Mas a própria safra de cana no ano que vem não será maior do que esta, explica o presidente do conselho de administração da Copersucar. Além do mais, Pogetti afirma que a empresa está sendo cautelosa, diante do desafio logístico que se colocou à companhia. "Não tem sentido originarmos mais para exportar em terminal de terceiros", afirma o executivo do conselho.
O planejamento feito até agora, afirma Pogetti, dá à companhia a segurança de que conseguirá embarcar em seu terminal 4 milhões de toneladas de açúcar bruto no ciclo 2014/15. As outras 2,5 milhões de toneladas ainda vão ser escoadas por terminais já contratados.
Essa "terceirização" vai gerar perda de eficiência logística. Pogetti calcula que, o que será embarcado fora do terminal próprio, significará um custo 10% maior em frete e elevação portuária. Ele se refere à necessidade de transportar mais açúcar do que o desejado para o porto de Paranaguá - que é mais distante das usinas de São Paulo. Ainda, de carregar mais açúcar por rodovias, em vez de ferrovia. "Haverá impacto para as margens da empresa, no entanto, ainda não sabemos exatamente quanto"
Fonte: Valor
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