Na tentativa de reconstruir as pontes com representantes do agronegócio, temerosos da aliança com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PSB), o governador de Pernambuco e pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB), tem prometido mais poder ao Ministério da Agricultura em um eventual governo e vendido a imagem de mediador capaz de resolver os conflitos entre ambientalistas e ruralistas.
Em reunião com entidades de peso do agronegócio na segunda-feira, ao perceber a desconfiança dos presentes, o pernambucano sugeriu divulgar uma carta-compromisso, com "propostas claras do que pretende fazer", para quebrar as resistências do setor. Nas palavras do governador, seria uma reedição da "Carta ao Povo Brasileiro", desta vez voltada aos agricultores e pecuaristas.
A Carta ao Povo Brasileiro original foi assinada em 2002 pelo então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva para reafirmar o compromisso de que não provocaria ruptura na política econômica desenvolvida pelo governo Fernando Henrique Cardoso e, com isso, afastar os temores de crise.
Para recuperar a simpatia dos produtores, Campos busca o apoio de pessoas influentes no meio. O governador tem pedido auxílio a técnicos com credibilidade no setor para formatar um plano de governo e apresentá-lo a líderes rurais. Na lista dos que tem ouvido com frequência, além de políticos com influência no setor, estão três ex-ministros da Agricultura: Roberto Rodrigues (governo Lula), Alysson Paulinelli (governo Ernesto Geisel) e Francisco Turra (governo Fernando Henrique Cardoso).
Rodrigues, que foi colega de Campos, então ministro da Ciência e Tecnologia, diz que o pernambucano o procurou para saber como foi a reação à aliança com a ex-ministra do Meio Ambiente. "Eu disse para ele, com toda clareza, que o setor reagiu muito mal porque tem ressalvas a ela", afirma. O governador pediu, então, que o ex-companheiro organizasse reuniões com entidades para que pudesse se explicar e colher opiniões.
A primeira foi na segunda-feira, em São Paulo. Logo no início, para quebrar as resistências, Campos apresentou-se como o candidato a presidente do PSB, e não Marina - postura que o governador tem evitado em público para não melindrar a nova aliada. "Foi uma coisa que eu tinha colocado pessoalmente para ele: você precisa deixar claro quem é o candidato, quem é que vai tomar as decisões, e foi o que ele fez", diz Rodrigues, em relato confirmado por três participantes da reunião.
O pernambucano, porém, não esquivou-se de responder sobre a aliada e defendeu a ex-ministra das críticas de que era intransigente e radical. "Acho que a Marina tem razão em alguns casos, mas nenhum argumento é absoluto. Assim como vocês também estão certos em outros pontos. O que é preciso é chegar a um meio termo que contemple todas as posições", disse, segundo relatos.
A defesa da aliada serviu para vender a imagem de bom negociador. Rodrigues relatou que, durante o governo Lula, tinha dificuldade em convencer o Ministério do Meio Ambiente, gerido por Marina, a aceitar produtos transgênicos. Campos, na época também ministro, intermediou as negociações entre ambos e ajudou a produzir a legislação atual sobre o tema - elogiada pelo agronegócio.
O pessebista, que ainda está mais numa fase de consultas do que de promessas, também traçou os primeiros compromissos para o setor. Ouviu dos ruralistas críticas de que o Ministério da Agricultura não tem peso no governo Dilma Rousseff e que técnicos com experiência estão sendo trocados por quadros políticos. Em resposta, prometeu que a Pasta terá peso central nas decisões de seu governo e vai atuar como articuladora de políticas públicas.
"A solução dos problemas não está no Ministério da Agricultura. A logística, por exemplo, que todo mundo sabe que é um problema, está com Transportes e Portos. As questões relativas a reflorestamento, com o Meio Ambiente. As fundiárias, com o Desenvolvimento Agrário. O crédito rural, com BNDES, Banco do Brasil e Caixa. Os instrumentos estão espalhados por vários lugares que não se comunicam", diz Rodrigues.
Campos destacou, ainda, que adotará "comitês de busca" para fazer as nomeações do governo e para as agências reguladoras. Segundo o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP), influente no agronegócio de São Paulo e que participou da reunião a convite de Rodrigues, os comitês são um modelo adotado nos Estados Unidos que ele diz ter replicado em Pernambuco. "Um grupo de caça-talentos procura técnicos com experiência e boa formação para compor o governo", diz.
Além de quebrar resistências, a reunião rendeu frutos imediatos. Hoje o governador participa de café da manhã na Associação Rural Brasileira (ARB), em São Paulo, com o tema: "O papel estratégico do agronegócio para o país e seu peso para a eleição de 2014". O convite foi feito após o encontro de segunda-feira pelo presidente da ARB, Cesário Ramalho, que é só elogios ao governador.
"Temos uma boa sinergia com o Eduardo, ele era um alento na eleição. Ficamos completamente preocupados quando foi anunciada a aliança, sempre tivemos imensas dificuldades de relacionamento com a Marina", afirma Ramalho. "Mas o governador foi bastante explícito de que busca o apoio de vários segmentos e, como grande negociador que é, tem capacidade de fazer a ponte entre o agronegócio e os ambientalistas."
A agenda com o agronegócio deve se intensificar ainda mais. Campos articula almoço com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e encontro com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), maior entidade do ramo no país. Dia 29, vai falar para cinco mil produtores rurais em evento da Federação da Agricultura do Paraná.
Fonte: Valor
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