Por Fabíola Gomes e Roberto Samora
A discussão do aumento da mistura de biodiesel no diesel em 2014 ganhou força dentro do governo, enquanto a indústria do setor diz ser capaz de atender tranquilamente uma eventual nova demanda, tanto do ponto de vista da oferta de matéria-prima quanto da capacidade industrial instalada.
O aumento da mistura, que sairia dos atuais 5 por cento de biodiesel no diesel (B5) para 7 por cento (B7) no próximo ano, ainda reduziria a necessidade de importações do combustível pela Petrobras, cujos resultados vêm sendo afetados por compras do combustível no exterior a valores mais altos que os de venda no mercado interno.
Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que o aumento da mistura está sendo avaliado pelo Palácio do Planalto, sem dar detalhes.
"A nossa perspectiva é que já em janeiro poderia ter um aumento de mistura, as condições são atendidas tanto do ponto de vista de matéria-prima quanto de capacidade industrial", afirmou o assessor econômico da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Leonardo Zilio.
A estimativa de consumo de biodiesel no Brasil este ano, com o B5, é de 3 bilhões de litros. Com o B7, poderia chegar a 4,2 bilhões de litros em 2014, já considerando a maior demanda pelo biocombustível e um crescimento do consumo de diesel, segundo entidades ligadas à indústria.
A atual capacidade de produção do país é de 7 bilhões de litros de biodiesel, de acordo com a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), com base nas 78 usinas registradas na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Com relação à matéria-prima, a soja responde por 75 por cento do total de biodieselproduzido no país.
Num cenário em que a totalidade do biodiesel adicional seja produzido a partir da soja, seriam necessários de 8 milhões a 9 milhões de toneladas para atender a mistura maior, segundo especialistas, ou o equivalente a 10 por cento do volume da última colheita. A confirmação de uma safra recorde no Brasil em 2014 permitiria a mudança sem maiores problemas em termos de oferta.
Espera-se que a nova safra de soja, ainda sendo plantada, possa crescer em 6 milhões de toneladas ante a passada, segundo previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), para 88 milhões de toneladas, um crescimento que garantiria boa parte da demanda adicional por soja gerada por um B7.
"Como se tem uma produção interna de soja ascendente e uma ampla capacidade ociosa, o impacto do aumento da mistura acaba sendo minimizado", comentou o analista Aedson Pereira, da consultoria agrícola Informa Economics FNP.
Além da soja, outros óleos e gorduras podem ajudar a garantir o crescimento da demanda gerada pela mistura maior, como sebo bovino e semente de algodão.
Preparação
Se não há preocupação do ponto de vista da oferta, seria importante para a indústria saber logo se a mistura maior vai começar a valer em 2014, para que o setor possa se organizar, disse o assessor econômico da Abiove. "Quanto antes programar as operações, mais estável tende a ser o processo", afirmou Zilio.
Isso num contexto que aponta o Brasil como o maior exportador global de soja. Uma nova mistura tende, pelo menos, a limitar exportações dessa matéria-prima do país.
O mercado de biodiesel é regulado no Brasil. As vendas do biocombustível de janeiro e fevereiro deverão ser programadas por meio de um leilão governamental previsto para a primeira semana de dezembro.
Assim, uma decisão do governo sobre uma mistura maior teria que acontecer antes disso.
Inflação e Petrobras
Embora o biodiesel seja mais caro que o diesel, a Abiove tem estudo que estima um impacto mínimo na inflação. O aumento no custo da cesta básica não chegaria a 20 centavos de real, enquanto no valor da passagem de ônibus, por exemplo, seria menor que 1 centavo de real.
"Existe um impacto inflacionário, mas é ínfimo", disse Zilio, acrescentando que uma mistura maior de biodiesel traz benefícios como a menor emissão de poluentes, além de colaborar para a redução de importações pela Petrobras.
Do total de diesel comercializado pelo país de janeiro a agosto, de 38,4 bilhões de litros, 7,2 bilhões de litros referem-se ao produto importado, segundo a Abiove.
Isso tem machucado as contas da Petrobras, com prejuízos seguidos na área de Abastecimento em função da defasagem nos preços de venda do diesel no Brasil em relação ao mercado internacional.
Segundo especialistas, com um B7, a importação de diesel da Petrobras cairia na proporção do aumento da produção de biodiesel. E a estatal teria redução de despesas de cerca de 2 bilhões de reais ao ano, considerando a diminuição das compras externas, segundo o assessor econômico da Abiove.
"Quando falamos que os interesses do país estão muito alinhados com esta decisão (de elevar a mistura), certamente falamos sobre a necessidade de importar diesel", afirmou o presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Ferrés.
"Nós ainda temos importado muito diesel do mercado internacional. Então é uma conta que tem se que observar", concordou Pereira, da Informa Economics FNP.
Fonte: Reuters
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