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Cana ganha espaço no Centro-Oeste | Assovale - Associação Rural Vale do Rio Pardo

Cana ganha espaço no Centro-Oeste


O avanço do plantio da cana-de-açúcar para os estados do Centro-Oeste do país, principalmente Mato Grosso do Sul e Goiás, é um "terreno fértil para problemas socioambientais", advertem pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp), que estudam o desenvolvimento e a expansão recente dos canaviais e seus efeitos sobre a região. Atraídas por incentivos dos governos locais, 38 usinas de açúcar e álcool se instalaram em Goiás nos últimos anos, enquanto outras 24 já operam em Mato Grosso do Sul. Juntos, os dois estados concentram 15% das 400 unidades no país e já são, respectivamente, segundo e terceiro maiores produtores de cana e de etanol do país, atrás de São Paulo.

Em torno de cada planta instalam-se extensos canaviais, seja por meio de aquisições de terras pelas empresas ou pelo arrendamento para o plantio. Além do potencial de risco que a cultura de cana representa à disponibilidade de água — na região mais central do país a cultura já está utilizando irrigação, o que deve aumentar nos próximos anos com o crescimento da produção —, seu avanço empurra as pastagens mais ao norte, pressionando ainda mais o desmatamento da Amazônia, mostra o estudo, que tem como coordenador o professor Jurandir Zullo, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp.

— Muitas áreas na região têm necessidade ou recomendação de irrigação. Vai haver uma competição com o uso urbano e industrial da água nesses estados — afirma Zullo.

De imediato, alertam os pesquisadores, a cana, junto com o avanço recente da soja e do milho, já reduz drasticamente a produção de alimentos tradicionais da região como o arroz e o feijão, "com riscos à segurança alimentar da população". O arroz teve redução de cerca de 370 mil hectares e o feijão, de 7 mil hectares, a maior parte para abrigar novas plantações de cana, ou, no caso do arroz, servindo de pastagens para atender à migração das fazendas de gado. Já as áreas de pastagem natural tiveram mais de 4 milhões de hectares substituídos pela cana.

— Diferentemente da produção de gado, que se desloca para os estados do Norte, o arroz e o feijão, que são culturas tradicionais, não migraram — diz Vivian Capacle, pesquisadora do Instituto de Economia da Unicamp.

Pantanal e Cerrado
Em Goiás, a redução da área plantada dessas duas culturas foi bem mais acentuada. Em 1985, a área colhida com arroz e feijão foi, respectivamente, de cerca de 693 mil hectares e 266 mil hectares. Em 2006, caiu para menos de 50 mil hectares com arroz e de 6 mil hectares com feijão.

— Há ainda a retirada da vegetação original, e no Centro-Oeste estão presentes, além da Amazônia, os biomas do Pantanal e Cerrado, que também apresentam índices de supressão — adverte a pesquisadora.

— É uma falácia dizer que a monocultura está tomando o espaço de outras culturas aqui no Mato Grosso do Sul e em Goiás. Aqui temos espaço para todos — defende Roberto Hollanda, presidente da Biosul, associação que reúne os produtores de bioenergia.

Segundo ele, hoje há 8 milhões de hectares só no Mato Grosso do Sul em pastagens subaproveitáveis que podem ser utilizados para outras culturas. Hollanda diz ainda que a pecuária está incorporando tecnologia, melhorando as pastagens e integrando a lavoura à produção de gado, o que acaba liberando grandes áreas de pastagens para outras cultura, inclusive a da cana.


Fonte: O Globo

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