Taxa de retorno para o investidor privado é um desafio para o Nordeste, em comparação a outras regiões mais desenvolvidas
Por Angela Lacerda
A mudança no financiamento da infraestrutura do Brasil é motivo de forte preocupação para as regiões menos ricas, como o Nordeste. "No século 20, ela foi feita pelo poder público, mas quem vai fazer a do século 21 é o poder privado", alertou a economista Tânia Bacelar, especialista em Planejamento Global. "Essa é uma tendência que veio para ficar e quando olho os primeiros mapas das concessões para o setor privado, elas se concentram no Sul e Sudeste."
Para Bacelar, é um movimento natural, pois o setor privado busca investir onde encontra taxas de retorno mais elevadas, o que gera desvantagem competitiva para as regiões como o Nordeste.
"Ou se tem uma política de concessão diferenciada ou se tem de trazer investimento público para essas regiões", defende a ex-secretária de Planejamento e da Fazenda do governo pernambucano, diante da guinada do governo federal em entregar a infraestrutura em concessão para o setor privado por falta de recurso para bancar estas obras. "As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste precisam muito de infraestrutura e não têm as mesmas taxas de rentabilidade do Sul e Sudeste."
O Nordeste vive um novo patamar de desenvolvimento e já não é o retrato da miséria e dos retirantes da seca, mas ainda é grande o hiato da sua infraestrutura em relação ao Sul e Sudeste, afirma Bacelar, ao destacar que a mudança registrada na região tem muito mais a ver com políticas públicas nacionais do que regionais.
Exemplifica com a extensão da previdência para a zona rural (com a Constituinte de 1988), o Bolsa Família, o aumento do salário mínimo, a interiorização das escolas técnicas e universidades. "São políticas nacionais que tiveram impacto maior na região diante do maior contingente de pobres."
Participação. Sem desmerecer as conquistas e recursos recebidos pela região, a economista observa que mesmo grandes investimentos feitos no Nordeste têm porcentual pequeno em relação ao todo - especialmente Sul e Sudeste.
A Companhia Petroquímica Suape, por exemplo, representa investimento de R$ 1,6 bilhão, quando os investimentos nos principais projetos da petroquímica do País totalizam R$ 22,8 bilhões.
O Nordeste também quase inexiste no mapa do etanol e do biodiesel brasileiro: tem R$ 140 milhões de um total de R$ 17,4 bilhões.
Ao lado da ausência de políticas públicas regionais, Tania Bacelar observa que a guerra fiscal trouxe outro grande prejuízo para o Nordeste: a perda da visão regional, da sinergia.
"Hoje é muito mais forte a estratégia de cada governador querer que um investimento venha para o seu Estado, todo mundo quer um porto e uma ferrovia".
Ela observa que os Estados pobres renunciam a suas receitas, já pequenas, para grandes empresas.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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