Por Geralda Doca, Eliane Oliveira, Danilo Fariello e Ramona Ordoñez
Com disparada do dólar, defasagem nos combustíveis vai a 30%
O governo deve autorizar um reajuste dos combustíveis ainda este ano, atendendo, em parte, ao pedido da Petrobras, que, com a disparada do dólar, está com as contas cada vez mais pressionadas pela defasagem nos preços internos. A presidente Dilma Rousseff reuniu-se na quarta-feira com a presidente da Petrobras, Graça Foster, para discutir o assunto, horas antes de Graça embarcar para a China. Segundo uma fonte técnica da estatal, internamente, a companhia realiza estudos projetando uma alta de, no mínimo, 6% no preço dos combustíveis em suas refinarias.
— O reajuste é inexorável, o problema é quando, devido ao seu impacto na inflação — explicou a fonte.
De acordo com o especialista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, o preço nas refinarias da Petrobras acumula defasagem de 28% em relação ao preço internacional. Segundo técnicos do governo, a defasagem estaria em 30%. O reajuste que o governo deve conceder, porém, seria de apenas um dígito.
Pessoas próximas às conversas entre governo e Petrobras dizem que uma das propostas é autorizar o aumento em duas parcelas, deixando a segunda parte para 2014. A principal preocupação é com o impacto na inflação, que vem sendo pressionada por outros aumentos e pode fechar o ano acima do teto da meta, de 6,5% ao ano. Por outro lado, o governo está sensível à situação da Petrobras, fortemente afetada pelo descasamento entre os preços internos e internacionais dos combustíveis. O câmbio valorizado tornou a situação mais delicada, já que encarece as importações da estatal, que pressionam as contas da empresa e a balança comercial. Além disso, afeta a dívida da companhia.
Segundo o jornal Valor Econômico, o governo vai parcelar o reajuste para evitar que o impacto do reajuste seja sentido com muita força pelo consumidor.
Câmbio pressiona inflação pelo IPCA-15
Mesmo sem o reajuste dos combustíveis, a alta do dólar já se faz sentir na inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial no país, subiu 0,16% em agosto, ritmo maior que a taxa de 0,07% de julho, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. No ano, a alta é de 3,69% e, nos últimos doze meses, de 6,15%. Economistas apontam que o impacto do câmbio no IPCA de agosto será maior.
— Já se sente alguma pressão de câmbio em itens como leite, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, cuidados pessoais e farinha de trigo. Mais pressões devem vir pela frente — afirma o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal.
Pelo IPCA-15, os bens comercializáveis (que podem ser importados ou exportados e, por isso, são os que mais refletem o impacto do câmbio) subiram 0,29% em agosto, ante deflação de 0,02% em julho. Os eletrodomésticos tiveram inflação de 1%, frente a deflação de 0,30% em julho. TV, som e informática subiram 0,77%, contra deflação de 0,54% em julho. Já os eletroeletrônicos tiveram variação de 0,90%, ante deflação de 0,40% em julho.
De acordo com a consultoria Rosenberg&Associados, a alta dos eletroeletrônicos é “o sinal mais claro até agora do efeito da desvalorização cambial sobre os preços ao consumidor”, embora possa ter reflexo da recomposição parcial do IPI da linha branca. O dólar também encareceu os cuidados pessoais. A inflação foi de 0,42% no subgrupo em agosto, frente a deflação de 0,08% em julho. Em alimentos, o impacto aparece em leite e derivados, segundo Leal, com alta de 3,13% em agosto e 2,54% em julho.
A projeção da LCA Consultores é que os efeitos do câmbio se tornem mais intensos no fechamento do IPCA de agosto. Já o banco Brasil Plural revisou de 6,2% para 6,5% a projeção para 2014, exatamente por causa do dólar. A estimativa para 2013, no entanto, se manteve inalterada em 5,8%.(Colaborou Lucianne Carneiro)
Fonte: O Globo
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