“A energia do xisto é um desafio enorme para todas as energias renováveis do mundo, e não apenas para Brasil e o etanol. E também grande ameaça para o mundo”, sintetiza a Presidente da UNICA
Por Clivonei Roberto
Desafio. É assim que Beth Farina, presidente da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), define o momento atual das energias renováveis, em que o gás de xisto (ou shale gas) se consolida como importante alternativa energética para o globo, como vem sendo verificado especialmente nos Estados Unidos. “A energia do xisto é um desafio enorme para todas as energias renováveis do mundo, e não apenas para Brasil e o etanol. E também grande ameaça para o mundo”, sintetiza Beth. Ela lembra que havia um horizonte de vida para o combustível fóssil, o petróleo, e a cada vez que se aproximava desse limite havia o aumento do preço relativo desse combustível, viabilizando ainda mais o desenvolvimento do combustível renovável. O que acontece com as novas descobertas, seja de pré-sal ou de novas tecnologias, que permitem explorar gás de xisto ou petróleo de novas áreas? “Estende o horizonte e reduz o preço relativo. Isso significa que vai ter mais tempo e será mais barato criar gases de efeito estufa. O efeito climático é muito negativo. Teremos um imediatismo de que a energia fóssil ficou mais barata e teremos mais tempo para estragar o meio ambiente.”
Mas, nessa nova conjuntura, Beth faz um alerta: “isso significa que todas as políticas de energia renovável estão sob mira. Nos Estados Unidos, se vê que há uma pressão contrária ao mandato de energias renováveis em combustíveis. Na Europa, há hoje uma discussão de diretivas que pretendem reduzir o ritmo disso. No Brasil, o pré-sal alivia uma pressão de segurança energética”, diz.
Segundo ela, em contrapartida, existe também uma consciência crescente a respeito do papel que as energias renováveis têm que desempenhar para que se elimine uma ameaça, plenamente reconhecida, do efeito dos gases de efeito estufa. “Depende muito da vontade das pessoas de reconhecer seu problema e resolvê-los e não deixar para o futuro.”
Revolução? - Para Luis Roberto Pogetti (foto), presidente do Conselho de Administração da Copersucar, o fato é que o shale gas está trazendo novo panorama ao mundo energético. “Mas ao mesmo tempo me faz lembrar o ciclo de crescimento entre 2004 e 2008 do setor sucroeneregético, quando todo mundo pensava em investir em usina e ter recurso em cinco anos. Da mesma forma que os resultados do shale gas estão aí, há discussão sobre consequências ambientais e continuidade desse patamar de custo.” Parece que se está vivendo um pouco da euforia da novidade sem entender a sustentabilidade no longo prazo. É um ciclo muito curto dessa novidade para se ter análises conclusivas.
“Ainda assim, vejo que energia nunca é pouca. Ter sobra de energia é bom para o mundo. E vejo no mundo a necessidade de ter, na matriz energética, o papel preponderante da energia limpa”, afirma Pogetti. Segundo ele, tem que ter na matriz energética mundial uma alternativa que limpe a sujeira que o combustível fóssil provoca, independente do sucesso do shale gas. “Acho que não é uma concorrência predatória. Tem que haver no mundo espaço da energia limpa e acredito nisso.”
Para o consultor e economista José Roberto Mendonça de Barros, o setor sucroenergético tem boa perspectiva no médio e longo prazo, mas vida difícil no curto prazo. O primeiro obstáculo, no seu ponto de vista, é com relação à revolução representada pelo shale gas, que muda a perspectiva energética mundial. “ Acho que tudo indica que essa revolução do gas natural não vai ficar só nos Estados Unidos. Terá efeito em outros lugares.”
O Gás de Xisto no Brasil – Segundo o engenheiro Márcio Zimmermann, secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, há posicionamento otimista no governo federal quanto ao gás de xisto, ou shale gas. “Os órgãos internacionais fazem estimativas promissoras sobre essa fonte energética. Seria como multiplicar por 15 vezes as reservas atuais. No Brasil, o primeiro leilão é para novembro desse ano.” As principais áreas de exploração no País são as bacias do São Francisco, Parnaíba, dos Parecis, do Paraná e o Recôncavo Baiano. Nessas áreas, segundo ele, o gás pode ser utilizado para produção de energia ou, conforme a viabilidade, pode ser transportado via gasoduto.
Mas a aposta do País no shale gas não é contrária à matriz energética baseada na energia renovável? Zimmermann explica que o Brasil tem um plano bem definido voltado às fontes limpas. “Quando se pega o plano 2021/22, o Brasil avança. Prevemos o crescimento da atual produção do etanol para o patamar de quase 70 milhões de litros de etanol. Isso é praticamente três vezes a atual produção. Isso significa que os produtos da cana vão continuar dando participação renovável à matriz. A oferta vai triplicar. Quando olho em hidrelétrica, ainda há perspectiva de continuar desenvolvendo até a próxima década.”
Ele sublinha que o mundo desenvolvido tem uma matriz renovável de 7%, ante a 42% ou 43% do Brasil (em 2013). “Isso porque tivemos muita térmica acionada neste ano, já que antes era de 45%. Esperamos chegar em 2022 com a energia renovável representando entre 45% a 47%, esse ritmo não vai baixar.”
Fonte: Universo Agro
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