André Cabette Fábio
Na metade do ano que vem, o bagaço e a palha da cana-de-açúcar irão se transformar em matéria-prima para a produção de combustível, conhecido no mercado como "etanol de segunda geração".
Atualmente, o etanol disponível nos postos de gasolina é obtido por meio da fermentação do açúcar contido na cana. O bagaço da planta é usado apenas por algumas usinas para gerar energia elétrica, e parte da palha fica na lavoura, como fertilizante para a terra.
Com esse reforço de matéria-prima, será possível elevar a produção total de biocombustível em 30% sem precisar aumentar o cultivo de cana-de-açúcar, calcula Robson Freitas, diretor de negócios em novas tecnologias do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). Localizado em Piracicaba (a 160 km de São Paulo), é considerado um dos maiores institutos de pesquisa em cana-de-açúcar do mundo.
Depois de sete anos de estudo, o centro será responsável pela produção do novo biocombustível --que ainda não tem data definida para chegar aos postos. A produção inicial será de 3 milhões de litros de etanol de segunda geração (também chamado de celulósico) por ano, na usina São Manoel (foto), localizada em município paulista de mesmo nome.
Preço ainda não foi definido; desempenho do carro não muda
Ainda é cedo para estimar o preço do novo biocombustível, diz Freitas, mas ele diz acreditar que será competitivo. "Certamente, não será maior que o etanol convencional, cotado entre R$ 1,60 e R$ 1,80 por litro", diz.
Segundo o professor Silvio Shizuo, da Fundação Educacional Inaciana (FEI), o etanol de segunda geração não tem chances de interferir no desempenho dos carros. "O combustível não vai exigir maior potência dos motores porque é similar ao convencional", diz.
Para Shizuo, a produção do biocombustível mostra a importância do país no reaproveitamento de matérias-primas disponíveis no campo. "E sem a necessidade de aumentar um hectare de plantio de cana", afirma.
Projeto teve R$ 230 milhões do BNDES
Há sete anos, o Centro de Tecnologia Canavieira estuda essa tecnologia, que sempre se esbarrou em um percalço: encontrar uma enzima capaz de quebrar a celulose, que fica escondida no bagaço da cana, em moléculas de glicose, essencial para a produção do biocombustível. "Sem essa transformação não há etanol", diz Freitas.
A produção do CTC é fruto de uma parceria com a Novozymes, uma das maiores produtoras de enzimas do mundo. Há três anos, a empresa trabalha na seleção da enzima.
O projeto contou com a liberação de R$ 230 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem um programa de apoio a projetos que tragam inovação no uso do bagaço ou da palha da cana.
Fonte: Portal Uol
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