A mecanização do plantio e da colheita de cana tem responsabilidade sobre a tendência de alta nos custos de produção
por Clivonei Roberto
Crise de custos. Essa é uma dor de cabeça que tira o sono de muitos produtores de cana-de-açúcar e se agrava pelo fato de que os produtos do setor não estão num patamar satisfatório de remuneração.
A mecanização do plantio e da colheita tem responsabilidade sobre essa tendência de alta. Luiz Antonio Bellini, coordenador do Gmec (Grupo de Motomecanização do Setor Sucroenergético) e consultor, destaca que a colheita mecânica provocou uma série de problemas na lavoura e o plantio mecanizado ainda não está estruturado, sem contar que os custos com mão de obra subiram por conta da legislação.
Otávio Tufi, consultor da Datagro Alta Performance, concorda que os produtores precisam equacionar a produtividade com redução de custos. “Temos que usar nossos insumos de maneira racional, usar nossas maquinas e equipamentos de maneira inteligente, para produzir com objetividade e qualidade e a custo baixo.”
Mas Tufi faz uma ponderação. Ele reconhece que o setor enfrenta uma inflação interna, com aumento dos custos com insumos, máquinas e mão de obra. “Só que é mais impactante sobre o custo de produção a queda da produtividade física e em ATR das áreas.”
O ano que vem é o prazo máximo para as usinas de São Paulo acabarem com a colheita com queima nas áreas mecanizáveis. “As empresas estão cumprindo o cronograma estabelecido. Acredito que isso não será problema. O setor tem que se mecanizar e pronto”, diz Bellini.
Porém, para ele, o problema é outro: o setor ainda não se adaptou à nova realidade da mecanização, que começou a ganhar corpo há dez, quinze anos. “A agroindústria canavieira ainda não encontrou o ponto de equilíbrio entre mecanização, qualidade e custos.” Nesse caso, o produtor fica sob alguns dilemas: se quer produção, compromete qualidade; se baixa a produção, eleva custos. A situação é complexa.
Bellini tem percebido que grandes grupos estão enfrentando custos elevados, embora verifique que muitas pequenas empresas, que fazem trabalho competente, estão confortáveis, diferente de outras épocas. “Quem fez a tarefa direito nos últimos anos, não descuidou da lavoura, não cometeu exageros e se não está alavancado, relativamente se encontra saudável. Ouvíamos no passado que os pequenos deixariam de existir, mas hoje vemos que muita empresa pequena é quem tem oxigênio.”
PLANTIO
A mecanização do plantio é um dos maiores desafios do setor, principalmente no que diz respeito à redução de custos. “Hoje o plantio mecânico está mais caro que o manual por conta principalmente do custo de muda. Hoje o mecanizado está ao redor de R$ 400 a R$ 500 mais caro que o plantio manual. A muda é o insumo mais caro”, diz Tufi.
Para ele, o plantio mecanizado da cana é totalmente dominado se for bem feito. “Precisamos de planejamento linear do uso de nossos equipamentos para podermos, com isso, reduzir o custo fixo da frota para que possamos usá-los durante a safra e a entressafra.” Ele afirma que o plantio manual precisa ser banido. “Senão, vamos precisar ter mais gente na usina durante a entressafra do que na safra. A colheita mecanizada já está chegando aos 90%, enquanto o plantio está patinando por volta dos 45%. Não está balanceado.”
Mas Bellini é incisivo ao analisar o processo de mecanização do plantio dos canaviais. “Não temos um plantio mecanizado, mas um plantio semimecanizado. Isso porque o processo depende demais da mão de obra. A qualidade do plantio mecanizado depende de quem está acompanhando”, salienta Bellini, lembrando que tem sido criticado por essa postura, mas esta preocupação é tão presente que os problemas das máquinas deram espaço para o surgimento da distribuidora de toletes, que não cobre o sulco para que os funcionários da usina possam se assegurar da qualidade do plantio. “É bom por um lado, mas absurdo do outro. O rebolo de cana é indisciplinado. Por conta disso, ou se joga cana demais ou cana de menos. Tinha que ter evolução.”
O coordenador do Gmec está confiante em uma tecnologia que surgiu, as mudas pré-brotadas. “É grande promessa, pois é uma alternativa em que vai se plantar gema a gema”, diz Bellini, que dispara: “alguma coisa tem que ser feita sobre o desenvolvimento do plantio, porque o modelo que está aí de plantadora não é eficiente. Não acredito nele.”
Para Tufi, a muda pré-germinada é mais uma inovação tecnológica que pode beneficiar a qualidade de plantio no setor, mas esta alternativa ainda está cara se considerar o custo de uma muda, considerando que se gaste 13 mil mudas por hectare para plantar. “Mas é uma luz no fim do túnel. Todo o setor torce para que tenha sucesso.”
Fonte: Universo Agro
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