A indústria brasileira cortou mais de 120 mil postos de trabalho no mês de junho sobre maio e foi a maior responsável pelo aumento da taxa mensal de desemprego pela primeira vez depois de 47 meses de resultados positivos, na comparação interanual. O desempenho do setor na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), evidencia desaceleração na criação de vagas, situação "preocupante", na avaliação de técnicos do instituto.
Segundo a pesquisa, na passagem de maio para junho, a taxa de desocupação subiu de 5,8% para 6%. A população ocupada na indústria caiu 3,3% no período; metade dos 120 mil operários demitidos era de São Paulo. "É uma situação preocupante. Com certeza, esse movimento na indústria de São Paulo vai ter um rebate em outras indústrias do país e em outros setores, como o de serviços. A indústria de São Paulo é uma grande consumidora de indústrias e serviços de outras regiões", lembrou Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE. Em relação a junho de 2012, a ocupação da indústria do Rio de Janeiro recuou 7,4%, e no Recife, 7,1%.
Para economistas ouvidos pelo Valor, a queda do emprego industrial sinaliza que o processo de retenção de mão de obra - a despeito dos indicadores fracos de atividade - pode ter começado a se reverter. A taxa de desemprego de 6% em junho, na visão dos analistas, ainda é baixa, mas seu avanço desde o início do ano, ainda que lento, reitera um mercado de trabalho moderado.
A pesquisa do IBGE, diz Mariana Hauer, do Banco ABC Brasil, acende uma luz amarela para a indústria. "O mercado de trabalho reage depois da atividade, com alguns meses de defasagem. Visões que mantínhamos nos meses anteriores, de estagnação, podem passar a não valer mais", afirma ela.
A economista diz ainda que a indústria é um bom termômetro para avaliar a situação do emprego, já que o setor de serviços mantém muitas posições comissionadas, sem salário fixo. Os serviços, completa Mariana, podem ser melhor avaliados pelos números da massa real de rendimentos, que, com base na PME, não teve variação significativa.
Na comparação semestral, no entanto, o emprego e a renda no mercado de trabalho brasileiro avançaram, mas não sustentam taxas de crescimento tão altas como nos últimos anos. A PME mostrou que a taxa de desocupação nas seis regiões metropolitanas contempladas pela análise ficou em 5,7% na média dos seis primeiros meses do ano, contra 5,9% em igual período do ano passado. Já o rendimento real no mesmo período subiu 1,5%, para R$ 1.875. Entre janeiro e junho de 2012, essa alta havia sido de 4,8% em relação aos seis primeiros meses de 2011.
Para Fábio Romão, da LCA Consultores, o resultado se deve a três fatores principais: desempenho modesto do Produto Interno Bruto (PIB), que tem crescido a taxas baixas desde o terceiro trimestre de 2011, corrosão dos níveis de confiança no curto prazo e reflexo da decisão de algumas empresas de demitir parte dos funcionários qualificados que mantinham apesar da retração nas margens de lucro.
Romão lembra que, no ano passado, o nível de ocupação subiu 2,1%, com crescimento de 0,9% do PIB. Em 2011, o avanço da população empregada foi semelhante, mas a atividade econômica crescera 2,7%. "Com o processo de formalização do mercado de trabalho, ficou mais caro demitir. A falta de mão de obra qualificada fez com que muitas empresas treinassem seus próprios funcionários", diz.
José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator, aponta para a alta maior pelo terceiro mês seguido da população economicamente ativa (PEA) em relação à população ocupada. Ante junho de 2012, a PEA avançou 0,7%; a população ocupada, 0,6%.
Para ele, a comparação reforça a tese de que há pessoas retornando ao mercado de trabalho, pressionadas pela queda na massa de renda real familiar. "Só não sabemos ainda quem são essas pessoas, se o filho que saiu do mercado de trabalho para aprimorar sua formação ou a mãe que tinha voltado para casa para descansar da jornada tripla", diz o economista.
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