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As fossas marianas do açúcar - Arnaldo Luiz Corrêa | Assovale - Associação Rural Vale do Rio Pardo

As fossas marianas do açúcar - Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar em NY encerrou a semana com ligeira alta de 22 pontos no vencimento outubro de 2013 cotado a 16,28 centavos de dólar por libra-peso. O março/2014 também fechou no positivo, acompanhado do maio e julho do mesmo ano. Depois, só número vermelho até maio de 2016. Lembra quando insistíamos aqui que o spread outubro/março estava excessivamente alto, com taxas de carregamento acima de 13,5% ao ano? Então: ele estreitou agora para 10,7%, mais racional. De 98 pontos de carregamento, caiu para 70, uma variação de 6 dólares por tonelada.

A curva de preços em NY mostrando carrego até março/2014 combinada com o dólar mais forte e a possibilidade de travá-lo via instrumentos financeiros para os vencimentos até o final da safra, mostram uma rentabilidade maior para o açúcar e de certa forma estabelecem um teto na produção de etanol que precisaria melhorar o preço para evitar a migração de mais cana para o açúcar. Em outras palavras, o mix de produção pode ter alcançado seu limite pró-etanol em função da perspectiva de melhor rentabilidade do açúcar ao longo da curva. Açúcares em reais para o próximo ano, apresentam rentabilidade crescente sobre o custo de produção médio, algo em torno de 15 a 19%.

Apesar de o mercado nem se importar com o superávit mundial que encolheu de 9 para 3 milhões de toneladas e as cotações continuaram caindo, fica difícil aceitar que teremos preços a partir de 2014 no nível de 15 centavos de dólar por libra-peso. Clima, falta de investimento, dívida crescente no setor, petróleo acima de 100 dólares o barril, devem alterar o panorama dos fundamentos do açúcar para os próximos dois anos. O mercado fica mais suscetível a coberturas dos fundos se algum fator exógeno chacoalhar o sossego dos vendidos. Estamos perto das Fossas Marianas do mercado, seu ponto mais baixo desde julho de 2010. Assim como lá nas profundezas do Oceano Pacífico, também no mercado de açúcar a vida fica insustentável.

A posição em aberto do início de julho até agora cresceu 42.000 contratos. Gente que vendeu na média a 16,31 centavos de dólar por libra-peso. Parece um pouco vulnerável. Se a volatilidade das opções começar a subir, fique de olho que os fundos que estão vendidos poderão começar a recomprar suas posições.

A moagem publicada pela UNICA acumulou quase 181 milhões de toneladas de cana processada no Centro Sul que, se assumirmos que a safra será de 585 milhões de tonelada, representaria um percentual de 30,94% do total estimado. Nas últimas cinco safras, o percentual de moagem nesse mesmo período comparativamente ao total efetivo daquele ano, variou de 24,10% o mínimo (no ano passado) e 38,73% o máximo (na 2010/2011). O mercado interpretou que o Brasil têm muita cana e continuou sinalizando queda. Se projetássemos a moagem de cana total baseado na média dos cinco anos, chegaríamos a uma moagem no Centro-Sul de 583 milhões de toneladas. Pelo mesmo critério, a produção de açúcar ficaria em 32 milhões de toneladas e a de etanol 25,5 bilhões de litros.

Muitos perguntam se o mercado de açúcar em NY vive o seu momento mais baixista desde a criação do contrato no modelo atual, em 1961. Para tentar responder a essa pergunta, usamos dois critérios: primeiro contar o número de dias em que o mercado fechou em baixa ou inalterado nos 250 mais recentes pregões e, depois, comparar a queda percentual do mesmo período. Nos últimos doze meses o mercado em NY caiu 31,1%, mas este percentual está longe de ser o recorde do contrato, que foi em novembro de 1975 quando a queda em base anual atingiu quase 80% (caiu de 65,20 centavos de dólar por libra-peso para 13,18 em doze meses). Tampouco é a maior queda desde 2000, pois já amargamos um colapso de 49,2% em doze meses em maio de 2007 quando a cotação atingiu 8,65 centavos de dólar por libra-peso comparativamente a 17,03 negociados um ano antes. Portanto, no quesito queda percentual em base anual, o mercado não repetiu as performances drásticas do passado.

E em número de dias que o mercado caiu ou ficou igual num período de um ano? Bem, o recorde dessa performance torturante para os altistas é de 165 dias, ou seja, num período de 12 meses praticamente 2/3 dos fechamentos ficaram no vermelho. Haja fígado para os pobres produtores. Esse recorde, no entanto, pertence ao longínquo maio de 1962 quando a maioria dos executivos do setor ainda não tinha nascido. De 2000 para cá, no entanto, a contagem recorde é de 149 dias (quase 60% dos pregões do ano) em junho de 2007 quando o mercado de açúcar negociava 9,06 centavos de dólar por libra-peso.

E hoje? Bem, meus caros leitores, hoje estamos em 146 dias de preço em queda (ou inalterado) num universo de 250 dias. Ou seja, sob esse critério estamos realmente muito próximos do ápice, ou melhor dizendo, do sopé, do ponto mais baixo dos últimos 13 anos e do recorde anterior de 150 dias, em setembro de 1968. Incrível não?

Por outro lado, do ponto de vista da remuneração do açúcar ao produtor, esse não é o pior momento. Multo pelo contrário. Convertendo os fechamentos do açúcar em NY em reais pela cotação do Banco Central, os valores obtidos pelas usinas (desde que não tenham passivo em dólares) mostra boa rentabilidade vis-à-vis o custo de produção médio. Este ano, por exemplo, a média do açúcar em reais por tonelada é de 703,15 posto usina contra um custo de produção apurado pelo modelo da Archer Consulting de 666,59 reais por tonelada posto usina. O ponto de equilíbrio baseado no fechamento do dólar de sexta-feira é de 15,56 centavos de dólar por libra-peso. Em tese, esse seria o chão do mercado. Mas, com ele, as usinas teriam dificuldade de pagar seus financiamentos.

Curiosamente, fixando o dólar do início do ano e comparando os valores em reais ao longo de 2013, a cotação média ajustada de NY no período é de 17,6850 centavos de dólar por libra-peso contra 17,6700 centavos de dólar por libra-peso no mundo real, mostrando que ambos (câmbio e açúcar) se compensam. Apenas um aparte: esse raciocínio reforça a ideia de que fazer NDF (contrato a termo com liquidação financeira) de açúcar em reais é vantajoso por eliminar o risco de margeamento nas operações com futuros de NY e de dólar .


Fonte: Brasil Agro

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