A presidente Dilma Rousseff (PT) aproveitou ontem sua visita a Pernambuco, Estado governado pelo presidenciável Eduardo Campos (PSB), para se aproximar do setorsucroalcooleiro, o mais tradicional setor econômico da região com o qual seu eventual adversário na eleição presidencial de 2014 tem boas relações.
Para tanto, atendeu uma sugestão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - muito elogiado por ela durante todo o dia de ontem - e incluiu na sua agenda a ida a Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco, cujo presidente também dirige a União Nordestina dos Produtores de Cana.
A justificativa oficial foi de que a visita era um convite do órgão para agradecer a presidente a liberação de R$ 125 milhões em subsídios para os plantadores de cana da região afetados pela seca. Dilma aproveitou e anunciou que o Plano Safra deste ano conterá medidas de combate à seca.
A Medida Provisória (MP) com os valores foi publicada ontem, mas negociada na semana passada com Renan. Em troca, o presidente do Senado acelerou a votação de outra MP, a dos Portos, que teve tramitação tranquila no Senado após duro embate na Câmara no qual governo ficou de um lado e o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ), de outro.
No Recife, Dilma elogiou Renan no evento com os produtores de cana e antes, no batismo de um navio da Transpetro no porto de Suape. "Estamos comemorando o fato de mais um passo ser dado no combate a seca, junto com governador e presidente do Senado, que foi grande defensor dessa medida, grande sensibilizador junto com bancada de Pernambuco e de Alagoas, que é a subvenção para a produção de cana de açúcar", disse.
Depois, no encontro com fornecedores de cana, agradeceu novamente Renan e o deputado Pedro Eugênio (PT-PE). "Devo reconhecer a importância na interlocução do governo dos parlamentares do Senado na pessoa do senador Renan e na Câmara na pessoa do Pedro Eugênio." Na sequência, sem mencionar Eduardo Campos, falou que se tratou de "um processo de articulação do Ministério da Fazenda e o da Agricultura, assim como com o governo do Estado de Pernambuco".
Renan retribuiu: "Sempre tive muita satisfação e orgulho de ter me colocado na sustentação do governo e do desenvolvimento do Brasil. Não haverá solução para no país que não contemple o Nordeste e a presidenta mais uma vez dá demonstração que dá continuidade aos compromissos que Lula assumiu durante seu governo."
Campos falou antes de Dilma e a situação dos fornecedores de cana e a seca deixaram claro algumas divergências entre ambos sobre o melhor caminho para solucionar as eventuais crises decorrentes de ambas. O governador pernambucano usou frases fortes para defender o setor e criticar o desinteresse em nível federal do governo.
"Muitas vezes quando se coloca essa questão em Brasília se imagina que estão se tratando de apaniguados, privilegiados, de meia dúzia que tiveram em outros tempos acesso a crédito e não usaram, ou que tiveram incentivos e não usaram de forma adequada. Essa não é a situação de quem está aqui." Depois: "A gente precisa combater um certo preconceito que há com atividade sucroalcooleira" e "o governo federal até hoje não tem uma porta para esse setor."
Mas o maior contraponto ocorreu após Campos sugerir a retomada de incentivos à produção de etanol como alternativa. "Precisamos ter um olhar sistêmico para deixar com que esse setor floresça de novo, olhando para energia, produzir energia, fazer o programa de álcool com geração de emprego. Hoje é desperdício, a gente queima carvão e óleo diesel."
Ao falar, Dilma, discretamente, o rebateu. "Considero muito importante que tenhamos políticas estruturantes. Isso vale para vocês também. Eu não quero aqui adiantar se vocês vão fazer cogeração [processo de transformação de uma forma de energia em outra], ou se vocês vão fazer outra forma de produção. Até porque a cogeração, mesmo nas áreas mais competitivas, não tem sido extremamente competitiva no que se refere às outras fontes deenergia." Daí em diante, a presidente fez vários elogios aos fornecedores de cana e prometeu medidas estruturantes ligadas mais à garantia da produção do que à alternativas energéticas. "Temos de ter uma política permanente, com a qual nos senhores, em vez de ficarem sobressaltados com os percalços do clima e da flutuação do mercado."
Em Suape, para uma plateia de centenas de operários, ela elencou diversos programas vitrines de seu governo, como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida, e citou dados de geração de empregos e investimentos em educação. Campos, por sua vez, minimizou a participação do governo Dilma no porto. Segundo ele, de R$ 1,8 bilhão investido nos últimos seis anos, R$ 1,3 bilhão é dinheiro do Estado, R$ 300 milhões do governo Lula e R$ 200 milhões no governo Dilma.
Fonte: Valor
16 3626-0029 / 98185-4639 / contato@assovale.com.br
Criação de sites GS3